A maior parte das federações desportivas portuguesas vivem “em negação” para os riscos colocados à integridade das competições, pela manipulação de resultados operada pelas redes criminosas de apostas desportivas, disse hoje um diretor-geral do Comité Olímpico Português.
Em declarações à agência Lusa, João Paulo Almeida frisou que a irradiação do árbitro de ténis português Daniel Zeferino, pela Federação Internacional de Ténis, “demonstra que ainda existem inúmeras vulnerabilidades” nesta área e lamentou a falta de proatividade por parte dos organismos que superintendem as diferentes modalidades em Portugal.
“São muito poucas as federações que apostam na prevenção. Essa é a palavra-chave, prevenção, porque é melhor do que trabalhar no à ‘posteriori’, na repressão. As federações minimizam este problema, vivem em negação”, apontou João Paulo Almeida.
O especialista em questões de manipulação de resultados admitiu, no entanto, que os organismos “têm poucos recursos” e que isso “é aproveitado por redes criminosas” para as suas atividades.
Mas lembrou, por outro lado, que “há federações cujo orçamento disparou, por força das receitas obtidas, aquando da abertura do mercado de apostas desportivas”, e que pouco ou nada investem na prevenção.
“A Federação Portuguesa de Ténis (FPT) é uma das que disparou imenso. São cerca de quatro milhões de euros anuais que recebe do mercado de apostas desportivas, o que é considerável para um organismo de média dimensão. Quanto gastam em prevenção? Não gastam”, desabafou João Paulo Almeida.
No caso de Daniel Zeferino, no entanto, trata-se de “um árbitro internacional” e que, por isso, “estaria pouco na esfera de ação da FTP”, reconheceu o dirigente.
O diretor-geral do COP, que integra o grupo de trabalho do Comité Olímpico Internacional (COI) que se debruça sobre a integridade das competições, fez ainda questão de “não colocar todas as federações no mesmo saco”, uma vez que “algumas já começam a trabalhar este tipo de situações”.
Fazem-no, no entanto, “porque a nível interno há um funcionário ou um diretor técnico que está alerta para este tipo de problema”, por vezes porque “já o viveu de perto e tem uma postura reativa”.
Nesses casos, o COP promove “ações de formação” nos organismos federativos, onde apresenta “um conjunto de informações práticas” e “as consequências”, mas, segundo João Paulo Almeida, torna-se “evidente que são necessários outros mecanismos”.
“Tais como as federações internacionais obrigarem a ter regulamentos de prevenção. E quem financia condicionar o seu financiamento à implementação de normas disciplinares e programas de prevenção”, exemplificou o diretor-geral do COP.
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