O Benfica foi a Vizela, depois de ter eliminado dois adversários minhotos do primeiro escalão na Taça de Portugal (Famalicão e Braga), e realizou uma boa exibição que, sem ser dominadora, cumpriu todos os requisitos para uma vitória justa. Golos nos momentos de maior assalto à baliza adversária foram fundamentais para impedir surpresas.
Já a equipa vizelense mostrou fundamentos de equipa grande na forma fácil com que saía a jogar e combinava entre os jogadores no último terço, mas faltou (quase) sempre um último passe que se traduzisse em golo.
O jogo explicado
As águias chegaram a Vizela num grande momento de forma (apenas derrota com o Estoril, na Taça da Liga, em 11 jogos), mas Roger Schmidt sentiu necessidade de mudar protagonistas pra este duelo, mantendo o 4-2-3-1 que tem dado sucesso. Álvaro Carreras estreou-se a titular no lugar de Morato e correspondeu proporcionando muita profundidade no corredor, enquanto que na outra lateral Bah voltou ao banco para o recuo do polivalente Aursnes. Mais à frente, Kokçu substitui Florentino para dar maior capacidade de passe progressivo à equipa e João Mário - em boa hora - completou a orquestra.
A equipa respondeu bem às mudanças e ficou de uma certa maneira mais equilibrada uma vez que, na esquerda, Carreras abria, enquanto João Mário jogava por dentro, e na direita Di María era o elemento mais aberto, enquanto Aursnes dava apoio pelo meio. Esta complementaridade das duas alas permitiu ao Benfica ter os espaços sempre bem ocupados e conseguir rodar a bola mais rápido.
Do outro lado o Vizela não se acobardou e tentou sempre uma abordagem positiva ao jogo. Rbén de la Barrera apresentou o mesmo sistema que o adversário e fez também três alterações em relação à última partida, com o Vitória de Guimarães. Ruberto assumiu a baliza, Anderson voltou ao eixo defensivo e Soro entrou para dar mais consistência ao meio-campo.
A equipa vizelense apresentou um ritmo mais baixo do que as águias, o que gerou muito espaço aproveitado pela equipa de Schmidt, mas mostrou facilidade e qualidade com bola, o que garantiu a criação de muitos lances de ataque. No entanto, nos momentos decisivos, faltou alguma clarividência para fazer o último passe ou a finalização da melhor maneira.
A pressão encarnada foi um elemento presente desde início e Rafa foi eficaz a explorar a velocidade para criar várias situações de perigo, embora a maior parte delas não tenha tido um bom fim. Após várias tentativas, a orquestra benfiquista sintonizou: Rafa conduziu uma correria desenfreada pela esquerda e, já dentro da área, serviu Arthur Cabral que bateu um penálti em movimento para o lado esquerdo da baliza, com classe, permitindo aos encarnados irem mais tranquilos para o intervalo.
O Vizela regressou com vontade de virar o resultado e foi somando tentativas algo inofensivas, algo que João Mário castigou com o 2-0, aparecendo no sítio certo para corrigir uma falha de Arthur Cabral. O golo teve um efeito soporífero nas águias, que pareceram ter adormecido de imediato e Petrov aproveitou para reduzir. O reforço estava no sítio certo para encostar um bom remate de Diogo Nascimento.
Embalados pela redução, os vizelenses agigantaram-se até perderem as baterias e aí o encontro foi perdendo intensidade gradualmente até ao apito final, que marcou encontro entre Benfica e Sporting nas meias-finais da Taça de Portugal.
O momento: toque subtil mas decisivo
O golo de Petrov, três minutos depois do 2-0 benfiquista, foi a acendalha que impediu a chama do jogo de se apagar. Ao invés de ficarem com o jogo controlado até ao final, a excelente reação vizelense ao golo de João Mário permitiu ao Vizela acreditar que era possível chegar ao empate e obrigou os encarnados a terem de sofrer enquanto a avalanche ofensiva minhota durou.
Os melhores: agitadores por natureza
Do lado do Benfica, Rafa foi quase sempre o elemento mais desequilibrador, aproveitando a velocidade que o caracteriza para obrigar a defesa do adversário a constantes esticões em sua perseguição. Fez a assistência para o primeiro golo das águias, mas podias ter gerado mais umas quantas se decidisse melhor e com mais calma nos momentos fulcrais.
Pelo Vizela, o reforço Domingos Quina deixou água na boca, com uma exibição corajosa e destemida. Aliou belos pormenores à frente, com compromisso defensivo, sendo sempre dos mais inconformados da equipa. Faz crer que está só de passagem em Vizela, uma vez que demonstrou qualidades de jogador para outros voos e se continuar na forma que exibiu hoje, pode não demorar muito. Saiu aos 70, quando já não conseguia pensar à mesma velocidade devido ao cansaço.
O pior: apagado como tem sido habitual
A boa exibição coletiva do Benfica torna difícil escolher o pior, mas o mais apagado foi seguramente Kokçu. Veio por 30 milhões de euros como o melhor jogador da Eredivisie em 2022/23 e se calhar por isso esperava-se mais. Não é que tenha somado muitos erros, mostrando assertividade no capítulo do passe, mas não consegue dar o rasgo criativo que o meio-campo encarnado precisa por vezes. Nota-se que tem detalhes de craque e que ainda não está no auge do seu potencial, mas precisa de assumir as rédeas do miolo o quanto antes, se quer conquistar a titularidade absoluta na equipa de Roger Schmidt.
O que disseram os treinadores:
Rúben de la Barrera, do Vizela
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