"Nas grandes empresas e grandes clubes o planeamento é feito em função dos ojetivos. Quando existe pouco planeamento ou não o há, temos de rever os objetivos e pensar no futuro próximo. Sou exigente e neste momento a verdade é que está mais difícil mas faz parte do meu trabalho encontrar soluções. É olhar para o futuro e perceber que os nossos objetivos poderão ficar mais difíceis de concretizar". Foi dessa forma que Sérgio Conceição reagiu à saída de Luis Diaz em janeiro, numa altura em que os Dragões lideravam a I Liga, com mais seis pontos que o Sporting, e ainda estavam na Liga Europa.
Antes de ser transferido para o Liverpool por 45 milhões de euros (negócio pode chegar aos 60 ME), o colombiano de 24 anos estava a 'carregar' o FC Porto às costas, a resolver jogos e acumular prémios de Jogador do mês. Apesar de não ser avançado, era o melhor marcador do campeonato, com 14 golos em 18 jogos.
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A saída do influente colombiano causou apreensão na nação portista, uma vez que a equipa perdera o jogador mais influente do campeonato. Os adeptos viam partir a 'galinha dos ovos de ouro' e a solução encontrada- Wanderson Galeno contratado ao SC Braga - não convenciam.
"Sobre a venda de Luis Díaz: um duro golpe nos sonhos dos portistas, que torna mais difícil a conquista do título, a conquista da Taça e muito mais difícil a conquista da Liga Europa, mas um mal necessário devido às difíceis condições financeiras dos clubes portugueses. Terá sido muito difícil para o nosso presidente tomar esta decisão, ele quer ganhar tanto ou mais do que nós! Apelo à união em torno da equipa e treinador, pois temos três troféus para ganhar! Só os mais fortes sobrevivem, nós seremos eternos!", escreveu, na altura, Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões, no Instagram.
Também José Fernando Rio mostrou-se preocupado com a decisão da SAD em vender o seu melhor jogador a meio da época.
"O problema é que a gestão que tem sido feita no FC Porto nos últimos 10 anos leva a que, neste momento, tenhamos de prescindir do jogador mais desequilibrador e melhor marcador a meio do campeonato. O problema é a gestão que tem vindo a ser feita, que é desastrosa, que é ruinosa e que está a levar o clube para um caminho que pode não ter retorno", disse na altura o empresário e jurista, que foi candidato à presidência do FC Porto nas últimas eleições, em 2020.
Os 14 golos que levava nas primeiras 19 rondas da I Liga representavam, na altura, 36 por cento dos golos dos portistas.
Luis Diaz tinha evitado a derrota do FC Porto na Madeira logo na 3.ª jornada e o desaire em Alvalade na 5.ª ronda da I Liga; tinha feito dois importantes golos na Champions, na vitória 1-0 ao AC Milan e no empate com os italianos fora de casa; tinha marcado e assistido na vitória sobre o Boavista (4-1). O 'caffetero' marcou e assistiu na reviravolta por 3-2 diante do Estoril, fez o golo do triunfo diante do SC Braga e marcou também nas vitória 2-1 diante do Vitória de Guimarães e Paços de Ferreira. Marcou pela última vez na 19.ª ronda, na vitória diante do Famalicão.
O colombiano saiu e não levou consigo apenas os golos (16) e as assistências (6) mas também a capacidade do FC Porto em desequilibrar nas alas. Sérgio Conceição viu partir o seu 'abre-latas' e teve de se readaptar.
Na readaptação, emergiu Fábio Vieira, o 'joker' de Sérgio Conceição. A versatilidade do jovem criativo de 21 anos permitiu ao técnico uma mutabilidade tática dentro do seu 4-4-2, que se transformava em 4-3-3 muitas vezes, sem mudar as peças. A jogar nas costas do avançado, livre na frente, ou descaído numa das alas como organizador aberto ou mais recuado, como construtor na zona intermédia, Fábio Vieira ajudou a esquecer Luis Diaz.
É verdade que o internacional sub-21 por Portugal já vinha a assumir protagonismo na equipa, mesmo com Luis Diaz. Antes da saída do colombiano, Fábio Vieira levava nove assistências e dois golos marcados. Depois disso, assistiu os colegas em seis ocasiões, além de ter marcado mais cinco golos. Ou seja, sem o 'caffetero', o franzino criativo passou a marcar mais e a assistir menos.
Quem também emergiu com a saída de Luis Diaz foi Pepê. O extremo ex-Grêmio esteve tapado pelo colombiano mas a saída de Diaz levou-o ao onze, algumas vezes como lateral direito, abrindo assim espaço para Fábio Vieira mais a frente. Pepê marcou três golos (Lyon, Paços de Ferreira e Marítimo) e assistiu na goleada diante do Portimonense (7-0).
Mais do que os golos, os portistas passaram a saber com o que contar, num jogador que custou 15 milhões de euros aos cofres dos azuis e brancos.
No plantel azul e branco, Pepê é o jogador que mais se aproxima de Luis Diaz na capacidade de criação no um-para-um, no desequilibrar em espaços curtos, na condução em velocidade, embora esteja longe da frieza do colombiano à frente da baliza.
Mesmo tendo saído no final de janeiro, Luis Diaz continua a ser o segundo melhor marcador do FC Porto no campeonato, com os 14 golos que marcou em 18 jogos. De lá para cá, Evanilson disparou e já conta com 14 golos (nove após a saída de Díaz) na prova em 28 jogos, Mehdi Taremi também ganhou ainda mais protagonismo à frente da baliza, com 20 golos (nove já sem o colombiano) em 30 partidas disputadas, além das 13 assistências que leva no campeonato.
Os números dizem que o FC Porto cresceu no número de golos no campeonato desde a saída de Luis Diaz: quando se despediu dos colegas, o FC Porto tinha 51 golos marcados em 19 rondas.
Os resultados mostram que a equipa conseguiu dar a volta à saída do seu jogador mais influente até chegar ao tão desejado título de campeão nacional.
Tal como tinha dito, Sérgio Conceição conseguiu arranjar soluções dentro do plantel, apesar dos sobressaltos que passou.
O 'caffetero' regressará à Invicta um dia para receber a sua medalha de campeão nacional 2021/22.
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