O treinador português Vítor Pereira, sem clube desde que deixou os brasileiros do Flamengo, lamentou hoje que no futebol impere um clima de “mastiga e deita fora”, em que os projetos “são apenas para o próximo jogo”.
Vítor Pereira abordou o tema à margem do V Fórum de Treinadores, organizado pela Liga Portuguesa de Futebol, no Porto, quando foi instando a comentar o despedimento de José Mourinho do comando dos italianos da Roma.
“No futebol, infelizmente, os projetos são apenas o próximo jogo. É uma coisa que tem vindo acontecer em todo lado, até em Inglaterra, onde tal não era frequente. Estamos numa sociedade de consumo imediato, de mastiga e deita fora, num clima individualista e pouco associativo”, disse Vítor Pereira, que está sem clube desde que saiu do futebol brasileiro.
Sobre os temas debatidos neste fórum de treinadores, no qual estiveram representantes de quase todas as equipas que competem nos dois escalões profissionais portugueses, Vítor Pereira, que compareceu na condição de convidado, destacou o tempo útil de jogo e também os desafios da calendário para a próxima época.
“Os treinadores têm de se juntar mais vezes para discutir os verdadeiros problemas do futebol. Muitas vezes, falamos a quente, no final dos jogos, mas temos de apresentar e debater as soluções”, começou por dizer.
Pela sua experiência internacional, Vítor Pereira disse que é preciso “olhar para os bons exemplos a todos os níveis”, enumerando “as condições de trabalho e o local de jogos, a qualificação dos dirigente e a competência de jogadores treinadores e árbitros”.
“Se quisermos vender bem o futebol temos de proporcionar bom espetáculo”, completou.
Vítor Pereira abordou, também, as alterações do formato competitivo das provas da UEFA e da FIFA na próxima época, que vão trazer mais jogos e mais desafios para as competições nacionais, nomeadamente em Portugal, temendo “um fosso maior” entre os clubes.
“Não tenho dúvidas que quando a densidade competitiva é maior a qualidade de jogo cai. Sei bem do que falo. Há menos tempo de recuperação e mais lesões”, analisou.
Sobre o impacto nos clubes nacionais, o treinador considera que criará “um fosso maior entre as equipas que costumam competir na Europa, com jogos mais competitivos, e as outras que vão ter de ficar à espera do calendário”.
“A qualidade e intensidade do jogo vai diminuir, mas, provavelmente, o objetivo será gerar mais dinheiro. Tenho dúvidas que isso faça evoluir a qualidade de jogo”, acrescentou.
Vítor Pereira foi ainda questionado sobre o seu futuro profissional, reconhecendo estar “a fazer um esforço para ter critério na próxima escolha”.
“Está a custar-me, tenho necessidade de continuar ligado ao jogo, de falar de futebol e partilhar experiências”, completou.
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