"Oh amigo, beba uma cerveja connosco! É de que jornal?". É assim todos os anos, no Estádio do Jamor, em dia de final da Taça de Portugal. É dia de festa e a animação, antes dos jogos, é grande. A alegria estampada no rosto dos adeptos não engana. É um dia especial. E a vontade de partilhar com quem passa a alegria que sentem por estarem ali, largas horas antes do apito inicial do encontro (este ano coloca frente a frente FC Porto e Sporting, mas isso pouca diferença faz) é evidente.
Enquanto caminhamos para junto das fanzones de cada um dos clubes que, por motivos de segurança, desde há alguns anos a Federação Portuguesa de Futebol optou por estabelecer, de forma a separar adeptos de um e de outro lado, porém, passamos por um grupo de adeptos - talvez oito - sentados numa mesa repleta de comida e bebidas uns de azul e branco, outros de verde e branco. Paramos para lhes tirar uma foto e não hesitam: "São servidos?"
Aproveitamos para falar com eles e fazer algumas perguntas. Afinal de contas, parece um excelente motivo de reportagem. Adeptos dos dois lados da barricada a conviverem alegremente. A magia do futebol que une tanta gente, amizades que as cores da camisola não separam.
Contam-nos que vêm do norte. Mais concretamente de Barcelos. Talvez por isso são na sua maioria do FC Porto. Mas entre eles estão também adeptos do Sporting.
"Saímos de Barcelos às 6h00 da manhã", explicam, enquanto abrem mais uma carcaça, servem mais um copo de vinho e vão buscar mais uma mini.
São amigos de longa data. Os do FC Porto são 'repetentes'. Fizeram o mesmo trajeto no ano passado, para ver o FC Porto levar a melhor sobre o SC Braga. "Vamos lá ver como corre este ano...", diz um deles.
"Vai ser taco a taco", responde um dos dois sportinguistas do grupo. "A menos que o Porto entre com tudo e leve com um do Gyokeres em contra-ataque. A partir daí pode ficar mais fácil. Mas acho que ninguém vai conseguir sufocar o outro".
Enquanto insistem que partilhemos com eles mais uma cerveja, uma entremeada ou uma bifana, vão falando da atualidade futebolística. Da nova realidade do FC Porto, agora com Pinto da Costa a dizer adeus. "Vai sair a estrutura toda...o Conceição também vai embora. Era uma despedida bonita se ganhassem", concordam.
E a conversa prossegue, sempre com o futebol como pano de fundo, lembrando outros momentos de partilha. "O meu pai faleceu há dois anos. Mas uma das coisas que me deixou e me ensinou foi que estes momentos ficam. Pode não correr bem o jogo, mas estes momentos ficam. E como nos recordamos de outros encontros, também daqui a uns anos recordaremos este, espero", diz-nos o principal mentor daquele encontro.
Prognósticos preferem não fazer. "Logo se vê. Mas vai ser equilibrado. Só se alguém entrar logo a matar. Espero que não haja é nenhuma expulsão duvidosa muito cedo que estrague o jogo. De um lado ou de outro. Quem é o árbitro?". "Fábio Veríssimo", respondemos. "Ui...vamos lá ver. Tinha de haver um benfiquista na festa, também", brincam.
E a conversa segue para algumas bicadas ao rival encarnado. "Se fosse o Benfica aqui, se calhar, não era tão fácil haver este convívio", reconhecem.
Despedimo-nos de Gusto, Renato, Costa, Lenito, Miguel, Zé Paulo e Gonçalo, os amigos que vieram de Barcelos, e rumamos então às fanzones dos clubes. Primeiro, o lado azul e branco da festa. À medida que subimos para o outro lado o número de camisolas azuis e brancas vai aumentando. E os gritos pelo FC Porto também. Ainda assim, é possível ver algumas camisolas verdes pelo meio.
Descemos e rumamos à fanzone do Sporting, ao lado verde da festa. Se as camisolas azuis e brancas eram muitas, deste lado o mar verde é ainda maior. Foguetes, fumos esverdeados e muita, muita gente. Os cânticos do costume, que tanto se têm ouvido nas últimas semanas, desde que os leões festejaram a conquista do título de campeões nacionais. A confiança parece reinar entre os sportinguistas.
De um lado e de outro a festa e a animação são grandes. Seja em tons de azul, seja em tons de verde. Mas em nenhuma nos parece tão pura como aquela que vimos quando chegámos e encontrámos aquele grupo de amigos de Barcelos, que confraternizavam entre si, vestindo as camisolas de um e de outro lado. É esta a festa da Taça. E por isso é tão especial.
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