Ter o direito de nadar entre os 'tubarões' do andebol mundial foi algo conquistado sob a batuta de Paulo Jorge Pereira, o homem que comanda os destinos dos Heróis do Mar desde outubro de 2016.

Sob a batuta do treinador de 54 anos, Portugal tem tido nos últimos anos presença e registos de relevo nas principais provas internacionais, incluindo a inédita presença nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, o sexto lugar no Euro2020 (a melhor classificação de sempre) e o sétimo no Euro2024, na Alemanha.

Depois de um percurso no estrangeiro, nas seleções femininas de Tunísia e Angola e em clubes como Espérance de Tunis, 1.º de Agosto e ASA, além dos espanhóis do Cangas, o antigo adjunto de José Magalhães no Boavista e no FC Porto fez Portugal acreditar que era possível vencer os melhores do Mundo na modalidade.

"Temos de trabalhar melhor e estar mais focados. Se calhar temos de fazer mais coisas do que os outros. E isto não é só no andebol e no desporto, é no país," Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional de andebol

A integração dos luso-cubanos Alexis Borges, Vitor Iturriza, Daymaro Salina e, sobretudo, o malogrado Alfredo Quintana, deu poder defensivo à Portugal e, aproveitando o desenvolvimento europeu de Sporting e FC Porto, com desempenhos sólidos na Liga dos Campeões,  Paulo Jorge Pereira construiu uma seleção capaz de ombrear com as melhores da Europa.

A derrota nos 'play-offs' frente à Sérvia (28-21 e 25-25) que  impediu Portugal de estar no Mundial de 2019, levou Paulo Jorge Pereira a criticar "o estigma da derrota", recusando-se a fazer "o discurso do coitadinho".

2020: um Europeu, 14 anos depois, e melhor prestação de sempre

Os frutos do trabalho desenvolvido foram colhidos no Euro 2020 (alargado de 16 para 24 seleções), onde Portugal alcançou a sua melhor prestação de sempre (6.º lugar), numa prova organizada na Suécia, Noruega e Áustria. Portugal teve como pontos altos os triunfos frente a França (28-25), na primeira fase, depois de já ter vencido os gauleses na fase de qualificação, e a Suécia (35-25) na segunda fase.

O triunfo frente à seleção francesa, por 33-27, em Guimarães mostrava que, com trabalho, se podia vencer os melhores, num agrupamento em que Portugal somou ainda vitórias diante da Roménia (24-19 e 21-13) e à Lituânia (24-23), para chegar novamente à fase final, 14 anos depois.

Na 1.ª fase do Euro, as vitórias frente à França (28-25) e Bósnia-Herzegovina (27-24), e a derrota com a Noruega (28-34) colocaram Portugal na Main Round, onde brilhou com um triunfo diante da Suécia (35-25) e Hungria (34-26), seleções que costumam estar nas decisões em provas de seleções. O terceiro posto nessa fase após derrotas com Islândia (28-25) e Eslovénia (29-24) impediram a passagem às meias-finais. Na disputa do 5.º e o 6.º posto com a Alemanha, os lusos deram luta mas caíram (27-29).

Mundial 2021: presença num Mundial, 18 anos depois... e logo com a melhor classificação de sempre

Melhorando o sétimo lugar de um Europeu, alcançado em 2000, na Croácia, os Heróis do Mar continuaram a sua caminhada de crescimento com resultados fantásticos.

A pandemia de COVID-19 levou a Federação Internacional de Andebol a anular os play-off de apuramento para o Mundial de 2021, atribuindo vagas de acordo com o último Europeu. Assim, o 6.º posto no Euro 2020 deu a Portugal a possibilidade de estar no Mundial do Egipto, 18 anos depois de ter sido anfitrião da edição de 2003.

Os triunfos frente a Argélia (26-19), Marrocos (33-20) e Islândia (25-23) colocaram Portugal na Main Round onde apenas venceu a Suíça (33-29). As derrotas com Noruega (28-29) e França (22-32) impediram Portugal de chegar às meias-finais, mas a história estava feita: melhor classificação de sempre num Mundial, com o 10.º posto alcançado em terras de Faraós, melhorando o 12.º posto obtido na participação anterior.

2021: presença inédita nos Jogos Olímpicos

O crescimento sustentado no trabalho da equipa técnica liderada por Paulo Jorge Pereira era visível. Portugal estava em todas as competições internacionais, mas faltava os Jogos Olímpicos. E no dia 14 de março de 2021, a seleção masculina de andebol conseguiu um dos melhores resultados da sua história, num jogo com uma ponta final digna de Hollywood.

Andebol: As melhores imagens da histórica vitória de Portugal diante da França
Andebol: As melhores imagens da histórica vitória de Portugal diante da França A reação dos jogadores portugueses. créditos: (Photo by Sylvain THOMAS / AFP)

Para se apurar para os Jogos Olímpicos de 2020, realizado em 2021 devido a pandemia de COVID-19, Portugal começou por vencer a Tunísia por 34-27, na primeira ronda. No segundo jogo, derrota com a Croácia por 24-25, num jogo onde os Heróis do Mar estiveram até ao último minuto.

Era preciso vencer a poderosa França em Montpellier para dar vida e cor ao sonho olímpico. Portugal esteve a perder por seis golos, recuperou, lutou taco a taco com a França e nos derradeiros dois segundos, um remate de Rui Silva deu a vitória a Portugal (29-28) para selar o bilhete para Tóquio.

