Para um país determinado a manter zero casos de covid-19 dentro das suas fronteiras, trazer mais de 15.000 pessoas de todos os cantos do mundo foi uma aposta séria, mas que parece estar a funcionar.
Uma semana após o início dos Jogos Olímpicos de Inverno, a China parece estar a cumprir o seu objetivo, através de uma ‘bolha’ sanitária, que isola os participantes do evento da população local.
Houve 490 casos confirmados entre os participantes, mas nenhum relato de casos que tenham ‘vazado’ para a população.
Dentro da ‘bolha’, os organizadores estão a empregar a tolerância zero decretada pelo Governo chinês. Todos os participantes são testados diariamente para o vírus, e quem acusa positivo é rapidamente isolado, para evitar a sua propagação.
Atletas e outros são obrigados a usar máscaras faciais N95 quando não estão a competir.
“Indiscutivelmente, a coisa mais arriscada que fizeram até agora foi sediar os Jogos e, se conseguirem passar por isto, podem continuar a usar esta estratégia para manter os surtos localizados sob controlo por muito tempo”, afirmou Karen Grépin, especialista em saúde pública da Universidade de Hong Kong, citada pela agência Associated Press.
A China mantém restrições rígidas para quem chega ao país e exige que quem o fizer cumpra uma quarentena em hotéis designados que pode ir até três semanas.
As autoridades reagem mesmo aos menores surtos com bloqueios de prédios e bairros, e testes em massa de todos os moradores locais, para isolarem casos positivos.
A estratégia não é isenta de custos: no período que antecedeu os Jogos, a China impôs bloqueios sobre cidades inteiras, com mais de 10 milhões de pessoas, para conter surtos, restringindo os habitantes aos seus complexos residenciais.
A cidade de Baise, com cerca de quatro milhões de pessoas, e que faz fronteira com o Vietname, foi fechada esta semana por causa de um surto que infetou cerca de 180 pessoas.
Em Pequim, dois bairros residenciais permanecem fechados por causa de um punhado de casos diagnosticados há duas semanas.
A ‘bolha’ sanitária dos Jogos de Inverno criou dois mundos separados. Atletas e outros participantes não podem visitar os locais turísticos ou restaurantes e bares de Pequim durante o seu tempo livre, apenas podem vislumbrar a cidade a partir das janelas dos autocarros que os transportam do alojamento para os locais de competição e treino, e vice-versa.
Os hotéis e os locais de competição são cercados com muros temporários; guardas são colocados à porta para impedir que as pessoas saiam ou entrem.
Fora da ‘bolha’, a vida decorre com normalidade para a maioria das pessoas.
“Não sentimos que os Jogos Olímpicos de Inverno estejam longe das nossas vidas”, disse Yi Jianhua, um pensionista natural da província de Hunan, que visitou a sua filha em Pequim.
“Podemos assistir na televisão e no telemóvel. Apesar de não podermos estar no local, continuamos atentos, pois este é um grande evento. Sim, há constrangimentos, mas é aceitável”, descreveu.
A China teve vários surtos dispersos, no mês passado, mas nenhum relacionado com os Jogos Olímpicos.
As autoridades de saúde relataram hoje 22 novos casos num surto na província de Liaoning, a leste de Pequim.
Nenhuma das 450 infeções confirmadas contagiou outras pessoas na ‘bolha’, disse Huang Chun, um funcionário da comissão de controlo da pandemia, no início desta semana. Não houve relatos de casos graves.
A possibilidade de um grande surto dentro da ‘bolha’, potencialmente afastando atletas das competições, tem sido um medo maior do que qualquer ‘vazamento’ para o resto da China.
O teste final virá após os Jogos, quando milhares de funcionários e voluntários da China saírem da ‘bolha’. Espera-se que cumpram quarentena por uma semana ou mais antes de saírem, para tentar evitar os efeitos de infeções latentes que possam ter.
A política de tolerância zero da China manteve o vírus sob controlo. As autoridades de saúde relataram 4.636 mortes desde o início da pandemia, a maioria no surto inicial, ocorrido no início de 2020 e que sobrecarregou o sistema de saúde na cidade de Wuhan.
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