O 30º título nacional da história do FC Porto foi o terceiro desde que Sérgio Conceição assumiu o banco dos dragões em 2017-18. Curiosamente, logo nessa época, entrou em grande estilo nos azuis-e-brancos, conquistando pela primeira vez na carreira o troféu mais importante do futebol nacional (a segunda conquista deu-se na temporada 2019-20). Ora, e o que distinguiu esta das outras conquistas e o que fez Sérgio Conceição para se tornar num treinador tricampeão?

Na primeira temporada de dragão ao peito, Sérgio Conceição tinha uma equipa mais vertiginosa, que buscava mais explorar as costas das defensivas contrárias e assumia essa prioridade no jogo ofensivo. O perfil dos médios era desde logo distinto: Héctor Herrera era um todo o terreno talhado para o registo de pressão que o treinador de Coimbra quis logo impor (e mostrava eficácia no passe), Sérgio Oliveira assumiu protagonismo dentro de uma escala que combinava posicionamento correto, postura agressiva e critério com bola, Danilo Pereira não jogou durante grande parte da segunda metade da época mas tinha um perfil mais defensivo e havia ainda André André, o mais criativo Óliver e um Otávio que é denominador comum aos três títulos de Conceição.

No ataque, imperava a lei africana, com as ruturas e a bola em profundidade para Marega, a letalidade na área de Aboubakar e a criatividade incessante de Brahimi a partir da faixa esquerda.

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Há duas épocas, a busca por Marega continuava a ser uma prioridade, sendo que o maliano aparecia várias vezes acompanhado de um Tiquinho Soares que era fortíssimo no jogo aéreo e de um extremo eficaz no um-para-um, cruzamento e jogo associativo como Jesús Corona (havia também a criatividade e velocidade de Luis Díaz a despontar nessa equipa). Era um conjunto robusto no sentido tático e físico do jogo e cuja zona de conforto nos momentos ofensivos passava por acelerar o ritmo e potenciar ataques de curta duração, mas absolutamente incisivos.

Mas já desde a temporada 2020-21, as coisas mudaram um pouco. Sérgio Conceição começou a permutar mais os sistemas táticos, tendo em conta determinadas características dos adversários. Além do mais usual 4-4-2, já vimos o FC Porto atuar em 4-2-3-1, em 5-4-1/5-2-3 (no momento defensivo), 3-4-3 e num 4-2-4 de tração à frente. O aparecimento de um Sporting arquitetado numa saída a três, com laterais projetados e dois homens soltos em torno da referência em apoios (Paulinho) levou a que, em jogos decisivos, Conceição se tivesse adaptado - maioritariamente com sucesso.

Também em contexto europeu, o técnico conimbricense tem mudado o figurino em função do adversário e da proposta de jogo que tem pela frente.

A mudança principal, ainda assim, dá-se no perfil dos jogadores. Agora, existe um avançado forte nas referências em apoio (Taremi), que elabora melhor o jogo nas entrelinhas e sabe corresponder em zona de finalização. Evanilson e Toni Martínez podem “explodir” nas costas dos centrais contrários, mas são mais refinados que a antiga referência ofensiva, Marega.

O enquadramento atual permite o aparecimento do futebol rendilhado de Vitinha e as ligações aproximativas ao golo (quer através do passe, quer do remate) por parte de Fábio Vieira. Uribe também permite outro critério na elaboração a partir da zona intermediária e João Mário dá qualidade técnica e capacidade no cruzamento a partir do flanco direito.

É um FC Porto diferente, mas que continua a saber jogar na vertigem quando é necessário. No entanto, já não sente a necessidade de buscar continuamente esse tipo de ações e consegue elaborar com outra segurança e arrojo em posse (mantendo os princípios já trazidos de 2017 da pressão alta na saída de bola dos adversários).

Este lado mais “camaleónico” do FC Porto de Sérgio Conceição também beneficia o próprio treinador, que assim mostra dinâmicas alargadas nos processos e capacidade de adaptação. É verdade que o antigo treinador de SC Braga, Académica e Vitória SC, entre outros, está na “cadeira de sonho”, mas para o crescimento do prestígio internacional mostrar tais premissas (aliadas a alguns desempenhos europeus interessantes) permite pensar que Conceição terá margem para chegar a um campeonato de topo nos próximos anos.

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