Que não há dois dérbis iguais, já se sabe. Se há três dias o Benfica expôs as fragilidades do Sporting como nenhuma outra equipa fizera até àquele momento, esperava-se agora um reencontro mais fechado na Luz, influenciado, também, pela certeza de que nada ficaria decidido ali. E nada ficou, sobretudo depois daquele pontapé do meio da rua de Bruno Fernandes - já tinha marcado um grande golo no dérbi de Alvalade - ao minuto 82, que deixou os 'leões' vivos nesta meia-final da Taça. Ainda assim, num jogo tudo nada diferente, a equipa de Bruno Lage voltou a ser superior na maior parte do tempo e justificou a vantagem (2-1) com que parte para a segunda mão, daqui a dois meses.

Sem surpresas, Marcel Keizer operou uma revolução na equipa: os reforços Tiago Ilori e Cristián Borja estrearam-se na defesa, enquanto Acuña, Jovane e Luiz Phellype assumiram uma frente de ataque totalmente renovada, com Bas Dost a começar no banco. Não chegou. O Sporting entrou focado em corrigir os desequilíbrios revelados no último domingo, e até conseguiu ter mais bola, mas continuava muito exposto em ataque organizado.

Foi assim que o Benfica abriu o marcador, aos 16 minutos. Recuperação de bola de Salvio - titular pela primeira vez desde a receção ao Rio Ave -, a arrancar em velocidade pela direita e a servir Pizzi numa posição mais central. O camisola 21 esperou pela entrada de Gabriel e depois lançou o brasileiro no lado esquerdo da área, para um remate em força, que Renan não segurou. Em meia dúzia de toques, o Benfica foi de uma área à outra e Gabriel, que não marcava há mais de um ano, depois de ter eliminado o Real Madrid da Taça do Rei, em pleno Santiago Bernabéu, festejou o primeiro golo de águia ao peito.

Na véspera, Bruno Lage tinha afirmado que o Benfica não era "uma equipa só de transições", mas a verdade é que o conjunto 'encarnado' tem sido fortíssimo neste capítulo, muito por culpa da pressão alta sobre o adversário (mérito de Gabriel), aproveitando depois para variar o centro do jogo. Juntando isto à falta de capacidade do Sporting e, sobretudo, de Gudelj, para construir jogadas ofensivas, grande parte do dérbi não passou disto. Só depois da meia-hora é que a equipa de Keizer conseguiu chegar com perigo à baliza contrária, com Bruno Fernandes a rematar e Mile Svilar a defender por instinto.

Pouco depois o Benfica perdeu Jardel por lesão e Lage aproveitou para lançar o estreante Ferro, reeditando-se a dupla 'made in' Seixal com Rúben Dias, quase três anos depois. E o desnorte 'leonino' tornou-se (ainda) mais evidente no segundo tempo: aos 57' Wendel apareceu solto na área, pela esquerda, mas rematou torto, e aos 64’, na sequência de um cruzamento rasteiro de Seferovic, que passou ao largo da defesa sportinguista, João Félix fez um remate-centro que apanhou o calcanhar de Ilori e acabou dentro da baliza de Renan.

Se Alvalade foi o jogo do jovem avançado, desta vez o miúdo teve de aguentar a marcação cerrada dos homens do Sporting, o que o levou a perder alguns duelos individuais, mas continuou a ser decisivo. A sua melhor ação na partida foi quando isolou Seferovic, aos 76', para o suíço desperdiçar na cara de Renan.

A iminência do 3-0 levou Marcel Keizer a arriscar tudo com a entrada de Bas Dost para jogar ao lado de Luiz Phellype, mudando o esquema para 4x4x2, mas seria o génio individual de Bruno Fernandes a relançar a eliminatória (82'). O internacional português foi derrubado por Franco Cervi a uns bons 30 metros da baliza e foi dali mesmo que disparou para o 2-1 final, num golaço de levantar o estádio. Dost ainda festejou o empate em cima dos descontos, mas Luís Godinho já tinha interrompido por falta do holandês sobre o guarda-redes das 'águias'.

Contas feitas, o Benfica volta a bater o Sporting, confirmando o domínio recente sobre o rival, mas fica tudo em aberto para a segunda mão. Em abril...

A figura

Gabriel: O médio brasileiro, que até à chegada de Bruno Lage parecia esquecido, passou a ser um dos jogadores mais importantes na pressão alta que o novo treinador do Benfica implementou. Preponderante na recuperação de bolas no meio-campo, ainda teve tempo para se estrear a marcar de águia ao peito. Acusou alguma quebra de intensidade na reta final da partida, assim como Samaris, mas nada que beliscasse o resultado final.

Reações

Bruno Lage: "Tivemos sempre mais oportunidades, podíamos ter feito mais"

Gabriel: "Soubemos ser superiores ao Sporting"

Keizer: "Temos de melhorar, mas poderíamos ter levado um melhor resultado"

Coates ainda acredita no Jamor: "Sabemos que podemos dar mais"