Há dez anos, mais coisa menos coisa, que o foco da preocupação geral do povo português no que toca à seleção é quase sempre o mesmo. Não há um '9', um matador, um goleador 'à antiga', diz-se. O último foi Pauleta, que se despediu das 'quinas' depois de um Mundial de 2006 em que não impressionou. E desde então a discussão tem andado mais à volta do "como" contornar a questão - vide o 4-4-2 ao estilo de Fernando Santos - do que do "quem".
Lá pelo verão, depois de um tal dia 10 de julho de 2016, deixou-se temporariamente de falar (tanto) no assunto. Isto porque Eder surpreendeu tudo e todos e deu a Portugal o título internacional que teimava em escapar. O ponta-de-lança foi elevado ao estatuto de herói nacional, deu inúmeras entrevistas e fez inúmeras sessões fotográficas, mas os adeptos não se iludiram ao ponto de acharem que tinha sido encontrada a solução para todos os problemas ofensivos da seleção.
E em paralelo com esse Europeu em França, no norte de Portugal um tal André Silva ia confirmando as credenciais de goleador com a camisola do FC Porto. Começou a época em grande, assumiu-se como a grande referência do ataque dos 'dragões' e com alguma naturalidade chegou à seleção pela mão de Fernando Santos. Esta noite em Thorshavn, pequena capital das Ilhas Faroé, foi o grande culminar da história vivida até agora pelo avançado de apenas 20 anos. Temos mesmo goleador? Parece que sim.
Tal como no jogo com Andorra, André Silva mereceu a confiança de Fernando Santos e foi titular ao lado de Cristiano Ronaldo. Na sexta-feira, em Aveiro, foi o capitão português a conquistar todo o protagonismo, com um 'póquer', mas já então André Silva fez o gosto ao pé. Desta vez o ponta-de-lança quis o foco todo para si. O jogo começou duro, com as Ilhas Faroé a fecharem-se muito, mas com apenas 12 minutos jogados André Silva abriu o marcador. João Mário tentou um passe a rasgar, a bola foi cortada por Gregerson mas sobrou para o '18' de Portugal. Na cara do guarda-redes Nielsen, não falhou.
Estava feito o primeiro do jogo para o miúdo de ouro do FC Porto, agora a dar cartas também na seleção. E apenas dez minutos depois, e já depois de uma tentativa frustrada de Ronaldo de livre direto, chegou o segundo. João Mário entregou a Quaresma, que cruzou tenso para o coração da área. A bola desviou num defesa, Nielsen ainda a afastou, mas André Silva apareceu a cabecear para o segundo do jogo.
O protagonismo já pertencia por inteiro ao jovem avançado, até porque Cristiano Ronaldo estava, por esta altura, demasiado ocupado a evitar ou a recuperar das entradas duras dos faroeses, decididos a fazer do craque português o saco de pancada em Thorshavn. E assim André Silva chegaria ao terceiro do jogo ainda antes de Gediminas Mazeika apitar para intervalo. Uma 'bomba' de João Cancelo - também ele em bom plano - levou a uma defesa incompleta de Nielsen e André Silva voltou a estar no sítio certo para marcar e festejar o golo.
Depois de uma primeira parte com três golos, contra uma equipa defensiva e num relvado sintético que surgia como terreno hostil, uma boa parte do segundo tempo de Portugal foi como seria de esperar: ritmo mais baixo, mais cautelas, mais gestão de esforço. Mesmo assim, houve tempo para mais umas coisas bonitas.
Cristiano Ronaldo marcou um 'golão' aos 65', com um grande remate de pé esquerdo de fora da área, para o 4-0. Gelson Martins somou mais alguns (bons) minutos com a camisola das 'quinas' e André Silva ficou muito perto do 'póquer' aos 70'. Já nos minutos finais, com um fôlego derradeiro, João Moutinho e João Cancelo fecharam o resultado nos 6-0, ambos com assistências de Gelson.
E assim Portugal garantiu a segunda goleada, pelo mesmo resultado, numa dupla jornada bastante "simpática" na teoria e, veio a constatar-se, também na prática. Não houve surpresas, mais uma vez, e os campeões europeus conquistaram mais três pontos na luta pelo apuramento para o Mundial2018. E a bola do jogo vai para casa de André Silva.
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