O jornal italiano Corriere dello Sport revela, esta quarta-feira, o depoimento de Nicoló Fagioli, médio da Juventus, à procuradoria de Turim, no passado verão, no âmbito de um caso que lhe valeu uma suspensão de sete meses. O centrocampista explica como se viu envolvido no mundo das apostas e revela que os donos de plataformas ilegais chegaram a ameaçar partir-lhe as pernas.
Um relato impressionante, no qual fala dos excessos financeiros que cometeu e de como se foi vendo envolto em dívidas.
"Um jogador de futebol, tendo muito tempo livre, acaba por experimentar a emoção das apostas para combater o tédio. Mas com o passar do tempo torna-se uma obsessão", começou por dizer o médio de 22 anos. "Comecei a apostar durante o estágio da seleção sub-21", revelou.
"Apostei na Serie A. No Torino-AC Milan, por exemplo. Mas também na Liga dos Campeões, no Inter-Real Madrid. Apostava, especialmente, em jogos que estavam a decorrer. Pagava por transferência bancária, ou os donos das plataformas vinham ter comigo", explicou.
O jogador da Juventus assumiu ter contraído dívidas significativas durante o último ano, ao ponto de ter sido ameaçado. "Fiquei obcecado com as dívidas, e o dinheiro que eu devia continua a aumentar. Não havia forma de sair. Uma vez, disseram-me que me iam partir as pernas", lembrou.
"A dívida era tão elevada que, se vencesse, já não iria receber nada. Lembro-me de dois desses sites. Dois deles chamavam-se Icebet e Betart, mas estavam sempre a mudar de nomes", acrescentou.
"O pior período foi março-abril de 2023. Durante o Sassuolo-Juventus cometi um erro técnico e fui substituído. Chorei no banco, pensei nas minhas dívidas de apostas...", continuou.
Em setembro de 2022, Fagioli - que recebe qualquer coisa como 1,8 milhões de euros por ano no clube de Turim - já tinha 250 mil euros de dívidas. A própria mãe aconselhou-o a procurar ajuda, algo que o atleta não fez por considerar que conseguia lidar com o problema. "Apostava compulsivamente em frente à TV em qualquer evento desportivo que estivesse a ver, inclusive futebol... até Série B e Lega Pro", disse.
Fagioli acabou por pedir dinheiro emprestado a alguns companheiros, uma vez que o salário já não lhe chegava: "Ao Gatti pedi 40 mil euros, disse-lhe que precisava de comprar um relógio e que as minhas contas tinham sido bloqueadas pela minha mãe. O Dragusin emprestou-me também 40 mil euros."
As dívidas continuaram a avolumar-se. "Cerca de 110 mil euros à 'betar.bet' e à 'specialibet.bet'; cerca de 1,5 milhões à plataforma ilegal 'bullbet23.com'; cerca de 1,3 milhões a outra plataforma ilegal (…); cerca de 31 mil euros a um banco ilegal...", confessou. "Fui aumentando as minhas dívidas e recebia ameaças físicas. Do género 'parto-te as pernas'... Pensei que só estava a jogar para pagar dívidas...", disse ainda Fagioli.
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