Chaka Traorè estreou-se a marcar com a camisola do AC Milan na quarta-feira, ao fazer o terceiro golo dos milaneses na goleada ao Cagliari por 4-1, aos 50 minutos. O atacante aproveitou um ressalto na área, aguentou a carga e disparou a contar. Sairia já perto do final para dar o seu lugar ao amigo e protetor Rafael Leão, autor do último golo do encontro.
"Eu queria marcar este golo há muito tempo. Estou feliz com a vitória e com o desempenho. O treinador deu-me confiança. É uma emoção incrível, não sei o que dizer", comentou um eufórico Chaka à imprensa italiana, depois de fazer o seu primeiro golo pelo Milan a nível sénior.
O jovem avançado costa-marfinense, de 19 anos, já tinha feito a sua estreia a nível profissional no conjunto de Stefano Pioli, quando atuou esta época na Champions pela primeira vez, em novembro de 2023, aos 18 anos, diante do Borussia Dortmund.
Chaka Traorè: fugir da miséria, desafiar a morte para perseguir o sonho
Chaka Traorè foi um dos milhares de migrantes que todos os anos arriscam a vida nas travessias de África e Médio Oriente para Europa, em precárias embarcações, sobrelotadas, que muitas vezes não chegam ao destino. De acordo com números da Organização Internacional para as Migrações (OIM) da ONU, 2.480 migrantes morreram ou desapareceram nas águas do Mediterrâneo no ano passado, números atingidos até novembro de 2023.
Nascido em Attécoubé, subúrbio de Abidjan, na Costa do Marfim, a 23 de dezembro de 2004, Chaka Traorè desembarcou em Itália com um nome falso de Cissé, para tentar a carreira no futebol.
Entrou de forma ilegal em Itália, sob o falso pretexto de que estaria no país para ficar com familiares. O agente e seu representante legal que o trouxe de África viria a ser preso pouco depois, acusado de ajudar e incitar a imigração ilegal. A justiça italiana determinou que Chaka Traorè tinha sido vítima do seu ex-agente.
Sem documentos e e sem familiares em Itália, Chaka foi colocado numa unidade de assistência social da Emília-Romanha, onde mostrou as suas qualidades no futebol, num campo que havia perto da instituição.
Foi ali que foi descoberto pelo presidente da US Audace, uma escola de futebol de Parma. Foi convidado para treinar e a fama do seu talento chegou aos ouvidos dos dirigentes do Parma, o maior clube da cidade, que o contrataram para jogar nos escalões jovens do clube.
O seu talento visível e, aos 14 anos, já jogava com os sub-16. Ali, ajudou o Parma a vencer o Giovanissimi Nazionali em 2021, com a equipa de miúdos nascidos em 2002, ou seja, uma equipa com jogadores dois anos mais velho que Chaka Traorè.
Aos 16 anos, em abril de 2021, foi convocado pela primeira vez para a equipa principal do Parma para defrontar o AC Milan. Viria a fazer a sua estreia exatamente diante dos milaneses, tornando-se no 12º jogador mais jovem a estrear na Série A italiana.
Quatro meses depois, em agosto de 2021, o AC Milan aproveitou a falência do Parma para contratar o extremo para a sua equipa Primavera (sub-19), onde tem vindo a mostrar qualidades.
Esta época, Chaka Traorè tem vindo a trabalhar com a equipa principal do AC Milan. Nos séniores, encontrou no português Rafael Leão um irmão mais velho, um protetor. A ligação entre os dois foi visível quando Chaka, que deu o seu lugar a Rafael Leão, recebeu um caloroso abraço do internacional português.
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