Do drama à euforia em pouco mais de um ano. Foi a 7 de setembro de 2014, em Aveiro, que uma chocante derrota frente à Albânia fez soar os alarmes na Federação. Assim não podia ser. A presença na fase final do Europeu, dada como mínimo obrigatório para uma equipa que desde 2000 não falhou uma grande competição, ficava desde logo comprometida.
Saiu Paulo Bento, entrou Fernando Santos e com ele regressaram Tiago, Ricardo Carvalho, Danny e Quaresma. Pelo meio lançaram-se miúdos com experiência de gente grande e os resultados estão à vista: em seis jogos de apuramento, seis vitórias. Registo imaculado, apenas visto na era Scolari. Ainda que apenas com vantagens mínimas, fator menos agradável para um povo habituado a seleções muitas vezes goleadoras, os três pontos nunca falharam, mesmo em jogos difíceis como as deslocações a Dinamarca e Albânia - esta última a grande surpresa do grupo I.
O registo ia já em cinco triunfos consecutivos e faltava apenas um ponto para garantir a viagem a França. Frente a uma Dinamarca em estado crítico, porém, o discurso pré-jogo demonstrava apenas um objetivo: vencer. E foi o que aconteceu em Braga, ainda que com novo resultado magro.
Com Cristiano Ronaldo novamente "preso" à posição 9 e sob constante atenção da defesa dinamarquesa, foi o meio-campo que sobressaiu. O jovem Danilo Pereira ia rompendo pela raiz as tentativas de ataque adversárias e, mesmo sem total clarividência no transporte do jogo, demonstrava-se fulcral. Tiago, certo como sempre no passe curto. João Moutinho, o pulmão do costume e, já no segundo tempo, o desbloqueador do jogo, graças a uma notável jogada na grande área antes de um 'tiro' certeiro para o fundo das redes de Schmeichel.
Como conjunto, o 'miolo' demonstrou-se sempre determinante, mas também a defesa composta por Cédric, Bruno Alves, Ricardo Carvalho e Coentrão esteve sólida, embora Coentrão tenha estado longe dos seus melhores dias, com ocasionais erros ofensivos e de posicionamento defensivo. Atrás do quarteto, Rui Patrício transmitiu confiança e na reta final do jogo negou por duas vezes o golo dinamarquês com defesas de grande nível.
É no ataque, porém, que continuam a residir as principais dúvidas. Colocado no centro durante grande parte do jogo, Ronaldo esteve quase sempre ao alcance dos centrais adversários, sem espaço para inventar. Apenas quando descaiu com mais frequência para uma ala, já no segundo tempo, conseguiu a espaços ser a grande ameaça que todos conhecemos. Ao seu lado, Nani ainda protagonizou a melhor oportunidade dos primeiros 45 minutos, com um cabeceamento à barra, mas no cômputo geral voltou a exibir-se longe dos seus melhores tempos em termos de criação ofensiva. Já Bernardo Silva é outra história.
Que um jovem de 21 anos chegue à seleção principal e conquiste um lugar no onze inicial é já algo notável e prova da ascensão meteórica do pequeno cérebro do Mónaco. Mas chegar à seleção, ao onze da seleção e ser talvez o mais perigoso elemento na criação de oportunidades é outro nível. A enorme ovação que o público de Braga lhe dirigiu quando Fernando Santos o trocou por Danny disse tudo. Bernardo Silva já conquistou os portugueses, agora terá apenas de continuar a fazer o que tão bem sabe.
E o que se fez depois do jogo? Festejou-se, pois claro. A festa começou no relvado, com a bandeira portuguesa envolta nas costas do herói Moutinho, e prosseguiu para o balneário. Depois, em conversa com os jornalistas, os ânimos estavam já mais serenos, mas houve oportunidade para trocar 'galhardetes': se Fernando Santos entregou todo o mérito aos jogadores, Tiago apontou o selecionador como razão principal do sucesso. Moutinho salientou o trabalho de toda a equipa, tal como Nani, e o jovem Danilo admitiu que a temporada tem sido "de sonho".
Segue-se o encontro com a Sérvia, que será de consagração para a equipa de Fernando Santos. De consagração mas também já de preparação, porque França já não tarda e os portugueses esperam por uma prestação que sare em definitivo as feridas do Mundial do Brasil.
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