José Manuel Constantino, que morreu no domingo, após a mais proveitosa Missão lusa em Jogos, foi um sucessor de excelência de José Vicente Moura na presidência do Comité Olímpico de Portugal (COP), vincou hoje o ex-dirigente.
“Nestes mandatos que ele cumpriu, posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que fez um excelente trabalho, tendo contribuído para o prestígio do COP e, fundamentalmente, do desporto português. José Manuel Constantino era um homem que pensava muito bem o desporto e escrevia ainda melhor. É uma perda irreparável”, observou o ex-líder máximo daquela entidade, entre 1990 e 1993 e de 1997 a 2013, em declarações à agência Lusa.
José Manuel Constantino faleceu no domingo, aos 74 anos, devido a doença prolongada, deixando para trás quase quatro décadas no dirigismo desportivo luso, durante as quais liderou o Instituto de Desporto de Portugal, a Confederação do Desporto de Portugal e o COP, tendo sido eleito como sucessor de José Vicente Moura em 26 de março de 2013.
“Conseguiu a credibilidade necessária para obter da parte dos Governos um maior apoio financeiro. Depois, apurou bastante bem os projetos olímpicos que se iniciaram no meu tempo, passando a ser geridos com maior rigor e competência por parte das federações, dos treinadores e do COP. Além disso, deixou uma imagem de prestígio, já que era um homem intelectualmente bastante avançado em termos desportivos e não só”, recordou.
José Manuel Constantino estava prestes a terminar o terceiro e último mandato no COP, organismo que presidiu nas duas melhores Missões nacionais a Jogos Olímpicos, com a conquista de quatro medalhas em Tóquio2020 e Paris2024, volvida a estreia no Rio2016.
“Encontrei-o neste período em que estive agora em Paris, visto que o COP me convidou para participar e assistir em parte aos Jogos Olímpicos. A notícia da morte dele deixou-me uma profunda mágoa. É uma ironia que tenha partido num dia em que deveríamos estar satisfeitos e alegres pela participação olímpica de Portugal, que conquistou pela primeira vez [em 26 presenças em Jogos] uma medalha de ouro, duas de prata e uma de bronze. José Manuel Constantino foi um dos responsáveis por esse êxito”, referiu Vicente Moura.
Autor de livros e artigos publicados sobre desporto, Constantino era considerado um dos grandes pensadores sobre o fenómeno em Portugal, sendo mesmo reconhecido com os títulos de Doutor Honoris Causa pelas Universidades do Porto (2016) e de Lisboa (2023).
“Há um aspeto que ele falava ultimamente e que será fundamental [concretizar]: Portugal precisa de alargar a sua base de praticantes, a partir da qual surgem novos talentos, que, depois, vão ser trabalhados pelos técnicos, de forma a dedicarem-se à alta competição e, eventualmente, lograrem medalhas. Tal como aconteceu até hoje, continuamos a desejar e a esperar por medalhas que caem um pouco do acaso, do talento individual ou de uma oportunidade, mas não de um trabalho que é necessário fazer ao longo dos anos”, notou.
José Vicente Moura saúda o desempenho de Portugal em Paris2024, mas julga que “até foi escasso para o que era possível”, ilustrando com as desilusões do canoísta Fernando Pimenta, prata em Londres2012 e bronze em Tóquio2020, ou do judoca Jorge Fonseca, bronze em solo japonês, numa edição ocorrida em 2021, devido à pandemia de covid-19.
“Tudo isso ainda poderia ter tido uma perceção maior. Há países com a nossa dimensão demográfica e o nosso desenvolvimento financeiro a somarem centenas de medalhas, tal como é o caso da Hungria, dos Países Baixos, da Bélgica, da Geórgia e por aí fora. Para fazer uma projeção futura, temos de olhar para o mundo e dizer onde é que estamos em relação aos países com os quais nos podemos comparar diretamente. Iremos verificar aí que estamos no fim da linha”, atirou o chefe da Missão a Los Angeles1984, nos Estados Unidos, onde o maratonista Carlos Lopes assegurou o primeiro título olímpico português.
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