A direção do Desportivo das Aves cedeu o pavilhão do clube aos futebolistas e outros funcionários do lanterna-vermelha da I Liga para realizarem testes à covid-19, dois dias antes da receção ao Benfica, da 33.ª jornada.
“Temos feito tudo para desbloquear situações que são impostas pela [acionista da SAD] Estrela Costa, mas a porta está fechada, eles estão trancados no estádio. O plantel esteve disponível para fazer o teste, sem o qual o jogo já seria inviável, pelo respeito ao clube e não à SAD. Isto é muito grave para o futebol português e já tem repercussão no estrangeiro”, referiu aos jornalistas o presidente António Freitas.
Os nortenhos vão faltar ao jogo com o Benfica, uma vez que a apólice de seguro de acidentes de trabalho foi anulada, confirmou hoje à Lusa fonte da administração liderada pelo chinês Wei Zhao, que já tinha cancelado o treino agendado para as 17:30 e a despistagem ao novo coronavírus, obrigatória nas 48 horas anteriores à partida com as ‘águias’, consoante o protocolo definido para o reinício da I Liga em plena pandemia.
“A primeira coisa que fiz foi o teste para poder estar sempre com o grupo. Já tinha oferecido a estadia e o autocarro, mas a Estrela inventa sempre mais despesas e não paga nada nem a ninguém. O que é que ela quer fazer a este clube? A Liga e a Federação Portuguesa de Futebol não podem processar estas pessoas, que tão mal fazem ao futebol português?”, questionou o dirigente, que foi eleito em 27 de junho.
As duas situações comprometem a realização do jogo de encerramento da penúltima ronda do campeonato, na terça-feira, às 21:15, mas a formação de Nuno Manta Santos voltará a repetir os testes na segunda-feira, quando vence o terceiro mês seguido de salários em atraso, mostrando “estar de corpo e alma” com o emblema de Santo Tirso.
“Temos aqui trabalhadores com salário mínimo que não recebem há seis meses. Não me interessa as derrotas que tiveram, mas a postura de hoje e não posso acusá-los de nada. Agora, se Estrela Costa continuar irredutível, os atletas não treinam. E se forem treinar para outro lado, ainda correm o risco de serem processados e despedidos com justa causa”, observou António Freitas, em declarações junto ao Estádio do CD Aves.
Defendendo que a administração “tem de ser banida” e Estrela Costa “está a complicar a vida do Aves para ver se há tumultos”, o presidente honorário pede “calma à população, simpatizantes e claque” enquanto “tudo faz para elevar a história do clube”, sob pena de “perder a razão se alguém usar a violência ou as ameaças”, num diferendo que originou reuniões na sexta-feira com Pedro Proença e outros dirigentes da Liga de clubes.
Os avenses ameaçaram há dois dias faltar ao jogo no estádio do Portimonense, da 34.ª e última jornada da I Liga, marcado para 26 de julho, de forma a “salvaguardar a transparência na luta pela permanência”, uma vez que receiam “não reunir jogadores suficientes e que garantam uma equipa competitiva” contra os algarvios.
O lanterna-vermelha deveria enfrentar o Portimonense, 16.º colocado e primeiro clube acima da zona de despromoção, com os mesmos 30 pontos de Vitória de Setúbal, 17.º e penúltimo, e Tondela, 15.º, envolvidos numa fuga à descida, que ainda engloba o Belenenses SAD (14.º, com 32 pontos) e o Paços de Ferreira (13.º, com 35).
O guarda-redes Quentin Beunardeau e o avançado Welinton Júnior desvincularam-se do emblema do concelho de Santo Tirso em abril, em plena pausa competitiva motivada pelo novo coronavírus, alegando sucessivos incumprimentos salariais, verificados desde dezembro de 2019, enquanto o defesa Jonathan Buatu, os médios Aaron Tshibola, Estrela e Pedro Delgado e o avançado Kevin Yamga saíram nas últimas duas semanas.
A SAD do Desportivo das Aves foi absolvida em 30 de junho da acusação de incumprimento salarial com jogadores e treinadores entre dezembro e março, mas aguarda pela resolução de outro processo idêntico, assente na ausência de documentos comprovativos quanto à regularização dos vencimentos dos meses de março e abril.
O assunto foi remetido da Liga Portuguesa de Futebol Profissional para o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol em 09 de junho, podendo custar uma penalização de dois a cinco pontos, face aos 17 somados em 32 jornadas pelos nortenhos, que confirmaram a despromoção à II Liga em 29 de junho.
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