No futebol costuma dizer-se que quando uma equipa ganha, todos ganham e que quando perde, todos perdem. Naquele que foi o jogo mais importante da sua carreira, como o próprio o definiu, Nuno Pinto saiu vitorioso e, por isso, pode dizer-se que conquistou mais do que os três pontos, conquistou uma nova vida.
A notícia de que Nuno Pinto, jogador do Vitória de Setúbal, sofria de um linfoma chocou o mundo sadino e lançou uma onda de solidariedade como há muito não se via no futebol português. A história é feita de heróis e, apesar do atleta sadino não se considerar um deles, a sua forma como superou a doença terá, certamente, inspirado muitas pessoas.
Foi no passado dia 16 de dezembro que o presidente do Vitória de Setúbal revelou, em conferência de imprensa, que Nuno Pinto, lateral esquerdo dos sadinos, tinha sido diagnosticado com um linfoma.
"Costuma-se dizer que por trás de um jogador está o homem. Estamos aqui com o Nuno Pinto, não enquanto jogador, mas sim como homem, porque no âmbito de um exame detetado pelo nosso departamento médico foi verificado que o Nuno Pinto tem um linfoma", começou por dizer Vítor Hugo Valente.
"A notícia foi para nós um verdadeiro choque, mas no futebol todos estamos habituados a que na hora da derrota o primeiro pensamento é seguir-se uma vitória. O Nuno Pinto tem tido acompanhamento do departamento médico do Vitória, o doutor Ricardo tem sido incansável a acompanhá-lo em todos os procedimentos necessários", acrescentou o dirigente dos sadinos, ladeado pelo jogador.
"O Nuno entendeu transmitir a todos os colegas e staff a situação com que estava confrontado. Para evitar especulações, com o assentimento do Nuno, entendemos tornar público, sendo que é nestas horas que homens e instituições são colocados à prova. Neste caso para nós é fácil estar aqui nesta hora de dificuldade, por paradoxal que possa parecer. O Nuno contará com o apoio de todos nesta casa, dirigentes, staff, todos os colegas, e todos os que cá trabalham", concluiu, na altura, Vítor Hugo Valente.
Em mensagem de apoio ao companheiro de equipa, Vasco Fernandes assumiu o papel de porta-voz do plantel sadino e garantiu que os jogadores iam manter-se ao lado do defesa de 32 anos.
"Ele [Nuno Pinto] é um guerreiro e Deus dá grandes batalhas aos grandes guerreiros. Todos temos a certeza que ele vai vencer esta batalha. Tem a ajuda de grandes profissionais e de grandes pessoas. Da família, dos pais, dos filhos, da mulher, toda a gente vai ajudá-lo nesta batalha. Estaremos sempre com ele, em qualquer hora ou em qualquer momento. Ele é um dos nossos e nunca deixamos cair um dos nossos. Daqui a uns tempos vamos lembrar isto como mais uma batalha que vencemos. É um grande homem, uma grande pessoa e um grande pai. Ele vai vencer", afirmou o capitão de equipa sadino.
Emocionado com tamanha manifestação de carinho dos colegas de equipa, técnicos, dirigentes, familiares e adeptos que estiveram na conferência de imprensa, à frente dos jornalistas, o jogador de 32 anos não conseguiu proferir nenhuma palavra. Mas a notícia de que padecia de cancro não apanhou de surpresa o sadino. Agora, em entrevista exclusiva ao SAPO Desporto, o jogador português recorda como foi o momento do diagnóstico, sublinhando que já desconfiava de que algo não estava bem com a sua saúde.
“Quando me foi diagnosticado o linfoma não me apanhou de surpresa porque à medida que fui fazendo os exames iam-me dando sempre algumas notícias do que realmente podia ser aquilo. Quando cheguei a casa e tive a confirmação perguntei ‘Porquê eu?’. Mas no minuto seguinte perguntei ‘Porque não eu?’. Tentei sempre encarar isto como mais um desafio na minha vida, mais uma prova que eu tinha de vencer”, começou por contar Nuno Pinto, salientando que nunca desconfiou de que algo mais grave pudesse afetar a sua saúde.
