O regime talibã garantiu hoje que não reconhece como representantes do Afeganistão qualquer uma das três compatriotas mulheres que vão competir nos Jogos Olímpicos de Paris2024.
“Uma vez que o desporto feminino está suspenso no Afeganistão, não assumimos qualquer responsabilidade. Não nos pertencem”, disse o porta-voz do governo para o desporto, Atal Mashwani, que apenas aprova como legítimos embaixadores do país os três atletas masculinos.
Quando voltaram ao poder, em 2021, os talibãs tomaram um conjunto de medidas que limitaram severamente a liberdade das mulheres, não só proibindo-as de frequentar o ensino, sobretudo o superior, mas também de praticar qualquer atividade desportiva.
“É uma honra representar novamente as meninas do meu país. Meninas e mulheres foram privadas de seus direitos básicos, incluindo a educação, que é o mais importante”, respondeu, por sua vez, a velocista Kamia Yousufi, que vestiu as cores do Afeganistão no Rio2016 e em Tóquio2020, onde foi porta-estandarte, a par com Farzad Mansouri, do taekwondo.
Kamia, que está refugiada na Austrália, critica duramente a realidade vigente no seu país e, através do comité olímpico australiano, assumiu: “Eu represento os sonhos e aspirações roubados destas mulheres que não têm autoridade para tomar decisões como pessoas livres”.
O poder talibã tem-se manifestado intransigente quanto à limitação dos direitos femininos, contudo, em março, o Comité Olímpico Internacional (COI) manifestou-se determinado em contar em Paris2024 com uma delegação afegã “equilibrada em termos de género”.
Assim, e com o contributo de membros do Comité Olímpico do Afeganistão, quase todos no exílio, foi aprovado que as irmãs ciclistas Fariba e Yulduz Hashimi se juntam a Kami Yousufi para completar o trio feminino na capital francesa, numa seleção em que os três homens competirão no atletismo, judo e natação.
Paralelamente, na equipa de refugiados, o COI incluiu outras duas afegãs, nomeadamente a judoca Nigara Shaheen e ainda Manizha Talash, do breaking, disciplina em estreia olímpica que junta dois elementos que os talibã reprovam no feminino: dança e música.
O COI proibiu a participação do Afeganistão no maior evento desportivo do planeta durante a primeira fase de poder talibã, entre 1996 e 2001, entretanto derrubado por intervenção militar estrangeira, mas agora optou por outra abordagem, para incluir uma delegação, com igualdade de género, desta nação entre os 206 países representados.
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