Pinto da Costa deu uma entrevista ao PortoCanal onde falou da nova época do FC Porto e da construção do plantel para 2022723. De visita à Madeira, o líder portista falou das saídas e das entradas, das propostas que já recebeu, dos títulos da época passada e das conquistas nas várias modalidades.
Saída de Mbemba: "A partir do momento em que o Mbemba saiu, porque quis, não foi por não termos negociado, até porque tentámos tudo e chegámos a números que, se calhar, não devíamos chegar, mas mandou uma mensagem ao engenheiro Luís Gonçalves a dizer que estava disposto a continuar no FC Porto, mas que queria um salário de sete milhões de euros limpos. Ora, quando um jogador, seja ele quem for, pede a um clube como o FC Porto ou a qualquer clube português, um salário de euros limpos, acho que era mais simpático dizer: 'olhe, não tenho condições para continuar, tenho outros objetivos e gostei muito de estar aqui'. E ia à vida dele."
Muitas saídas a custo zero no FC Porto: "É a realidade do futebol, Quando mudaram as regras e os jogadores puderam ficar livres, isso agora vê-se em todos os clube em países. Nós queremos sempre renovar antes e eu tenho a prova disso nos contratos que fizemos das renovações, mas se um jogador não quiser renovar, vamos dizer que não joga? Não, porque estaremos a pagar a não tiramos rendimento. A nossa intenção é renovar, esperando que o jogador queira ficar, melhorando as condições, mas se um jogador pede sete milhões limpos, isso é a mesma coisa que dizer que não quer renovar."
Saída de Vitinha: "O que disse quando se falou do Vitinha, é que tivemos uma oferta de 30 milhões e não o vendemos, contra a opinião de alguns que achavam que era um grande negócio. Eu disse que só saía pelos 40 milhões, desde que recebêssemos logo o dinheiro. Apesar da renitência em cumprirem isso, o Vitinha só foi fechado às nove da noite do último dia de transferências. Aí foi importante o contributo do empresário Jorge Mendes, porque tinha ótimas relações com o Paris Saint-Germain e ajudou a convencê-los e fez-lhes ver que eu não ia ceder, dando-lhes vários exemplos de outros casos, porque eles achavam que estava a fazer bluff, mas à nove da noite viram que era a sério e o negócio foi feito como nós quisemos."
Propostas por outros jogadores: "Também disse que não saía mais nenhum jogador que não fosse pela cláusula. A prova disso é que tivemos, e posso prová-lo - e agora vêm os paineleiros dizer que não tinha nada – uma oferta de 60 milhões de euros por um jogador e eu não aceitei, até por uma questão de princípio, porque quem quiser um jogador do FC Porto já sabe que tem de pagar a cláusula em dinheiro. Agora, se chegar aqui um clube e der 80 ou 100 milhões pela cláusula, não temos de pensar ou decidir, nem podemos evitar, desde que o jogador queira ir. Agora, a única garantia que posso dar o treinador é que daqueles que fazem parte do grupo forte da equipa nenhum sairá abaixo da cláusula de rescisão. Mesmo que alguns queiram pagar a cláusula, tenho esperança que alguns não queriam sair já do FC Porto."
Renovações com jovens da formação: "Estamos a tratar das renovações. O Gonçalo Borges pode acrescentar muito à equipa, se tiver cabeça, no bom sentido, e dedicar-se a 100 por cento, como tem feito. Tem a felicidade de ter um treinador que vai permitir-lhe evoluir muito. Daí a razão de termos renovado".
Stephen Eustáquio em definitivo: "O Eustáquio fizemos um contrato por cinco anos. É uma aquisição, porque ele estava apenas por empréstimo, mas o nosso treinador, o Sérgio Conceição, entendeu que devia ficar, porque conta com ele como um valor certo. Por isso é que fizemos um esforço, não tão grande como no caso do David Carmo, mas contratamos um jogador que vai ser muito importante no meio-campo."
Outras renovações no plantel: "Sim, estão a ser trabalhadas para haver melhoria de condições porque há algumas diferenças que não são justas. Não há jogadores iguais, há condições diferentes, mas ninguém vai para um país longínquo se não tiver melhores condições. Vamos tentar aproximar o mais possível, mas sem loucuras de cinco ou sete milhões. Quem pensar nisso tem de começar já a pensar para onde quer ir. Olhe, que venha para a Madeira, porque aqui é feliz de certeza."
Centro de Estágios: "Está em andamento, a passo acelerado e tenho esperança que, quando terminar o meu mandato em maio de 2024, se não estiver pronto, que estará em fase muito adiantada. É uma necessidade grande. Não vou estar a abrir o jogo nem a revelar onde é, mas posso dizer que estamos a trabalhar afincadamente."
