O Vale do Jamor ganhou novas cores este domingo, com adeptos do FC Porto e do SC Braga a pintar o espaço à volta do Estádio Nacional de azul e vermelho.
Há muitos anos que é assim. Diria que desde que a final da Taça de Portugal se joga no Jamor. É sempre um domingo de festa, de família e amigos.
As primeiras pessoas chegaram já no sábado, para conseguir os melhores locais. Os outros, fizeram-se à estrada de manhãzinha, do Norte até Oeiras. Centenas de autocarros em romaria para o jogo que encerra a prova rainha do nosso futebol.
Adeptos do Braga no Jamor
João e a família vieram de Braga, ele para assistir a sua quarta final da Taça de Portugal. Com a mulher e os três filhos, optaram desta vez por confecionar tudo em casa e chegar já com o farnel pronto. Sentados à sombra de uma árvore, perto da fanzone do Braga, Joel e família vão apreciando o ambiente à volta, ao mesmo tempo que degustam as sandes, os panados, as tartes e os fritos que a mulher preparou.
Joel espera que Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, possa dar sorte como aconteceu na última final do SC Braga, em 2020/21, ganha ao Benfica. E nota uma coisa:
“Este ano há muitos mais adeptos do Braga”. Confirmámos. E isso também se explica pelo crescimento do Braga nos últimos anos, e também de uma época que pode ser histórica para o clube minhoto: lutou até as derradeiras jornadas pelo título, ficou no 3.º lugar e pode terminar 2022/23 em beleza com a conquista da Taça.
Um adepto do Belenenses à procura de bilhetes para a Taça
Ali perto, no centro das atenções, está Zé Manuel, um homem do futebol. Este apaixonado sócio do Clube de Futebol Os Belenenses exibe uma placa onde diz que procura dois bilhetes. Àquela hora, ainda não tinha tido sucesso.
“Vim com quatro amigos, mas só dois que é têm bilhetes. Dou o que pediram, só quero dois bilhetes para ir ver a final”, conta-nos.
Mas o que faz o um sócio do Belenenses e do Fofó (Futebol Benfica) às 13h30 de um domingo de sol quente, de muito calor no Jamor, no meio de adeptos do SC Braga, à procura de bilhetes para ver um jogo de um clube que nem é o seu?
“Eu vejo futebol pelo futebol. Gosto de ver futebol. Então vim com os amigos ver a final”, detalha.
É debaixo das árvores que famílias e amigos se reúnem à hora do almoço, para ganharem forças para mais logo. A grelha não tem descanso, com bifanas, entremeadas, picanha e frango, a saírem prontas para acompanhar o pão e a cerveja que sai das geleiras a bom ritmo. Fazem-se prognósticos, contam-se histórias, relembram-se outras finais, outras viagens ao Jamor.
Adeptos do FC Porto no Jamor
Os mais novos vão circulando de um lado para outro, sempre de cerveja na mão. Os menos jovens, sentam-se em cadeiras à sombra a apreciar a festa e a contar as horas para o início do jogo. Ou então na relva, onde haja espaço para descansar. O calor é muito.
Carlos está com um grupo de 25 pessoas. Chegaram bem cedo ao Jamor, depois de uma viagem desde Vila Nova de Gaia. É emigrante, vive na Suíça, mas não perde uma única final da Taça de Portugal. E conseguir bilhete não foi fácil.
“O meu pai levantou-se cedo para ir para fila, e como somos sócios com lugar anual, conseguimos comprar. Mas se ele não tivesse conseguido, eu teria arranjado”, confessa.
Vir da Suíça só para ver a final da Taça de Portugal, pode parecer muito, mas não para este adepto dos azuis e brancos.
“É um dia diferente, para se passar com os amigos e família. Juntamo-nos todos, a comer e a beber, fazemos a festa e, se no final vencermos, melhor ainda. Mas vale mesmo é pelo convívio”, destaca.
Perdidos no meio do trânsito
A viagem desde Valongo até ao Jamor não foi fácil para Paula Pontes, Paulino Ferreira e família. Vieram de carro desde o Norte do país mas com muitos dissabores pelo meio.
“Apanhámos imenso trânsito, chegamos cá e já não havia lugar (para estacionar). Estivemos quase tanto tempo na fila como o tempo que demorámos a sair de casa. Tivemos de deixar o carro na rua e vir a pé, com o meu marido assim… olha”, conta à Paula Pontes à reportagem do SAPO Desporto, a apontar para a bengala de Paulino.
Para não perder a festa das festas do futebol nacional, Paula teve de fazer sacrifícios.
“Pus-me a pé às cinco da manhã, às 06h03 já estava no Estádio do Dragão no primeiro dia em que colocaram os bilhetes à venda”, conta-nos.
Para Paula, é a terceira vez. “Por acaso, sempre que vim, ganhámos”, detalha. Paulino está na festa da Taça pela quarta vez.
Juntos e misturados
Ao subir a longa escadaria que vai dar ao topo onde está a fanzone do Braga, encontrámos Joel e Joana, ele do FC Porto, ela do SC Braga. Metemos conversa. Carlos é do Porto mas está a trabalhar em Lisboa. Saiu do trabalho e veio diretamente para a festa da Taça.
No meio dos adeptos da equipa adversária, Joel destaca o bom ambiente que se vive na Mata do Jamor, com simpatizantes das equipas a confraternizarem.
Nas fanzones dos dois clubes, cantam-se as canções de apoio às duas equipas, mas também passa música popular para animar a malta. Afinam-se as gargantas.
Com o passar do tempo, as grelhas começam a ter algum descanso. O mesmo não se pode dizer das geleiras, com cerveja e água sempre a sair. O calor aperta, as horas do dia pedem algo fresco para combater os 28 graus que se fazem sentir.
Aqueles que já tem mais saudades do verão, aproveitam a tarde quente e solarenga para se bronzearem. Tronco nu, camisola na mão e siga para a festa.
Daqui a pouco arrumam-se grelhadores, geleiras e toda a tralha nos carros. Bebe-se as últimas cervejas, os últimos grelhados, antes de se iniciar a marcha para o interior do estádio.
Mais logo, a festa continua, no relvado e também nas bancadas. Porque não há festa nacional como a da Taça de Portugal no Jamor.
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