A Polícia Judiciária (PJ) indicou o nome de um jornalista à Doyen na investigação do caso Football Leaks, para poder servir como ‘ponto de contacto’ e passar a versão do fundo de investimento, revelou hoje o advogado Pedro Henriques.
A informação foi exposta na fase inicial da 29.ª sessão do julgamento no Tribunal Central Criminal de Lisboa, com o colaborador do antigo diretor executivo (CEO) do fundo de investimento a explicar que essa sugestão surgiu durante uma “situação de stress” para a Doyen, face à “preocupação” com a revelação de documentos confidenciais na plataforma eletrónica criada por Rui Pinto.
“Foi indicado um jornalista em concreto, mas não sei quem é, não me lembro. Mandei esse e-mail [que tinha o nome do jornalista] ao Nélio e ao departamento de comunicação da Doyen”, afirmou Pedro Henriques, que, questionado pela presidente do coletivo de juízes, Margarida Alves, acrescentou: “Indicaram por iniciativa deles um jornalista e é a eles que tem de perguntar, a Doyen não pediu nada à PJ”.
A questão suscitou dúvidas à juíza presidente, que relembrou a audiência de quarta-feira, na qual foi discutida uma troca de e-mails em novembro de 2015 entre Pedro Henriques e o inspetor da PJ Rogério Bravo, na qual este tratava o colaborador de Nélio Lucas por ‘tu’ e em que chegou a enviar uma sugestão de requerimento para ser apresentada à Procuradora-Geral da República, cargo que na altura era ocupado por Joana Marques Vidal.
“A minha questão volta à interferência ou sugestão de um inspetor nestas questões que extravasam o normal andamento do processo e as suas competências”, frisou Margarida Alves, deixando ainda a Pedro Henriques uma garantia de que esta questão do processo não vai ser esquecida: “Descanse que não ficará por perguntar”.
Na sessão que ainda decorre, o colaborador de Nélio Lucas, que presta testemunho pelo terceiro dia, confessou também ter “ideia” de que falou pela “última vez” com a PJ sobre o processo no “final de 2015” e que só soube da identidade de Rui Pinto como responsável pelo Football Leaks “pela comunicação social”.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
Comentários