Os advogados de Rui Pinto e Aníbal Pinto, arguidos do ‘Football Leaks’, questionaram hoje o ex-administrador da Doyen Nélio Lucas sobre a sua legitimidade como representante do fundo de investimento, argumentando não haver prova dessa condição em 2015.
Já perto do final da 26.ª sessão do julgamento, no Tribunal Central Criminal de Lisboa, o advogado de Aníbal Pinto, João Pereira dos Santos, apresentou um requerimento – subscrito também pela defesa de Rui Pinto - para que Nélio Lucas comprovasse que era mesmo administrador à data dos factos do processo no que toca à alegada tentativa de extorsão, solicitando a apresentação de “certidões comprovativas das posições societárias”.
No entanto, o coletivo de juízes entendeu não avançar neste momento com a junção do documento e, perante a insistência do representante de Aníbal Pinto - que vincou que as provas de um vínculo efetivo entre o empresário e o fundo de investimento reportavam apenas a 2011 e 2012 -, deixou um reparo ao ‘timing’ de levantamento desta questão.
“Muito se estranha que nesta fase processual, depois de dezenas de sessões e testemunhas, só agora a defesa de Aníbal Pinto diga que [essa informação] é essencial para a prova”, referiu a presidente do coletivo, Margarida Alves.
Com efeito, já ao longo do dia, também os representantes de Rui Pinto – que se mostrou bastante ativo e deu constantes indicações aos advogados - tinham analisado a organização da Doyen, os titulares de investimentos efetuados, as instituições bancárias com que o fundo de investimento trabalhava e empréstimos de dinheiro realizados enquanto operação paralela ao cerne da sua atividade de intermediação de transferências.
E foi esse ponto que gerou também alguma polémica na sessão, com Nélio Lucas a confirmar um empréstimo ao FC Porto, levantando-se dúvidas sobre o responsável da operação, já que o clube portista divulgou nas suas contas que o empréstimo tinha tido origem no Banco Carregosa.
“Não me recordo”, disse o empresário, numa resposta que se repetiria a diversas perguntas dos advogados de defesa durante a sessão.
O antigo administrador do fundo de investimento confirmou também um empréstimo ao ex-presidente do Sevilha José Maria Del Nido, um dirigente espanhol que viria a ser, entretanto, condenado por corrupção.
“Fizemos o empréstimo, foi precisamente para pagar uma caução. Perguntámos às autoridades espanholas se havia algum problema nisso e disseram-nos que era uma opção nossa”, esclareceu.
O passado de Nélio Lucas voltou ainda a ser falado no âmbito do seu registo criminal, depois de ter defendido que o Football Leaks fez muito “barulho” e que não foi “condenado” por nada relacionado com as divulgações da plataforma.
Como consequência dessa afirmação, a defesa de Rui Pinto questionou sobre uma eventual condenação anterior relacionada com cheques sem provisão, mas Nélio Lucas foi lacónico: “Não tenho nada a dizer”.
O julgamento prossegue na quarta-feira, com a audição do advogado Pedro Henriques, antigo colaborador de Nélio Lucas na Doyen, que vai prestar declarações enquanto testemunha.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
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