Numa assembleia magna de portas abertas para debater o futuro da União de Leiria, sócios fundadores, antigos atletas, técnicos e dirigentes, autarcas, jogadores da formação e apoiantes esgotaram o auditório do Estádio de Leiria.
O atual presidente do clube, Mário Cruz, deu o mote, assumindo uma possível «viragem na história da União Desportiva de Leiria», depois da descida de divisão, afastamento dos campeonatos profissionais, fuga de jogadores por falta de pagamento e pedidos de insolvência da SAD.
«Vivemos num lamaçal que só sabe quem passou por lá. Não foi fácil dar o peito às balas e engolir toda a quantidade de sapos, mas fizemos tudo em nome da União Desportiva de Leiria. É por ela que pedimos a todos que nos ajudem a ultrapassar este momento difícil».
Vários sócios históricos e adeptos anónimos aceitaram o repto e apresentaram propostas. Entre elas, ganhou força a inscrição de uma equipa na I divisão distrital da Associação de Futebol de Leiria, independentemente da SAD avançar ou não para a II divisão nacional.
A sugestão mais extrema, de extinção do clube e fundação de outro para tentar resolver os 350 mil euros de dívidas referentes a exercícios anteriores a 2000 - ano da criação da SAD -, perdeu força ao longo da noite.
«Conseguem quantificar o ativo de termos as equipas de inicidos, juvenis e juniores no nacional? Quanto é que isso vale? Qual o valor de um Carlos Daniel ou um Filipe Oliveira [internacionais por Portugal nos escalões de formação]?», questionou o vice-presidente Fernando Encarnação.
Praticamente unânime foi a oposição à SAD. Ausente, João Bartolomeu, que presidiu à sociedade desde a sua fundação até ao final de maio, foi bastante visado.
«Apoiei a SAD no início, mas o 'posso, quero e mando' conseguiu provocar uma desestabilização na autarquia, nos sócios, nos directores, nos acionistas da SAD... Tudo interessava à SAD menos o desporto», acusou Eduardo Simões, 75 anos, sócio fundador do clube leiriense.
Também António Alves está contra a SAD, prometendo que só volta a ser sócio «se a União de Leiria recomeçar do distrital, volto a ser sócio. O prejuízo da SAD quem o fez que o pague».
Nélson Monteiro defende ser necessário «esquecer a SAD, porque só nos fizeram mal, machucaram-nos, meteram o nosso nome na lama».
A nível institucional, as relações entre clube e SAD arrefeceram. Os representantes da União de Leiria na assembleia de acionistas abstiveram-se de votar na lista de Manuel Mendes, o novo presidente da SAD, e Mário Cruz não conhece o conselho de administração.
«Apenas sabemos que nenhuma delas reside no distrito de Leiria», sublinhou o presidente do clube, que acredita ser este «o momento oportuno para devolver o clube à cidade e transformar a União de Leiria num clube para todos e não de alguns. É importante romper com o passado recente, que não dignificou a cidade e os associados. Um clube que tem a vitalidade que foi hoje aqui demonstrada não pode ter medo do futuro».
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