Pela sua qualidade e ambição, Nelson Évora foi portador de uma das más notícias no início deste ano, quando em Janeiro foi anunciado que se tinha lesionado e estava fora dos Jogos Olímpicos de Londres. Numa prova de preparação, o atleta do Benfica lesionou-se na tíbia direita e o prognóstico foi o menos desejado: 6 a 8 meses de paragem e, consequentemente, estava fora de Londres2012.
A lesão está hoje praticamente ultrapassada, mas não a tempo do maior evento desportivo do mundo em que Nelson tanto queria participar. Depois de se ter sagrado campeão do mundo de triplo salto em 2007 e de ter ganho a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, o atleta era uma das principais esperanças lusas em conquistar medalhas.
A tristeza está ultrapassada e, em conversa com o SAPO Desporto, o atleta português diz que já encontrou uma nova motivação para os Jogos de Londres: apoiar quem vai estar a competir, pois sabe como é importante sentir essa força adicional.
«Quando estamos lá dentro temos de dar o nosso melhor e quando estamos de fora temos de vibrar com muita intensidade e com a melhor energia possível», diz Nelson, que conta como vai viver as três semanas de competição.
«Mesmo estando de fora, tenho aquele ‘bichinho’ de ser a maior competição do mundo e vou desfrutar da melhor forma. Embora não possa participar para mim não deixa de ser uma festa desportiva, um evento em que todos os países e culturas se juntam e metem de lado todas as diferenças.»
Logo após a lesão que o afastou de Londres, o Comité Olímpico de Portugal convidou-o a estar presente ao lado da comitiva portuguesa e por isso o medalha de ouro de 2008 vai fazer questão de estar com os colegas.
«Vou ter a oportunidade de lá estar e por isso espero que seja uma festa. O Comité Olímpico convidou-me para estar presente e dar o meu apoio aos atletas que vão participar, e eu aceitei com todo o agrado. É triste não estar presente como atleta, mas assim tenho a oportunidade de estar como espectador», afirma satisfeito o atleta do Benfica, que espera ser um bom exemplo para aqueles que vão envergar a camisola de Portugal.
«Ganhei uma medalha de ouro nos últimos Jogos Olímpicos e sei que todos os que lá vão estar ambicionam conseguir algo igual. Nesse sentido, é bom que seja um exemplo.»
É precisamente quando se fala em medalhas que os atletas menos gostam de deixar promessas. Nelson está hoje livre dessa responsabilidade, mas realça que a comitiva portuguesa tem qualidade e pode surpreender.
«Esta comitiva é muito boa. São atletas como muita experiência e é melhor falarmos em boas prestações e depararmo-nos com uma boa surpresa, do que estarmos a pedir medalhas e elas depois não surgirem», aconselha, frisando ainda que os portugueses têm de mudar a sua mentalidade face aos atletas olímpicos.
«Acho que os portugueses deviam olhar bem para a realidade do nosso país e ver o número de praticantes que temos e o número de atletas que pomos nos Jogos Olímpicos, que é espetacular em comparação direta com outros países. Além disso, é preciso que vejam bem aquilo que já fizemos em representação do nosso país», pede Nelson, que acrescenta que restringir uma participação nos Jogos a medalhas não é correto.
«É demais estar a exigir medalhas nos Jogos Olímpicos. Há que apoiar, independentemente de haver ou não medalhas», frisa o campeão do mundo de 2007, que lembra o apoio à Seleção Nacional de futebol como um exemplo a seguir.
«Era melhor que o apoio fosse um pouco à imagem do que aconteceu com a Seleção Nacional de futebol: toda a gente apoiou, toda a gente arranjou cânticos, toda a gente se juntou para ver a seleção jogar, e o espírito agora devia ser igual, porque os nossos atletas merecem isso», termina o atleta português, que vai sofrer por fora nos Jogos Olímpicos de Londres.
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