A judoca Yahima Ramirez revelou que a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) a retirou do projeto olímpico para Tóquio2020, o que o organismo justifica com base na falta de resultados desportivos da atleta.
Em declarações à Lusa, a judoca, de 41 anos, que competiu em Londres2012 e integrou quatro projetos olímpicos, explicou o litígio que mantém com a FPJ, acusando o seu presidente, Jorge Fernandes, de lhe impor o final de carreira.
“Em 23 dezembro [no final de um estágio em Coimbra], o presidente disse-me que não só deixava de integrar a seleção, como não competia mais, mesmo que eu própria pagasse do meu bolso as participações”, revelou a judoca, explicando que tinha critérios desportivos para se manter no projeto olímpico até ao final da qualificação, em fins de junho.
Yahima Ramirez referiu que o dirigente disse ter tomado a decisão já depois de a judoca ter saído dos lugares elegíveis para o Masters em Doha, competição que decorreu em janeiro de 2021 e para a qual chegou a estar em lugar de qualificação.
Do lado da FJP, o presidente, Jorge Fernandes, justificou à Lusa que a saída de Yahima Ramirez das convocatórias se deve à ausência de resultados, com a judoca “sem condições” para competir ao mais alto nível.
“A partir do momento em que não tem condições para competir a esse nível, não faz sentido ser convocada. Posso dar o exemplo, de que temos miúdas que deixámos de fora para os Europeus de Lisboa, porque só podiam estar nove [nas categorias femininas]”, começou por referir Jorge Fernandes.
O dirigente argumentou que a judoca luso-cubana contabiliza desde 2018, no arranque da qualificação olímpica, e até dezembro de 2020, “11 vitórias e 39 derrotas em 31 competições” e que, invariavelmente, "perdia ao primeiro combate" na maioria das provas.
“A federação internacional de judo não proíbe os atletas de competirem, nem por falta de resultados, nem por causa da idade", justificou Yahima, lamentando a forma como a FPJ decidiu não contar mais com ela.
Ainda segundo a judoca, no dia, num estágio em dezembro, em que foi confrontada com o afastamento da seleção, dirigiu-se ao Comité Olímpico de Portugal (COP), onde esteve reunida com o chefe da missão aos Jogos e com o presidente, José Manuel Constantino.
“Normalmente, um atleta, em determinada fase, decide pôr um fim à sua carreira, o que projetei para o final deste ciclo olímpico, no entanto, a federação, sabendo deste meu sonho, privou-me desse direito”, acrescentou.
Jorge Fernandes argumentou que a FPJ decidiu levar a judoca ainda aos Europeus de Praga, em novembro, mas que no final do ano entendeu não contar com ela e que não é "por ter dinheiro" que passará a fazer sentido estar na seleção, quando questionado em relação à possibilidade de a atleta ir às competições a expensas próprias.
“O Cristiano Ronaldo também haverá o dia em que deixará de ser convocado”, referiu Jorge Fernandes, argumentando que os “lugares não são vitalícios” e exigem resultados.
Nas acusações à federação, a judoca argumenta que o conflito começou quando foi confrontada em outubro com a necessidade de assinar o plano de atividades e orçamento para 2020/21, que recusou, por entender que não correspondia à realidade.
No plano apresentado, a FPJ mencionava competições [Grand Slam de Paris e de Dusseldorf, entre outras] e atividades [estágios] em que Yahima não participou ou fê-lo a custas próprias.
“O plano não correspondia ao que realizei. Disseram que era uma previsão, mas tinha atividades de 2020 que já tinham decorrido e a que não fui, ou fui por minha conta”, argumentou a judoca.
Uma acusação que o presidente da FPJ também refutou, referindo que esse mesmo plano ainda foi entregue aos atletas ainda em 2019, e que, por isso, é uma previsão, que a judoca não assinou quando devia, e não corresponde ao relatório final.
“É um conjunto de intenções. É assinado por mim, pelo atleta, pelo treinador e pelo Comité Olímpico. Esse plano não é corrigido, é entregue antecipadamente e no relatório final para o COP é que já não aparece o que não foi cumprido”, defendeu o dirigente.
Nas críticas à atuação da FPJ, Yahima Ramirez diz-se magoada por não ter tido uma palavra do organismo em relação aos seus problemas de saúde, que a obrigaram a falhar estágios no verão, ou quando testou positivo ao novo coronavírus, após os Europeus de Praga, em novembro.
Um cenário que leva a judoca a querer agir judicialmente contra a Federação Portuguesa de Judo, por entender que o que lhe foi feito foi “um abuso de poder”, num momento de carreira em que considera que mantinha o direito de se manter em competição na seleção e na luta pelo apuramento olímpico.
Na sua categoria, de -78 kg, Yahima Ramirez concorria pela vaga com a judoca Patrícia Sampaio, mais bem cotada no ‘ranking’ olímpico e mundial, em lugar de apuramento, num contexto que a atleta diz ser semelhante ao da categoria de -48 kg, também com duas judocas em atividade, Catarina Costa e Maria Siderot.
“O Comité Olímpico de Portugal financia as verbas a todos os atletas que cumprem com os critérios, logo todos têm a mesma oportunidade de integrar o projeto de preparação olímpica, e embora seja outra atleta [Patrícia Sampaio] na minha categoria até ao momento apurada, eu tinha hipótese de lutar até ao fim”, explicou.
Um cenário já posto de parte, após a federação ter comunicado ao COP, em carta datada de 06 de janeiro, que a judoca deixava de “integrar os atletas do projeto de preparação olímpica, tendo em conta a ausência de resultados”, que garantissem uma possível qualificação.
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