Gracelino Barbosa arrebatou sexta-feira a medalha de bronze nos 400 metros (T20), a primeira de sempre de Cabo Verde em Jogos Paralímpicos, e, em Colhe Bicho, onde nasceu, conquista simpatia e já é considerado um herói.
Gracelino Barbosa levou sexta-feira Cabo Verde ao delírio, ao correr para o bronze nos Jogos Paralímpicos Rio2016, tornando-se no primeiro atleta do país a conquistar uma medalha em Jogos Olímpicos, quer para atletas normais quer para deficientes, logo na sua estreia.
O feito foi exaltado em órgãos de comunicação social do país, redes sociais e é tema de muitas conversas, principalmente em Colhe Bicho, localidade onde nasceu há 30 anos e que fica a poucas dezenas de metros do centro do Tarrafal, concelho mais a norte da ilha de Santiago, a cerca de 75 quilómetros da cidade da Praia.
É na pacata localidade, cujo acesso é uma estrada estreita e calcetada, onde Gracelino viveu até por volta dos seus 20 anos, altura em que foi estudar em Portugal, mas não concluiu a formação superior, tendo iniciado a carreira de atleta paralímpico. Eurico, como é conhecido na zona, é o segundo de seis filhos da parte da mãe, que é separada do pai. Nasceu e cresceu em casa da avó, Juliana Mendes, que o descreve como "um bom menino" e que anda "sempre contente".
Na casa, de paredes de pedra, coberta de telha e com apenas um piso, não há nenhuma fotografia do ‘Eurico' à vista, mas a avó exibe à Agência Lusa duas medalhas que o atleta conquistou em competições realizadas na cidade da Praia. A irmã Edna ‘Tita' Mendes, 27 anos, garantiu que irão afixar um quadro na parede, mas afirmou que, com ou sem foto, ‘Eurico' já é um herói e um orgulho da localidade, sendo seguido por todos nas redes sociais e muitas pessoas ligam a felicitar a família pelo seu feito.
Depois de começar a treinar em Portugal, Edna indicou que Gracelino Barbosa até regressa com mais frequência ao Tarrafal de Santiago, mas praticamente só de férias.
Edna recorda os tempos de infância com o irmão e descreva-o como sendo "simpático, engraçado, que gosta de rir" e que "dá com todo o mundo". "Sempre foi educado e nunca teve problemas com ninguém", completou a avó, que, tal como a irmã, recordou também à Lusa os tempos de infância e da adolescência em que alguns dos divertimentos do ‘Eurico' eram correr atrás de estrelas e pardais e jogar uril.
Mas o que mais gostava de fazer era cuidar de animais. Criava coelhos, patos e pombos nas imediações da casa, que ainda preserva a tradição, com patos e galinhas no quintal e num terraço contíguo, convivendo em perfeita harmonia com todos na casa.
Quanto à deficiência mental, que o faz correr na categoria T20, a avó e a irmã afirmaram que, na infância, Gracelino Barbosa apenas manifestara alguns problemas de aprendizagem, mas que não o impediram de terminar o 12.º ano.
Por isso, suspeitam que terá manifestado a pequena deficiência mental em Portugal, onde também começou no atletismo, para dar agora "a maior alegria do mundo à família", segundo a senhora Juliana, não escondendo que está "feliz e contente" pelo feito do neto.
Por isso, deseja-lhe "tudo de bom". "Eu já tive o meu tempo, agora que Deus lhe dê o dele", desejou a octogenária, de poucas palavras, mas sempre mostrando o orgulho do neto que criou.
Depois de correr para o bronze, logo na sua primeira participação em Jogos Paralímpicos, a família aguarda com ansiedade o regresso do ‘Eurico' a Colhe Bicho. A avó e a irmã garantem que haverá festa rija na zona e uma grande receção ao "campeão". “Espero que ele regressa em breve para não deixar arrefecer", brincou a irmã, afirmando que o atletismo é "tudo" para o Gracelino, modalidade que lançou o irmão para a história do país.
Gracelino Barbosa terminou os 400 metros em terceiro lugar, com o tempo de 48.55 segundos, atrás do brasileiro Daniel Martins (47.22 segundos) e do venezuelano Luís Arturo Paiva (47.83). Cabo Verde esteve ainda representado por Márcio Fernandes, que nasceu em Portugal, mas cujos pais também são do Tarrafal de Santiago. O atleta terminou em nono lugar na prova do lançamento do dardo, disciplina em que é campeão do mundo.
Esta é a quarta participação consecutiva de Cabo Verde nos Jogos Paralímpicos, depois de Antenas (2004), com os atletas Paulo Tavares e Artemisa Siqueira, Pequim (2008), com Artemisa Siqueira, e há quatro anos em Londres com Márcio Fernandes.
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