O Campeonato do Mundo de andebol arranca esta quarta-feira e estende-se até dia 29 de janeiro. A maior competição andebolística do planeta será jogada na Polónia e Suécia e marca a quinta presença da seleção portuguesa no mundial da modalidade.
Para aprofundarmos o conhecimento acerca desta Mundial, o SAPO Desporto falou com Nuno Alvarez, 'Master Coach' de andebol, e que passou pela coordenação técnica do Sporting, tendo treinado os escalões de formação do Benfica, assim como as formações séniores de CF Belenenses e Boa Hora. No ano passado, Nuno Alvarez esteve em Israel onde treinou o Maccabi Dimona da primeira divisão.
Como funciona o Mundial?
O técnico começou por explicar como são distribuídas e organizadas as seleções e as diferentes fases por onde terão de passar até à grande final.
"O Mundial será disputado por 32 equipas distribuídas por oito grupos de quatro. Os três primeiros classificados de cada grupo irão disputar o 'Main Round', as restantes equipas disputarão as restantes vagas de classificação entre o 25º e 32 º lugar.
O 'Main Round' consistirá em quatro grupos de seis equipas, onde os dois primeiros passarão aos quartos de final. Cada grupo do 'Main Round' integra o mesmo 1º, 2º e 3º classificado do grupo anterior, os quais transportam o resultado entre si da primeira fase."
Por exemplo: se Portugal, Islândia e Hungria passarem, como se espera, o resultado da primeira fase entre estas seleções conta, indo depois disputar três jogos frente aos apurados do grupo C – provavelmente Suécia, Brasil e Cabo Verde", explica Alvarez.
Aspirações de Portugal
Para Nuno Alvarez, Portugal tem capacidade para melhorar o décimo lugar alcançado no último Campeonato do Mundo. O treinador português enaltece a qualidade e experiência dos jogadores portugueses, muitos deles habituados aos grandes palcos e competições.
"Portugal integra o Grupo D juntamente com Islândia, Hungria e Coreia do Sul (orientada pelo também português Rolando Freitas). Portugal, Islândia e Hungria são os claros favoritos à passagem ao 'Main Round'. Existe a ambição, legítima, de melhorar o décimo lugar alcançado em 2021 no Egito.
Portugal apresenta aos dias de hoje um conjunto de jogadores de enorme qualidade, habituados a jogar Liga dos Campeões ou Liga Europa pelos seus clubes e 8 dos 18 convocados jogam nos principais campeonatos estrangeiros. Trata-se portanto de uma seleção que embora se vá renovando, possui jogadores que jogam nos melhores campeonatos europeus e competições europeias de clubes, assumindo como objetivo mínimo a presença no 'Main Round'.
Assim, reveste-se da maior importância somar o maior número de pontos na fase de grupos para alcançar este objetivo e, se assim for, o cruzamento com as seleções do Grupo C permite aspirar a uma presença nos quartos de final da competição, esse sim, o grande objetivo em cima da mesa", afirma o técnico.
Principais favoritos
Para Nuno Alvarez a lista de principais candidatos à vitória no Campeonato do Mundo é curta mas composta pelas principais potências da modalidade; entre elas está a Dinamarca que procura revalidar o título mundial conquistado há dois anos no Egito.
"Os grandes candidatos são Dinamarca e França, seguidos por Suécia e Espanha. A Dinamarca busca o seu terceiro título mundial seguido. O técnico Nikolaj Jakobsen apresenta uma vez mais uma seleção fortíssima, com muitas e boas opções onde os pontos fracos são difíceis de encontrar. Joga um andebol rápido, imprevisível e entusiasmante.
A França apresenta-se com quatro baixas neste Mundial, uma delas de enorme peso: o lateral esquerdo do Barcelona Timothey N`Guessan. Mesmo assim é um dos principais candidatos à vitória final, guiados por Karabatic, Dika Mem e Vincent Gérard; há que contar sempre com eles.
A Suécia quer aproveitar o fator 'casa' e a embalagem da vitória no Euro2022. A baixa do lateral do Kiel Karl Wallinius (jovem de 23 anos de enorme talento) terá de ser superada através dos desempenhos de Jim Gottfridsson, eleito melhor jogador mundial de 2022, o guarda-redes Palicka e o ponta Hampus Wanne, entre outros.
Por fim, “nuestros hermanos”. Sempre presentes na decisão dos títulos, uma vez mais estarão na luta. Não contarão, com os pontas titulares Aleix Gómez Abello e Aitor Ariño mas Jordi Ribera tem a sua seleção pronta para o ataque ao título mundial, assente na versatilidade defensiva e na influência de jogadores como o guarda-redes Pérez de Vargas, os irmãos Dujshebaev ou Agustin Casado", escreve o técnico luso.
Possíveis surpresas
Para além das crónicas candidatas à vitória final, este Campeonato do Mundo poderá revelar algumas surpresas. Apesar de não identificar um claro 'outsider' que possa envolver-se na luta pelo título mundial, Nuno Alvarez identifica algumas seleções que podem dificultar muito a vida aos principais favoritos.
"Será difícil aparecer um 'outsider' que se apresente como candidato ao título. Dentro dos “não favoritos” devemos ter em conta seleções como a Noruega de Sagosen, Barthold e Bergerud e a Islândia de Palmarsson, Magnusson e Kristjansson. Seleções fortes, com excelentes jogadores e que apresentam um andebol de elevada qualidade. Num dia bom, jogam de igual para igual com qualquer seleção.
Noutro patamar, Sérvia e Eslovénia apresentam equipas recheadas de excelentes executantes e que podem incomodar. Croácia e Egipto estarão neste Mundial enfraquecidas por ausências de peso mas mesmo assim são formações a ter em conta. Quanto aos restantes, existe a expectativa de ver que evoluções apresentam e muita curiosidade para ver Cabo Verde em ação a este nível.", comenta Nuno Alvarez.
Jovens estrelas em ascensão
O Campeonato do Mundo é o palco ideal para assistirmos ao despontar de jovens jogadores em busca de afirmação no maior palco do andebol mundial. Neste aspeto específico, Nuno Alvarez aponta em primeiro lugar para a seleção portuguesa e para um jogador em particular que pode dar nas vistas.
"É imperativo dizer que as expectativas em torno de Francisco Costa são enormes. Patriotismo à parte, o jovem lateral direito do Sporting poderá confirmar ao Mundo do andebol aquilo que já se sabe: consegue jogar de igual para igual frente a qualquer oponente. Certamente não irá defraudar, caso tenha oportunidade de demonstrar a sua qualidade e muitos olhos estarão focados no jovem de apenas 17 anos.
Nas restantes seleções, e sem nos esquecermos que o guarda-redes islandês Halgrimsson e o sueco Eric Johansson são já certezas do andebol mundial aos 22 anos, verificar até que ponto podem dar nas vistas atletas como o dinamarquês Simon Pytlick, o egípcio Hassan Kaddah, os eslovenos Aleks Vlah e Domen Makuc, os sérvios Stefan Dodic e Jovica Nikolic, o tunisino Hazem Bacha ou o brasileiro Bryan Monte", sublinha o treinador português.
A seleção portuguesa começa a sua caminhada no Campeonato do Mundo no próximo dia 12, diante da Islândia. Segue-se as partidas diante da Coreia do Sul no dia 14, e Hungria no dia 16.
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