“Simplesmente apanhei uma coisa que não é normal no corpo, que é um gânglio [na zona inguinal] a aumentar, e fui falando com o doutor Ricardo Lopes e com o fisioterapeuta Luís Esteves [NR: do departamento médico do Vitória de Setúbal]. Tanto eles como eu nunca desconfiámos que pudesse ser uma coisa destas. Fiz uma ecografia e não acusou nada de especial, apenas um gânglio aumentado. Num jogador de futebol profissional isso é normal porque o gânglio incha quando temos uma infeção, ou quando temos uma ‘porrada’”, atirou.
"Quando me foi diagnosticado o linfoma não me apanhou de surpresa"
“Na semana seguinte o gânglio não desapareceu, e fui falar com os médicos que decidiram fazer uma nova ecografia. Na nova ecografia, o técnico começou a ver mais acima e aí começou a desconfiança. Então ele chamou o médico e o fisioterapeuta à parte, e aí eu fiquei 'de pé atrás'. Quando chegaram ao pé de mim e pediram para fazer uma biópsia fiquei logo a perceber que alguma coisa não estava certa”, acrescentou. Após receber o diagnóstico, Nuno Pinto tinha agora mais uma batalha pela frente: preparar a mulher e os pais para os informar deste drama.
A primeira a receber a notícia de que Nuno Pinto sofria de cancro foi a mulher, que o acompanhou ao consultório.
"Ficou muito abalada. Foi abaixo um bocadinho. Pedi ao doutor Ricardo que fosse ele a explicar. Ela chorou, ficou triste, abalada. Mas passados 10/15 minutos da explicação do doutor, a minha mulher já estava um bocadinho mais aliviada porque a doença foi detetada no início. Ficou mais calma. Esta é a doença do século, e é normal que as pessoas se vão abaixo, principalmente aquelas que gostam de nós", atirou.
Seguiram-se os pais, que se encontravam em Vila Nova de Gaia, de onde o jogador de 32 anos é natural.
“Liguei à minha mãe a contar o que se estava a passar. Só lhe pedi para não dizer nada ao meu pai porque queria ser eu a dizer pessoalmente. Mas a minha mãe tinha o telemóvel em altifalante e o meu pai ouviu. Ficaram logo a saber os dois. Não sei que tipo de reação eles tiveram porque eles estavam no Norte, o que sei é que nunca me transmitiram aquele sentimento de pena. Sempre que falavam comigo e me ligavam davam-me força e diziam ‘filho vais ultrapassar isso, não te preocupes’. E é esse tipo de mensagens que as pessoas me passavam e que eu gostava de ouvir”, salientou.
A onda de solidariedade que até envolveu Cristiano Ronaldo
O futebol português, que todos os dias está envolvido em batalhas que alimentam a rivalidade entre os clubes, deu uma trégua a si próprio e lançou uma "onda" de solidariedade como há muito não se via, assim que foi revelado que Nuno Pinto tinha um cancro.
Jogadores, dirigentes, e treinadores dos clubes portugueses mostraram-se solidários com o lateral esquerdo sadino, com muitas mensagens nas redes sociais e o Sporting, por exemplo, entrou inclusive em campo com uma camisola de apoio a Nuno Pinto.
Um dos primeiros a ter uma palavra para o sadino foi Marcel Keizer. Há pouco tempo em Portugal, o treinador do Sporting reagiu em conferência de imprensa: "O futebol é muito agradável, mas há coisas mais importantes. Desejamos-lhe o melhor."
O seu último pontapé foi contra o Benfica no Bonfim, e, como não podia faltar, os ‘encarnados foram dos primeiros a deixar uma mensagem de apoio: “Temos a convicção de que Nuno Pinto saberá ultrapassar esta batalha. Estamos juntos”. Também Rui Vitória, na altura treinador do Benfica, deixou um abraço de solidariedade ao português. “Vai daqui um abraço bem apertado e muita força para esta fase menos positiva”, disse o agora treinador do Al-Nassr a 18 de dezembro do ano passado.