Nova época: "Como diz o Pepe, vamos ser o alvo a abater. E quando o Pepe diz que vamos ser o alvo a abater, não está a pensar que o ponta de lança do Arouca vai jogar com mais vontade contra o Porto do que contra o Benfica ou contra o Sporting. O que sabe é que um qualquer erro de um jogador do FC Porto vai ser martelado, um erro ou uma palavra do treinador vai ser explorada, uma palavra do presidente… Ui, isso vai dar para muitos programas".
Críticas ao FC Porto: "Felizmente nunca falo, porque eles também não querem que eu fale e nunca me convidaram para dar entrevistas. Outro dia um amigo meu me dizia: 'Só falas para o Porto Canal'. E eu disse-lhe: 'Mas o que é que tu queres? Que chegue lá e diga estou aqui, sou o presidente, quero falar? Não me convidaram, não vou falar sem me terem convidado'. Sei que sou persona non grata nesses sítios, falo onde querem. Não tenho nenhuma proteção ao Porto Canal. No dia em que fomos campeões, houve um canal, a SIC, que teve uma ideia que achei interessante, que foi acompanhar o meu dia a dia e disse que sim. Pediram-me e disse que sim. Se tivesse a dar um protecionismo ao Porto Canal, podia dizer que tinha tido uma boa ideia e fazer aqui. Não. Faço sempre com quem quer. Agora, não me ofereço, nem falo com qualquer pessoa. Se agora me viesse pedir para falar com esses artistas que andam ali a decifrar e vociferar, é evidente que não. Mas em todas as televisões dignas, capaz e que merece o meu respeito."
Esperava a continuidade de Sérgio Conceição? "Esperava e espero mais, porque uma das responsabilidades que me cabe diretamente é a escolha do treinador. Penso que não tenho escolhido mal, porque, se repararem, tivemos um treinador que era o mestre dos mestres [n.d.r. José Maria Pedroto], que infelizmente em janeiro de 1985 faleceu e uns meses antes teve de deixar a direção do FC Porto. Mesmo assim, com o seu trabalho, em maio de 1984 fomos a uma final europeia, que era uma coisa que constava do meu programa. Infelizmente, ele partiu e criou-se uma ideia nos sócios que agora nunca mais ganharíamos nada e que seria uma desgraça. Foi realmente uma desgraça perder um amigo, mas em termos de FC Porto não foi uma desgraça, embora ele pudesse ter feito um trajeto brilhante e posto o FC Porto ainda mais cá em cima. Mas é Deus quem escolhe quando nós partimos e escolheu esse fatídico dia de 7 de janeiro de 1985".
Treinadores campeões: "Depois de se pensar que nunca mais iríamos ter um treinador que ganhasse, o FC Porto teve doze treinadores campeões. Teve o Artur Jorge, o Ivic, o Bobby Robson, o António Oliveira, o Fernando Santos, o José Mourinho, o Co Adriaanse, o Jesualdo Ferreira, o André Villas-Boas, o Vítor Pereira e, finalmente, o Sérgio Conceição. Portanto, não se pode dizer que nenhum treinador veio salvar… O FC Porto ganhou cinco provas europeias e, dessas cinco, sendo que duas são internacionais, porque são duas Intercontinentais, quatro foram ganhas por treinadores portugueses, que, até virem para o FC Porto, não tinham ganho nada. Portanto, o FC Porto recebe e recebeu muito de todos os treinadores, mas todos os treinadores se projetaram também com o FC Porto".
Treinadores com mística: "O que é preciso é escolher um treinador que seja capaz, que tenha e sinta a mística. Se não a tiver, que perceba o que é o FC Porto e rapidamente a ganhe. Tivemos treinadores do FC Porto, como atualmente, que sentem o Porto, quer sejam treinadores ou não. Tivemos, por exemplo, o Artur Jorge, mas também tivemos treinadores, como o Mourinho, que não tinha nenhuma afinidade com o FC Porto e vestiu a camisola, viveu e transmitiu essa mística a todos.
Treinadores pouco valorizados no FC Porto: "Os nossos treinadores têm de saber uma coisa: quando estão no FC Porto, são maus, arruaceiros, malcriados e antipáticos. No dia a seguir saem para outro clube e são uns génios. O Mourinho era dos treinadores mais perseguidos pela comunicação social. No dia em que foi para o Chelsea, era o 'number one'. Passou do atrevido, do insurrecto para o 'number one'. Isso é o que os treinadores têm de saber: que vir para o FC Porto tem esse custo. Agora, quando se tem de escolher o treinador, tem de se sentir que o treinador é capaz de resistir a tudo isto e que se vai focar, como o Sérgio Conceição, apenas no seu trabalho. E o seu trabalho tem um objetivo, é ganhar. Pode não ganhar e, se tiver um bom trabalho, naturalmente que o respeitamos sempre. Agora, tem que ganhar. E felizmente, repito, depois do José Maria Pedroto tivemos 12 campeões no FC Porto."
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