Sinisa Mihajlovic é o novo treinador do Sporting. O treinador sérvio de 49 anos é a aposta de Bruno de Carvalho e de Augusto Inácio para comandar os 'leões' na próxima época sendo esta a primeira vez que o atual presidente do Sporting escolhe um técnico estrangeiro para assumir a equipa principal de futebol depois de Leonardo Jardim, Marco Silva e Jorge Jesus.
O novo treinador do Sporting nasceu na Croácia e cresceu na antiga Jugoslávia onde começou a jogar futebol no clube do seu bairro, o NK Borovo. Filho de pai sérvio (Bósnio) e de mãe croata, Mihajlovic nunca escondeu a sua admiração pelo regime ditatorial do marechal Tito, que liderou os destinos da Jugoslávia entre 1943 e 1980.
"Com Tito havia valores, família, uma ideia de País e Povo. Com ele, a Jugoslávia era o país mais bonito do mundo", afirmou Sinisa Mihajlovic numa recente entrevista. Quando questionado sobre a sua alegada posição de proximidade aos valores da extrema-direita, o antigo jogador sérvio assume que: "Se nacionalista significa patriota, se isso significa amar a minha terra e minha nação, bem, sim, eu sou".
Apesar do seu nacionalismo sérvio, Sinisa Mihajlovic começou por destacar-se ao serviço da Croácia nos torneios inter-repúblicas da Jugoslávia durante a década de 80. Aos 18 anos desperta o interesse de clubes como o Estrela Vermelha e o Dínamo Zagreb, mas acaba por rumar ao Vojvodina depois do clube de Belgrado ter perdido o interesse em contratá-lo. Já em relação ao Dínamo Zagreb, reza a história que o clube não queria oferecer um contrato profissional a Sinisa Mihajlovic e que para além disso, o jogador teria de cortar o cabelo. Rebelde por natureza, o jovem jogador acaba por jogar no Vojvodina, mas por pouco tempo, uma vez que o Estrela Vermelha acaba por contratá-lo pouco tempo depois numa transferência que custou um milhão de marcos alemães, para além de um Mazda 323F e de um apartamento T3 em Belgrado, para Mihajlovic assinar um contrato de quatro anos.
Quando jogava no Estrela Vermelha de Belgrado, a profissão de Sinisa Mihajlovic acabou por 'salvar' um tio quando rebentou a guerra nos Balcãs, no início da década de 90, e as forças croatas iniciaram uma luta armada pela independência da Jugoslávia. E é neste clima de conflito que o jovem Mihajlovic vê a sua família ser dividida na sequência da destruição da casa onde viviam vários familiares seus junto à fronteira entre a Croácia e a Sérvia. O pai de Mihajlovic, sendo sérvio, acabou por ser capturado pelas forças croatas enquanto que a sua mãe, croata, acabou por ter permissão para ficar em Borovo, um pacato bairro junto ao Danúbio onde viviam cerca de 50 mil pessoas. Já um tio de Mihajlovic, também ele croata, foi detido pela Guarda Voluntária Sérvia, e declarado prisioneiro de guerra. No entanto, quando os elementos da Guarda Voluntária Sérvia revistaram os pertences do tio de Mihajlovic encontraram uma agenda de contactos onde constava o número do jogador do Estrela Vermelha. Contactado pelos militares, Mihajlovic apressou-se a regressar a casa para salvar a vida do tio, confirmando que ambos eram efectivamente familiares.
Ao serviço do Estrela Vermelha de Belgrado, Sinisa Mihajlovic conquistou um dos títulos mais importantes da sua carreira ao vencer a Taça dos Campeões Europeus de 1991 numa equipa em que atuavam jogadores como Savicevic, Pancev ou Prosinecki. No jogo da meia-final frente ao Bayern Munique, Mihajlovic foi considerado o melhor jogador em campo depois de apontar os dois golos da equipa de Belgrado no triunfo por 2-1 que permitiu ao Estrela Vermelha apurar-se para a final de Bari contra o Marselha. Frente aos franceses, o Estrela Vermelha acabaria por vencer na marcação de grandes penalidades numa das finais 'mais aborrecidas da história da Liga dos Campeões', segundo o próprio Mihajlovic.
"Acho que foi a final mais aborrecida da história da Liga dos Campeões. Passámos 120 minutos em campo praticamente sem tocar na bola. Se tivéssemos entrado no jogo com uma mentalidade atacante, provavelmente teríamos perdido, não por o Marselha ser necessariamente melhor do que nós, mas porque aqueles jogadores estavam habituados a jogar grandes jogos e nós tínhamos uma equipa com rapazes de 21, 22, 23 anos", afirmou Mihajlovic numa entrevista à revista 'France Football' sobre a final de 1991.
Após a conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1991, Mihajlovic ruma à Serie A italiana depois de uma acessa luta entre Juventus e AS Roma pela contratação do jovem extremo, mas a presença do técnico sérvio Vujadin Boškov na capital italiana acaba por pesar na decisão de Mihajlovic em rumar ao Estádio Olímpico.