Já Sérgio Conceição, técnico do FC Porto, recorreu às redes sociais e em nome de todo o seu plantel, afirmou ser o “desafio mais difícil de superar, mas um em que contarás com o apoio de todos”.
Mensagens que agradaram ao Vitória de Setúbal, um dos clubes fundadores da I Liga.
Mas a onda de solidariedade não terminou por aqui e teve o contributo dos presidentes da Liga de Clubes, da Federação Portuguesa de Futebol, assim como do presidente do Sindicato dos Jogadores que fizeram questão de deixar uma mensagem de apoio ao jogador vitoriano.
Acima da rivalidade futebolística fica o companheirismo entre fãs, tais como os do Braga, que levaram para o estádio cartazes de apoio a Nuno Pinto.
"Os nossos não deixamos cair. Força Nuno", podia ler-se na tarja do Grupo 1910, adeptos do Vitória de Setúbal. A claque do Sporting de Braga também não esqueceu o drama que o jogador vive e exibiu também uma tarja: "Nuno Pinto, força e coragem guerreiro."
Tantas mensagens de solidariedade, dos adeptos de todos os clubes e até de outros países, deixaram o jogador do Vitória de Setúbal emocionado. Nuno Pinto decidiu responder a todos através das redes sociais.
De todas as mensagens recebidas, houve uma muito especial que deixou Nuno Pinto emocionado. Uma mensagem do melhor jogador do mundo recebida um dia antes do início dos tratamentos e da qual ninguém teve conhecimento. Nuno Pinto não segurou as lágrimas.
“Comecei os tratamentos no IPO de Lisboa no dia 9 de janeiro, no dia 8 recebi um vídeo do capitão da seleção nacional, o melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo. Sabia que ia começar o tratamento no dia a seguir e estava ali um bocado melancólico, e quando recebi o vídeo fui-me abaixo, mas deu-me força. Foi a mensagem que mais me emocionou”, disse Nuno Pinto ao SAPO Desporto, revelando ainda o que disse o jogador da Juventus.
“O Ronaldo disse-me que há momentos na vida que a gente não controla, que sabe perfeitamente como eu sou, que era um lutador, um guerreiro. Disse ainda que sabia que eu ia ultrapassar isto, que era só uma fase má da minha vida e que daqui a uns tempos eu ia conseguir passar esta situação”, atirou.
“Olá Nuno, quero mandar-te um abraço de muita força. Sei que amanhã vais começar os tratamentos. É importante teres energia positiva e um sorriso na cara. Sei que é um momento difícil para ti, mas na vida, infelizmente, há momentos que surgem que não esperamos. Tem de haver uma grande força de vontade e superação. Tu consegues. Sei como és pelo que falo com o [José] Semedo e a minha irmã [Elma] que também me fala de ti. Estamos aqui para te apoiar e dar-te um grande ânimo e força. Já sabes, se precisares de alguma coisa, estamos juntos. Posso ajudar-te no que puder. Tenho a certeza que vais recuperar rápido e vais voltar aos relvados. Podes contar comigo e conta vires um dia aqui a Turim ver um jogo. Grande abraço, amigo. Força.”
“A onda de solidariedade surpreendeu-me pela positiva. Sabia que sendo o futebol um desporto mediático isto ia ser uma coisa em grande, mas não sabia que ia ser uma coisa muito grande. Fiquei mesmo surpreendido. Havia mensagens que estava a ler e sentia ‘fogo’, mas davam-me força. O meu pensamento foi sempre: ‘Eu não posso desiludir estas pessoas. Elas estão a depositar toda a confiança em mim e eu não posso desiludi-las’. Esses pormenores – a minha família, os meus pais, as mensagens -, davam-me força para ir para a frente. E nunca pensei em coisas negativas. A chave para o sucesso é pensar em coisas positivas, rodear-se de pessoas positivas. Esse positivismo move-se e faz com que as coisas aconteçam mesmo”, disse o jogador.
