O ano de 2022 não deve ser lembrado apenas pelos melhores motivos. O mundo do futebol e do desporto disseram adeus a duas figuras ímpares que elevaram a bandeira nacional além-fronteiras: Chalana e Fernando Gomes.

A primeira despedida foi mesmo à lenda do universo benfiquista. No dia 10 de agosto de 2022, o país acordou com a notícia que Chalana tinha morrido aos 63 anos.

O "pequeno génio", como assim era conhecido, andava a lutar contra uma doença de alzheimer e o seu estado de saúde já se tinha agravado nos últimos tempos. Em Portugal, começou a carreira no Barreirense até chegar o Benfica em 1973, onde conquistou, entre outros títulos, seis campeonatos e três Taças de Portugal.

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Além-fronteiras, foi no Bordéus que arrecadou a alcunha de “Chalanix”, em alusão às parecenças com a personagem de ficção Astérix.  Na seleção nacional também se tornou um nome incontornável, com 27 internacionalizações e um desempenho formidável no Euro84, onde a Equipa das Quinas alcançou as meias-finais.

Depois da notícia, o dia 10 de agosto e os que se seguiram ficaram eternizados em memória desta figura histórica do futebol português. Rui Costa frisou ser um "dia muito triste para a nação benfiquista" e Luisão lembrou uma "pessoa com um coração incrível". A camisola 10 foi automaticamente retirada da numeração do plantel encarnado até ao final desta época. No jogo da segunda jornada do campeonato frente ao Casa Pia, a equipa entrou com o nome de Chalana estampado nas costas.

A nível institucional foram inúmeras as reações. O presidente da Liga Portugal, Pedro Proença, e da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, lamentaram a perda, enquanto que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, frisou o contributo do antigo jogador para o prestígio do futebol português. Já no Comité Olímpico Português, o presidente José Manuel Constantino destacou a figura "muito consensual" que era Chalana.

Os rivais também não esqueceram o papel de Chalana no futebol português. Do lado do Sporting, o presidente Frederico Varandas lembrou um adversário leal e o treinador Rúben Amorim deixou um abraço ao universo benfiquista. Já do lado do FC Porto, Sérgio Conceição também lamentou a perda e o clube azul e branco recordou os duelos históricos.

A derradeira despedida deu-se em pleno relvado do Estádio da Luz, onde cerca de 3000 adeptos prestaram a última homenagem à lenda do futebol português. A equipa principal também fez uma guarda de honra na entrada da urna de Chalana. Mais longe, os jovens da formação também não esqueceram o contributo do antigo camisola 10. Bernardo Silva falou num "grande amigo" e Jota Silva fez um tributo a alguém que "acreditou sempre" nele.

De agosto passamos para dia 26 de novembro, quando o futebol português se despediu de um dos maiores número 9 da sua história e de um goleador nato: Fernando Gomes. A alcunha de bibota ficará eternizada até porque são poucos os que são dão luxo de terem sido os melhores marcadores do velho continente por duas ocasiões. Fernando Gomes tornou-se o melhor marcador da história do FC Porto e, ao longo da carreia, somou 452 jogos e 355 golos.

É dos poucos que se deu ao luxo em ser um ídolo transversal para todos no futebol português. No Sporting, clube onde terminou a carreira, também deu continuidade à veia goleadora, depois de uma passagem internacional pelo Sporting Gijón em Espanha. Com cinco campeonatos nacionais, um campeonato europeu, três Taças de Portugal, outras tantas Supertaças Cândido de Oliveira e uma Europeia, tornou-se também uma figura de proa da seleção onde somou 47 jogos e onze golos marcados.

Fernando Gomes, que tinha 66 anos, estava a lutar contra um cancro no pâncreas e recentemente tinha sofrido um AVC. A última despedida reuniu centenas de pessoas, numa homenagem que contou com uma passagem da urna pelo Estádio do Dragão.

As reações, naturalmente, não passaram despercebidas. Pinto da Costa não escondeu as emoções na altura de recordar a lenda do clube e Vítor Baía diz que perdeu um irmão do futebol. Já o treinador Sérgio Conceição frisou a "admiração" e "respeito". Nos rivais, o bibota também não foi esquecido com o Benfica a manifestar o seu pesar e o Sporting a recordar um dos seus goleadores. O Sporting de Gijón também não deixou passar o momento em claro.

A perda de Fernando Gomes deu-se numa altura em que a Seleção Nacional estava a disputar o Mundial no Qatar. O selecionador Fernando Santos frisou um "momento de tristeza", enquanto que, entre os líderes políticos, o primeiro-ministro António Costa não esqueceu a magia em campo. A Assembleia da República, por sua vez, aprovou o voto de pesar por unanimidade.

Foi assim com a perda de Chalana e Fernando Gomes que, em 2022, o futebol português esqueceu as rivalidades e prestou tributo aqueles que foram dois dos maiores camisolas 10 e 9 da sua história.