Depois de duas épocas na AS Roma, em que jogou muitas vezes a lateral esquerdo por lesão de Amedeo Carboni, Mihajlovic sai do emblema romano para jogar ao serviço da Sampdoria de Sven-Göran Eriksson e onde chega a apurar-se para a final da Taça UEFA. No clube genovês, o técnico sueco faz Mihajlovic recuar no terreno de jogo até à posição central, uma mudança que acabou por beneficiar o internacional sérvio, que assim conquistou um lugar nos convocados e na equipa titular da Sérvia no Mundial 1998.
Pela mão de Sven-Göran Eriksson regressa a Roma em 1998 para representar a SS Lazio. Ao serviço do emblema romano, Mihajlovic regressa aos títulos e em seis épocas na capital italiana conquista uma Supertaça de Itália, uma Taça das Taças, um campeonato italiano e uma Taça de Itália. Mas se foi na Lazio que Mihajlovic conheceu os maiores sucessos desportivos, também foi no emblema romano que o mundo conheceu a faceta mais anti-desportiva do antigo internacional sérvio, nomeadamente no ano de 2000 durante um jogo com o Arsenal para a Liga dos Campeões. No final do jogo, Patrick Vieira acusou Mihajlovic de insultos de teor racista, algo que o ex-jogador sérvio não desmentiu, mas que argumentou ter sido em resposta aos insultos do ex-internacional francês depois deste lhe ter chamado 'cigano de m...". O caso marcou a atualidade desportiva da altura com a polícia italiana a apurar que Mihajlovic passou o jogo a insultar Patrick Vieira apelidando-o de 'macaco p...". Na sequência dessa investigação da polícia italiana, Mihajlovic acabou por pedir desculpas públicas e garantir que os dois jogadores ficaram amigos depois desse incidente.
Terminada a passagem pela Lazio, Mihajlovic rumou ao Inter de Milão em 2004 como jogador livre para ser comandado pelo antigo companheiro de equipa Roberto Mancini. Em duas épocas, Mihajlovic conquista um campeonato italiano, duas Taças de Itália e uma Supertaça antes de pendurar as chuteiras em 2006 e assumir o cargo de treinador adjunto de Mancini até à altura em que José Mourinho chegou ao Giuseppe Meazza.
Percurso como treinador principal
Com a saída de Roberto Mancini do Inter de Milão, Mihajlovic acabou por estrear-se como treinador principal no Bolonha, mas a experiência só durou cinco meses. Seguiu-se depois o Catania durante cinco meses e a Fiorentina, clube que treinou durante um ano e cinco meses.
Apesar de ter assumido a missão de coordenar a seleção da Sérvia durante o Mundial 2014, Mihajlovic acabou por sair e regressar a Itália para treinar a Sampdoria entre 2013 e 2015. Na época de 2015/2016, Filippo Inzaghi é despedido do AC Milan e Mihajlovic aceita o convite para substituir o antigo internacional italiano no comando técnico dos rossoneri. No AC Milan tem coragem para lançar jovens talentos, nomeadamente o jovem Donnarumma, Davide Calabria e Suso, mas nem o apuramento para a final da Taça de Itália garantem a permanência de Mihajlovic, que é despedido após uma derrota com a Juventus por 2-1 em jogo a contar para a 32ª jornada da Serie A.
Contudo é na sequência da sua saída do AC Milan que Sinisa Mihajlovic profere uma das frases mais polémicas da sua carreira enquanto treinador, e tudo por causa das declarações de uma mulher. A antiga noiva de Kevin-Prince Boateng, Melissa Satta, revelou que na altura em que Mihajlovic treinava o AC Milan o balneário "não tinha serenidade" porque o técnico tinha a tendência para deitar facilmente abaixo os seus jogadores em vez de os levantar, ao que Mihajlovic respondeu: "Considero que as mulheres não deveriam falar de futebol. Não são aptas".
Outra das polémicas a envolver Mihajlovic ocorreu no ano passado na Serie A quando o técnico sérvio orientava o Torino. Tudo começou quando adeptos da Lazio decidiram vestir uma camisola de Anne Frank para provocar os rivais da AS Roma num acto que foi severamente condenado pelas entidades do futebol italiano que classificaram o ato como sendo um ato deliberado de provocação anti-semita. Quando questionado pelos jornalistas sobre a referência à adolescente alemã vítima do Holocausto nazi, Sinisa Mihajlovic simplesmente desvalorizou a polémica ao afirmar: "Anne Frank? Não sei quem era".
Apesar destas polémicas, o novo treinador do Sporting tem uma característica bem vincada no seu trajecto como técnico. Mihajlovic é disciplinador e gosta de apostar em jogadores jovens. Nas últimas duas épocas ao serviço do Torino, Mihajlovic ajudou a potenciar jovens jogadores como o lateral esquerdo Antonio Barreca, o extremo direito Simone Edera, o lateral direito Zappacosta e o médio Benassi e Belotti.
Nos clubes por onde passou, Mihajlovic foi quase sempre obrigado a passar por dificuldades e a operar mudanças significativas nas equipas de forma a criar uma identidade. A aposta em jogadores jovens tem ajudado ao rejuvenescimento das equipas de Mihajlovic, mas há um facto que salta também à vista: o técnico raramente terminou um contrato pelos clubes por onde passou. Segue-se agora o Sporting onde Mihajlovic terá muito trabalho pela frente.
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