O médio Miguel Rosa expressou hoje crença na readmissão do Cova da Piedade na II Liga de futebol, depois da “tremenda injustiça” que foi a descida antecipada ao Campeonato de Portugal, devido à pandemia de covid-19.
“Quando apareceu o surto, estávamos na nossa melhor fase. Vínhamos de quatro pontos seguidos e os adversários começavam a olhar para nós de outra forma. Já que faltavam muitos pontos e jornadas e não nos podemos defender em campo, o mais justo era acabar o campeonato sem descidas. É injusto o que nos está a acontecer, mas ainda acreditamos na manutenção”, sublinhou à agência Lusa o centrocampista.
O Governo excluiu a continuidade do segundo escalão, suspenso desde 12 de março e com 10 rondas por cumprir, do plano de desconfinamento face à covid-19, ao invés da I Liga e da final da Taça de Portugal, tendo a direção da Liga Portuguesa de Futebol Profissional fixado a despromoção dos piedenses e do Casa Pia, em 05 de maio.
“Penso que vai deixar marcas e para os jogadores nunca é bom, porque ficam com uma descida de divisão no currículo”, admitiu o médio ofensivo formado no Benfica, autor de um golo em cinco jogos pelo 17.º e penúltimo colocado da II Liga, com 17 pontos, mais seis do que os lisboetas e sete abaixo dos lugares de salvação.
Miguel Rosa, de 31 anos, esteve parado na primeira metade da época e regressou ao clube da margem sul do Tejo em meados de janeiro para a terceira experiência consecutiva em Almada, onde se tinha notabilizado com sete tentos em 47 partidas, ajudando os ‘grenás’ a permanecer na divisão secundária desde 2016/17.
“Mal chegou, o ‘mister’ João Alves ligou-me para ver se estava disponível para ajudar o Cova da Piedade. Como gosto muito dele, como pessoa e treinador, e conhecia o clube, fiquei agradado e aceitei o desafio. Quando comecei a jogar, estava melhor fisicamente e já se via o meu ‘perfume’ no relvado, mas a pandemia travou tudo”, enquadrou.
O hiato competitivo justificou-se pela recusa de propostas de outros emblemas da II Liga que “financeiramente não recompensavam”, antecedida por contratempos contratuais com os letões do Ventspils no verão, que inviabilizaram o regresso de Miguel Rosa às pré-eliminatórias da Liga Europa, disputadas em 2015/16 com as cores do Belenenses.
“Assinei um contrato e na véspera de viajar recebi um ‘email’ do clube a dizer que as condições tinham de ser mudadas. Eram alterações muito significativas e só tinha mesmo de rejeitá-las. Prometeram-me carro e casa e não me davam nada disso. Já o ordenado passou para menos de metade do que ia ganhar”, rememorou.
Ao dar preferência às negociações com o Ventspils, o atleta lisboeta prescindiu do convite do Universitatea Cluj, da II Liga romena, mas acabou por falhar as primeiras vivências além-fronteiras, algo que pode suceder a partir de junho, quando termina o vínculo com os piedenses, numa altura em que recebeu “abordagens para saber se ficava em Portugal”.
“São coisas pouco concretas e nada está decidido, mas não fujo à regra de querer continuar nos escalões profissionais. Contudo, ainda não queremos pensar que o Cova da Piedade vai descer. Todo o plantel, equipa técnica e ‘staff’ acredita que este clube merece estar na II Liga, porque cumpriu sempre com as suas obrigações”, defendeu.
Com internacionalizações até ao escalão sub-19, Miguel Rosa evoluiu com empréstimos aos ‘secundários’ Estoril-Praia, Carregado e Belenenses e voltou à Luz na temporada 2012/13, destacando-se ao serviço da equipa B dos ‘encarnados’, com 17 golos e nove assistências em 41 encontros, que o distinguiram como individualidade do ano da II Liga.
“Em 10 meses, fui eleito nove vezes como melhor jogador do mês e sou o futebolista com mais troféus individuais na história daquela divisão. Fiz tudo e mais alguma coisa para merecer uma oportunidade no plantel principal do Benfica, mas o Jorge Jesus entendeu que era melhor não. Se fosse agora, certamente estava nessa equipa”, lamentou.
Essa “mágoa” reconduziu o médio a título definitivo até ao Restelo, onde assinou “bons momentos” em 104 jogos na elite durante quatro épocas e meia, distinguidas com a “alegria marcante” da estreia nas competições europeias, numa caminhada principiada no Águias da Musgueira, à qual “só ficou a faltar o sonho da seleção AA”.
“Talvez a II Liga tenha um jogo mais atlético e a I Liga seja mais rápida, mas não há grandes diferenças. Quando vi que tinha ficado sem oportunidades no Benfica, decidi falar com o presidente [Luís Filipe Vieira] para me deixar sair. Joguei ao mais alto e quero continuar a evoluir, porque ainda tenho seis ou sete anos pela frente”, afiançou.
Promessa no Benfica e certeza no Belenenses, Miguel Rosa despediu-se do Restelo com lágrimas e uma carta emotiva, dando “um passo atrás” para consolidar o percurso nos relvados, onde pretende beneficiar da “estampa física” para jogar “até o corpo deixar”, enquanto equaciona a obtenção dos níveis iniciais de treinador “daqui a um ou dois anos”.
No topo das prioridades do criativo está agora a indefinição sobre o futuro dos ‘grenás’, cujo diretor desportivo, Edgar Rodrigues, anunciou, em 06 de maio, que iria impugnar a descida ao Campeonato de Portugal e lutar “até às últimas consequências” sobre um desfecho que ainda terá de ser ratificado em Assembleia-Geral da Liga de clubes.
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