A prestação ficou aquém do esperado, com os Heróis do Mar a perderem nos detalhes. Nos cincos jogos realizados, Portugal venceu o Bahrein por 26-25, mas perdeu com Egipto (31-37), Suécia (27-28), Dinamarca (28-24) e Japão (30-31), ficando assim longe da discussão das medalhas.

2022: Um Europeu para esquecer

2022 trouxe os piores resultados de Portugal em fases finais com Paulo Jorge Pereira. Três derrotas na fase de grupos impediram a equipa das quinas de seguir para a Main Round. Os desaires com Islândia (24-28), Hungria (31-30) e Países Baixos (31-32) deixaram Portugal sem o objetivo traçado.

"É bom sinal estarmos tristes. É sinal que estamos a evoluir. Só nos podemos queixar, de certa forma, de nós próprios", disse o selecionador nacional

Na fase de apuramento, Portugal tinha terminado o seu grupo na liderança com 10 pontos, onde só perdeu com a Islândia (23-32). De resto, venceu os islandeses em casa (26-24), os israelitas (31-22 e 41-29) e os lituanos (34-26 e 30-25).

2023: Segundo Mundial consecutivo

O apuramento para o segundo mundial seguido não foi fácil. Os lusos tiveram de afastar a seleção neerlandesa em Eindhoven, depois de terem perdido o primeiro jogo do play-off em Portimão por três golos (30-33). Os comandados de Paulo Jorge Pereira deram a volta com um categórico 35-28, selando a quinta presença num Mundial, depois de terem participado nas edições de 1997, 2002, 2003 e 2021.

Na prova disputada na Suécia e na Polónia, entre 11 e 29 de janeiro de 2023, Portugal foi 1.º no seu grupo após triunfos contra a República da Coreia (32-24) e Hungria (27-20) e derrota com Islândia (26-30). Na Main Round, a seleção nacional só venceu Cabo Verde (35-23). A derrota com Suécia (30-32) e o empate contra o Brasil (28-28) deitaram por terras as aspirações de seguir para os inéditos quartos de final.

A seleção nacional acabaria no 13.º posto.

2024: Empate amargo retira hipótese de igualar melhor resultado de sempre

O Euro de 2024 não correu de feição para Portugal. Os triunfos com a Grécia (31-24) e Chéquia (30-27) e a pesada derrota com a Dinamarca (37-27) na fase de grupos deixava Portugal obrigado a ganhar mais jogos na Main Round para aspirar os quartos de final.

A fantástica vitória frente a Noruega (37-32) abriam boas perspectivas, consolidadas com o triunfo (33-30) com a Eslovénia. A derrota seguinte diante da Suécia (40-33) ainda deixava tudo nas mãos de Portugal, mas o empate (33-33) diante dos Países Baixos, equipa que tinha perdido todos os jogos na Main Round, deitou tudo a perder. Portugal ficou a um ponto de disputar o jogo de atribuição do quinto e sexto lugares.

"É bom sinal estarmos tristes, por termos ficado em sétimo ou oitavo, que é o segundo melhor resultado de sempre na historia do andebol", Paulo Jorge Pereira

Para a história da oitava presença num Europeu, a terceira seguida, ficava o facto de Portugal ter vencido quatro jogos, empatado um e perdido dois, frente à tricampeã mundial Dinamarca (37-27) e à campeã europeia Suécia (40-33).

Martim Costa aproveitou o palco para brilhar com 54 golos, que lhe valeu o título de Melhor Marcador da prova, empatado com o 'monstro' Mathias Gidsel, da Dinamarca.

2025: Melhor prestação de sempre já está garantido

Depois de ter falhado o apuramento para os Jogos Olímpicos de 2024 diante da Hungria, Portugal está pela terceira vez consecutiva à fase final de um campeonato do Mundo de andebol, em seis presenças.

Martim e Francisco, os irmãos Costa que brilham na Seleção Nacional
Martim e Francisco, os irmãos Costa que brilham na Seleção Nacional Martim e Francisco, os irmãos Costa que brilham na Seleção Nacional créditos: https://x.com/AndebolPortugal/

Até agora não perdeu com ninguém e só não venceu a Suécia nos seis jogos já realizados. Na fase de grupos, triunfos diante de EUA (30-21), Noruega (30-26) e Brasil (30-26). Na Main Round, Portugal empatou com a Suécia (37-37) e venceu a Espanha pela primeira vez (35-29) e o Chile (46-28) para marcar duelo com a Alemanha esta quarta-feira, na sua primeira presença nos quartos de final de um Mundial.

Para já, está garantido o melhor resultado de sempre num campeonato do Mundo.

Portugal tem amadurecido ao ritmo do crescimento de jogadores como Luís Frade (FC Barcelona) e Rui Silva (FC Porto), e da confirmação de valores emergentes como Diogo Rêma (FC Porto), Salvador Salvador e os irmãos Martim e Francisco Costa (Sporting).

Martim Costa, de 22 anos, eleito o melhor jogador jovem da Europa em 2024, surge no Mundial como uma das referências da seleção lusa, após ter sido o melhor marcador do Euro2024, com 54 golos, e de ter integrado o sete ideal da prova.

O aparecimento dos novos valores é sustentado na experiência de outros jogadores, como Fábio Magalhães (36 anos), Pedro Portela (35), António Areia (34) e Victor Iturriza (35 anos) que deverão cumprir na presente edição a sua última participação num campeonato do mundo.

As exibições de Diogo Rema na baliza e de Kiko Costa na frente valeram-lhes as nomeações para Melhor Jovem Jogador do Mundial.