Oito atletas cubanos ficaram no Chile para pedir asilo, ou refúgio, após o encerramento dos Jogos Pan-Americanos de Santiago’2023, depois de terem informado o seu advogado e o Ministério do Interior do país sul-americano na terça-feira (7).

Até segunda-feira, sabia-se que sete atletas, seis mulheres e um homem, da delegação cubana tinham deixado a Vila Pan-Americana com a intenção de permanecerem no Chile. No entanto, o subsecretário do Ministério do Interior, Manuel Monsalve, informou na terça que um oitavo atleta solicitou asílio.

Monsalve também explicou que, para os Jogos Pan-Americanos, "412 membros da delegação [cubana] entraram no Chile, 391 deixaram o país e 21 permanecem em território nacional".

"Uma pessoa, de nacionalidade cubana, diferente das sete, fez o pedido de refúgio ao Serviço Nacional de Imigração. A lei de refúgio funciona com o visto temporário de oito meses e aceitando o início do processo de refúgio", disse o subsecretário.

Antes, o advogado de imigração Mijail Bonito tinha confirmado à AFP que outros sete atletas "iriam pedir refúgio, ou asilo, e isso é algo que vamos determinar ainda".

Segundo a imprensa chilena, são seis integrantes da equipa feminina de hóquei em campo e um corredor da prova com barreiras que conquistaram a medalha de bronze nos jogos encerrados no domingo, dia 5.

"A intenção principal deles é permanecer no Chile", disse o advogado do escritório Hurtado y Bonito Abogados, que representa os atletas.

Assumi este caso "por uma questão pessoal, porque nasci em Cuba", acrescentou Bonito, que foi assessor de política migratória do governo do ex-presidente chileno Sebastián Piñera.

Mijail Bonito explicou ainda que entrou em contacto com os sete atletas assim que saíram da delegação cubana que estava hospedada na Vila Pan-Americana de Santiago.

Agora, "nenhum deles está em Santiago. Estão em casa de amigos, de grupos de apoio em três regiões diferentes" do país, disse Bonito.

Os atletas têm visto para permanecer no Chile até 12 de novembro, mas estão sem o passaporte. Os documentos foram retidos pelos dirigentes desportivos, ao entrarem no país, em meados de outubro.

A grave crise económica que Cuba atravessa provocou um êxodo em massa nos últimos dois anos, principalmente de jovens.

Mesmo sem os seus atletas de elite, Cuba encerrou os Jogos Pan-Americanos no Top-5 do quadro de medalhas, atrás dos Estados Unidos, Brasil, México e Canadá.

A delegação cubana conquistou 30 medalhas de ouro, 22 de prata e 17 de bronze, número levemente inferior ao das conquistadas nos Jogos de Lima, há quatro anos.

Êxodo de talento desportivo

A possibilidade de conceder asilo ou proteção aos oito desportistas cubanos ganhou um contorno político.

O governo do presidente de esquerda, Gabriel Boric, comemorou o quinto lugar da "grande potência" de Cuba nos jogos, o que reacendeu a rivalidade com a direita que questiona o regime da ilha em defesa dos direitos humanos.

"Uma vez regularizada a situação migratória dos atletas cubanos, têm em Las Condes um lugar onde possam livremente praticar, trabalhar e fomentar o desporto. Bem-vindos aos que vêm ao Chile para contribuir!", escreveu na rede social X, antes Twitter, Daniela Peñaloza, Presidente de um dos municípios mais ricos de Santiago e militante do partido de direita UDI.

Segundo dados oficiais, de 2022 até agora, o número de emigrantes no desporto de alto rendimento em Cuba é de 187 atletas, entre eles vários pugilistas, incluindo a estrela Andy Cruz, por muitos considerado o melhor pugilistas do país.

O atletismo cubano tem sido um dos mais atingidos pelas fugas, que afetam o desporto nacional há vários anos e que aumentaram com a atual crise económica, a pior em três décadas.

Reflexo desse êxodo é Santiago Ford, nascido em Cuba e naturalizado chileno no final do ano passado, que protagonizou um dos momentos mais emocionantes dos Jogos Pan-Americanos de 2023, quando ganhou a medalha de ouro no decatlo.

Com a voz embargada, Santiago lembrou que entrou no Chile a caminhar pelo deserto após ter deixado a ilha em 2018, viajou de avião até Guiana e por via terrestre chegou ao país sul-americano, ao qual dedicou a sua vitória.

O caso de Ford lembrou o do seu compatriota, Andy Cruz, ouro olímpico em Tóquio’2020, que foi expulso em 2022 do sistema desportivo de Cuba, após tentar deixar a ilha numa balsa.

Alguns meses depois, conseguiu emigrar de maneira legal e, a 16 de julho, conquistou um título internacional de peso leve da FIB (Federação Internacional de Boxe) numa disputa em Los Angeles, Califórnia.