Quando vitórias e derrotas se decidem em frações de segundo ou milímetros, a competição desportiva passa jogar-se também nos laboratórios de investigação, e Portugal procura agora afirmar a sua capacidade de inovação nas mais diferentes modalidades.
A Mostra de Inovação no Desporto, realizada no Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Oeiras, exibiu esta segunda-feira alguns dos melhores produtos desportivos ‘made in Portugal', como kayaks, têxteis ou caneleiras, que mostraram o porquê de serem considerados referências nacionais e internacionais.
Criada em 1978, a empresa de kayaks e canoas NELO é já desde os Jogos Olímpicos de Sydney2000 a grande referência na canoagem. Em cinco olimpíadas a instituição fundada por Manuel Ramos, o primeiro campeão nacional de kayak, colecionou um total de 92 medalhas, mas, para o presidente, "há sempre algo a fazer" para conseguir um novo avanço.
"Não nos fixamos só na produção de kayaks. Organizamos provas, temos centros de treinos e há uma proximidade diária com os atletas. Tudo isso é importante para ajudar a criar um barco melhor", referiu à Lusa, salientando que a inovação se reflete sobretudo "no desenho e nos materiais", por força das restrições das regras dos órgãos internacionais.
No expositor do evento figuram dois barcos: o modelo ‘Moskito’, de cor amarela, que se estreou nos Jogos de Sydney, e o ‘Cinco', branco, que foi o último a triunfar no Rio2016. O futuro é Tóquio2020, mas por agora o ‘Sete', como se vai designar o próximo modelo, tem apenas um espaço para ocupar e uma estimativa promissora: menos 20 centésimos do que o melhor tempo registado nos 200 metros de 2016.
"É também uma questão de patriotismo dar a conhecer aos portugueses a nossa qualidade. Transportei a minha ambição de ganhar como atleta para a produção da empresa. Eu já produzia o meu kayak enquanto atleta", conta, revelando que só a fase de estudos e testes de um novo barco leva cerca de três anos.
Ao lado, a PL Sails procura aproveitar os ventos de inovação na vela e crescer para as competições olímpicas. Criada em 1986, por Pedro Pires de Lima, que preferiu abdicar de um emprego como engenheiro civil para "procurar uma máquina de costura para fazer velas", aliou-se recentemente a uma empresa de Aveiro para a inclusão de um GPS autónomo único.
"As regras e limitações levam-nos a ir buscar o detalhe", afirma. Na embarcação exposta, que já data de 2004, está já incorporado o GPS autónomo com painel solar, que torna a navegação praticamente "ilimitada". "No estádio de desenvolvimento em que a sociedade está, já só falamos de pequenos desenvolvimentos, nomeadamente na adaptabilidade a cada atleta".
Aliás, a personalização e capacidade de adaptação dos equipamentos aos atletas é mesmo uma das principais áreas de expansão das empresas e dos centros de investigação portugueses presentes. Exemplo disso são as caneleiras SAK, que de Viseu partiram à conquista dos principais palcos mundiais e protegem já os futebolistas de Benfica, FC Porto e Sporting.
"As caneleiras usavam materiais de fraca qualidade, o encaixe não era ideal e algumas até podiam aumentar o risco de lesão. Nós trouxemos materiais de última geração, de origem militar, apostando em polímeros, que é um material muito robusto, mas leve e flexível", explica o fundador e diretor executivo, Filipe Simões.
Com o desenvolvimento de um scanner 3D, a empresa criada numa garagem de Viseu em 2013 diz conseguir "em 23 segundos" a forma exata das pernas dos jogadores para passar à produção de um modelo único de caneleiras. O primeiro passo surgiu logo com a chegada a alguns dos jogadores da seleção Nacional, mas hoje estende-se por 17 países.
"Queremos ser um dos grandes. Achamos que há espaço para isso e faz falta uma marca de futebol em Portugal. Queremos ser essa marca", refere o responsável, realçando que a produção se alarga também a modelos para os mais jovens, para as jogadoras de futebol feminino e nova gama de acessórios.
Em nome do futuro e do melhor rendimento dos atletas, instituições como a Faculdade de Motricidade Humana, a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto ou a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra são agora cada vez mais importantes, porque o conhecimento e a inovação fazem parte da rota para a vitória.
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