O Sporting resolveu nos últimos dias um dos problemas financeiros que mais atormentava o presente do clube, com o acordo para a aquisição dos valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis, conhecidos por VMOCs, ao Banco Comercial Português, anunciado na véspera do recente ato eleitoral do clube de Alvalade, que terminou com a reeleição de Frederico Varandas.
Mas quais foram, afinal, as implicações desse negócio quer para o clube de Alvalade, quer para a referida entidade bancária, num acordo que mereceu desde logo fortes críticas por parte do Benfica, que acusou os mesmo os leões de terem recebido uma espécie de benece que prejudicava todos os portugueses, falando de um "perdão de dívida gigantesco".
Quanto pagou o Sporting?
O Sporting recomprou os Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC) detidos pelo BCP por cerca de 14 milhões de euros (ME), informou o clube à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
De acordo com a nota enviada àquele regulador, o clube leonino recomprou cada um dos 83.416.953 VMOC por cerca de 17 cêntimos (0,168 euros), num total de 14,015 ME.
O Sporting pagou 4,606 ME pelos Valores Sporting 2010 (27.416.953 VMOC) e 9.408.771 ME pelos Valores Sporting 2014 (56.000.000), que venciam em 26 e 16 de dezembro de 2016, respetivamente.
De quanto foi, então, o 'desconto'? E porque existiu?
A aquisição foi, portanto, feita abaixo dos 30 cêntimos que estavam acordados anteriormente, tendo o BCP recebido pelas referidas VMOCs um valor bem abaixo dos 25 milhões de euros.
O BCP terá querido aproveitar ainda esta operação com o Sporting para reduzir a quase totalidade do financiamento e, assim, a exposição do banco ao futebol, mais concretamente ao clube de Alvalade. Essa exposição ficou agora reduzida a uma presença imaterial. Há muito que era conhecido o desejo do BCP em desfazer-se dos referidos títulos e afastar-se o mais possível do mundo do futebol.
Em declarações à LUSA, aquela insituição bancária justificou-se: "O Millennium BCP tornou público há vários anos que ia sair do financiamento aos clubes de futebol. No final de 2021, apenas mantínhamos a exposição ao Sporting. Esses ativos, créditos, VMOC e todas as exposições passíveis de serem alienadas foram colocadas em mercado junto de investidores institucionais num processo estruturado, que permitiu definir o preço que minimiza as perdas do Millennium BCP".
O que 'ganharam' os leões com esta operação?
De acordo com o mesmo comunicado enviado à CMVM na passada semana, o Sporting passou a deter 126.321.668 milhões de ações da SAD, "representativas de uma participação de 83,9% do capital social e dos direitos de voto na sociedade, dos quais, de forma direta, serão imputados os direitos de voto de 101.359.378 ações da Sporting SAD, representativas de uma participação de 67,32%".
De forma indireta, por via do controlo conjunto com a Sporting SGPS, o clube detém ainda os direitos de voto de 24.962.290 ações da Sporting SAD, representativas de uma participação de 16,58%. Verifica-se desta forma uma forte diluição das participações dos restantes acionistas e evitando que eventualmente pudesse vir a ser lançada uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a SAD. As VMOCs iriam vencer a 26 de dezembro de 2026.
O que é que ainda não está nas mãos dos leões?
Agora, sobram pouco mais de 16% do capital que se encontram na posse de outros acionistas. E há ainda outras VMOCs detidas pelo Novo Banco, com quem o Sporting também tentou negociar, não chegando contudo a acordo, tendo aquela instituição bancária o Fundo de Resolução a controlar muitas das suas operações. A conversão dessas VMOC do Novo Banco, representará cerca de 5% do capital da SAD do Sporting.
Antes da operação agora levada a cabo, tinham posições qualificadas na SAD leonina, para além do Sporting, a Holdimo, de Álvaro Sobrinho (29,9%) e a Olivedesportos (3,2%) de Joaquim Oliveira), que agora verão o seu peso reduzido.
Como é que o Sporting financiou esta operação?
Ao mesmo tempo que anunciou o dinheiro invesitido nesta operação com o BCP, a Sporting SAD anunciou também que se tinha financiado em mais 38,5 milhões de euros, através da antecipação de receitas. O clube financiou-se assim com receitas da NOS que teria no futuro e que, quando se concretizarem, seguirão diretamente para o investidor, abdicando assim o Sporting desses proveitos futuros.
Em 2019 a Sporting SAD havia cedido créditos de decorrentes do contrato de cessão de direitos de transmissão televisiva e multimédia, de exploração da publicidade estática e virtual do seu estádio, de distribuição do canal Sporting TV e dos direitos de patrocinador principal. Agora, verificou-se uma emissão adicional de obrigações a título de acréscimo do preço de compra e venda de créditos relativos a direitos de transmissão televisiva e multimédia, bem como com os direitos de distribuição do canal Sporting TV, com vista a substituir passivos, financeiros e não-financeiros.
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