O médio Pedro Moreira viu recompensado o regresso ao futebol português com a promoção do Arouca à II Liga, a partir do Campeonato de Portugal, cuja conclusão foi antecipada devido à pandemia de covid-19.
“Foi uma sensação boa, porque é sempre uma subida de divisão e o clube merecia isso. Apesar de não ter sido dentro de campo, estávamos muito focados nesse objetivo e com certeza o desfecho seria idêntico se o campeonato continuasse. A festa foi diferente, em casa e longe uns dos outros, mas saborosa”, enalteceu à agência Lusa o centrocampista.
Em 02 de maio, a Federação Portuguesa de Futebol indicou Vizela e Arouca, os dois clubes mais pontuados das quatro séries do Campeonato de Portugal, para a ascensão à II Liga, prescindindo dos ‘play-offs’ com outros seis emblemas, numa opção que gerou polémica e consumou o regresso imediato dos aveirenses às ligas profissionais.
“Há sempre pessoas que vão concordar ou não. Claro que estamos contentes, porque fomos um dos favorecidos no meio disto tudo, mas compreendo perfeitamente que possa não ser justo para alguns. Há pessoas certas para tomar estas decisões superiores. Só temos de respeitá-las e fazer o nosso trabalho dentro de campo”, sustentou.
Pedro Moreira, de 31 anos, esteve desempregado até meados de fevereiro e demorou um par de semanas para se estrear na goleada caseira ao Ginásio Figueirense (9-0), em 08 de março, que consolidou a liderança isolada dos arouqueses na Série B, com 58 pontos, mais oito do que o Lusitânia de Lourosa, logo antes da pausa imposta pelo novo coronavírus.
“Encontrei um ambiente fantástico, receberam-me muito bem e senti-me respeitado. Voltei a ter sentimentos que já não sentia há algum tempo, como acordar de manhã com vontade de ir treinar. Tive propostas do estrangeiro, mas o objetivo era voltar a ser feliz e a jogar futebol e quis ficar por cá, porque o dinheiro não é tudo na vida”, contou.
Para trás ficou uma etapa “pouco positiva” ao serviço do Hermannstadt, da I Liga romena, que proporcionou a primeira experiência fora da zona de conforto, mas veio confirmar o “arrependimento” de ter rejeitado a proposta de renovação apresentada pelo Rio Ave no verão de 2018, quando era capitão, sentia-se “em casa” e “tinha um bom salário”.
“Queria experimentar algo novo e fui para fora com ambições, mas fiquei um bocado desiludido com as condições amadoras do clube, a forma como a direção lidava com os jogadores e o próprio futebol. Sem me agradar muito, foi uma experiência boa para crescer em alguns sentidos e ajudar-me no futuro em outras coisas”, avaliou.
Os nove encontros em solo romeno vieram intermediar a transição fugaz de Pedro Moreira para os campeonatos não profissionais, após um vasto currículo na elite lusa, preenchido com 114 jogos por Boavista, Portimonense, Gil Vicente e Rio Ave, aos quais se acrescentaram 120 aparições na II Liga pelos ‘axadrezados’, gilistas e FC Porto B.
“Fiquei com algum medo por chegar a um patamar onde nunca tinha jogado, mas não senti muita diferença, já que o Arouca está controlado em todos os sentidos e tem um grande plantel, com qualidade para jogar a um nível acima ou até na I Liga. Agora fez-me confusão perceber como alguns jogadores aguentavam treinar depois do trabalho”, notou.
A subida do conjunto da Serra da Freita permitiu acrescentar dois anos ao vínculo contratual do médio, que já aponta baterias ao “objetivo claro” do Arouca em reviver a passagem pelo escalão principal entre 2013 e 2017, abrilhantada com um quinto lugar em 2015/16, traduzido em quatro partidas nas pré-eliminatórias da Liga Europa.
“Aquilo que temos dá para fazer algo engraçado, que nos coloque a festejar no fim, mas claro que vai ter de haver uma ou outra contratação para nos ajudar nessa meta”, frisou o jogador, que foi internacional sub-21 pela equipa das ‘quinas’, consciente da saída do experiente treinador Henrique Nunes, que foi rendido na sexta-feira por Armando Evangelista.
Com formação repartida entre Lousada, Boavista e Pasteleira, Pedro Moreira mostra “felicidade e orgulho” pela “carreira bonita e interessante”, à qual “ficou a faltar uma presença na Liga dos Campeões e a chamada à seleção A”, rumo que “podia ter mudado” caso tivesse conquistado algum espaço no plantel sénior dos ‘dragões’.
“Estava no auge quando era capitão da equipa B e treinava praticamente todos os dias com a equipa principal. Sentia que estava perto dessa estreia, mas não aconteceu. Não fiquei com mágoa, porque tenho um grande carinho pelo FC Porto e sempre me trataram bem. Provavelmente, a culpa não foi deles e devia ter dado um pouco mais”, confessou.
Revitalizado no plano físico e mental, o médio lousadense quer “jogar o máximo possível até alguém empurrá-lo para fora do campo”, enquanto promete amadurecer a intenção de “tentar a sorte” como treinador, priorizando os “reais protagonistas”, em detrimento de “outras pessoas que querem ser mais que os jogadores e estragam o futebol”.
“Quando comecei nas camadas jovens, as coisas eram mais naturais. Não se pensava tanto em egos, criavam-se grandes amizades e éramos todos felizes. Hoje, vemos alguma falsidade, talvez por culpa de tudo o que gira à volta do jogo. Há muito dinheiro envolvido e todas essas pessoas pensam mais na nota que no ser humano”, lamentou.
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