A paragem forçada e os tratamentos em que se falavam das novelas
Natural de Vila Nova de Gaia, o lateral esquerdo estreou-se pelo Boavista no escalão principal, em 2006/07. Também na I Liga, representou o Trofense e Nacional, antes de rumar ao Levski de Sofia (Bulgária), Tavriya (Ucrânia) e Astra Giurgiu (Roménia), clube que representou antes de chegar a Setúbal, em 2015/16.
Na presente temporada, o jogador entrou em campo por doze vezes, tendo sido a última no jogo frente ao Benfica, partida essa em que os sadinos acabaram por perder.
Depois de vários anos ao alto nível, a descoberta do linfoma levou Nuno Pinto a deixar de treinar e competir por tempo indeterminado devido aos tratamentos.
Para perceber o impacto psicológico de uma doença num jogador de futebol, o SAPO Desporto falou com Ana Bispo Ramires, que trabalhou durante 10 anos na área do futebol profissional do Sport Lisboa e Benfica. A Especialista em Psicologia do Desporto e Performance sublinhou que é natural que qualquer atleta profissional passe por uma situação de maior fragilidade emocional quando confrontado com uma situação destas.
“Qualquer paragem forçada na vida de um atleta comporta a necessidade de que sejam feitas adaptações psico-emocionais a este tipo de eventos de vida - a qualidade destas adaptações ajudará a que a vivência deste tipo de eventos possa ser feita com níveis superiores de saúde mental”, disse a psicóloga, acrescentando:
“No caso, tratando-se não de uma lesão mas de uma doença que pode comportar risco de vida (ou não comportando esse risco, pode ser vivida dessa forma pelo atleta), é expectável que o atleta passe por uma (natural) fase de maior fragilidade emocional - de resto, expectável em qualquer pessoa por ser uma resposta “saudável” (importante que aconteça), neste tipo de situações.”
Depois de deixar de jogar futebol, ainda que temporariamente, aquilo de que mais gosta, Nuno Pinto começou os tratamentos no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa no início do corrente ano, tratamentos um pouco agressivos cujos efeitos secundários o jogador tem lidado bem. Na sala de tratamentos, onde impera a dor e o sofrimento, doença é tabu. Aqui fala-se de futebol, novelas, televisão e desporto, um pouco de tudo.
“A primeira vez que entrei no IPO foi com o doutor Ricardo Lopes, fomos diretamente à consulta com a doutora Maria do Céu. Sempre me trataram muito bem, não só a mim como toda a gente porque quem está ali está numa situação delicada. Quando faço os tratamentos falamos de tudo, de futebol, novelas, televisão, desporto, menos da doença. A doença parece que está proibido de se falar”, referiu o camisola 21 do Vitória de Setúbal. Antes começar os tratamentos, Nuno Pinto recebeu várias mensagens com sugestões de medicinas alternativas, mas preferiu a quimioterapia.
"Não pensei no pior, nem nunca me passou pela cabeça"
“São um pouco agressivos, mas, felizmente, para mim não têm sido nada de especial. Sinto, claro, principalmente nos dias a seguir ao tratamento em que estou mais debilitado. As minhas defesas vão mais abaixo, mas não tenho tido nem náuseas nem vómitos. Os pelos ficam mais frágeis. Isso varia de corpo para corpo, de sistema imunitário para sistema imunitário. Há uns que reagem melhor do que eu, e outros que reagem muito pior do que eu. As coisas têm corrido bem”, ressaltou, sublinhando que nunca pensou no pior, apesar de lhe ter sido diagnosticado este cancro na zona inguinal:
“Não pensei nisso, nem nunca me passou pela cabeça. Mesmo que isso me acontecesse, as pessoas que me rodeiam tiravam-me isso logo da cabeça. O que me passava pela cabeça era ‘Isto é mais um desafio, eu vou ganhar’. Tinha de ganhá-lo principalmente pela minha família, pela minha mulher e pelos meus filhos.”
A notícia de que todos esperavam e o regresso ao que mais gosta de fazer
Menos de três meses depois de ter tomado conhecimento de que foi diagnosticado com um linfoma que o obrigou a interromper a carreira futebolística, o jogador do Vitória de Setúbal fez o futebol português respirar de alívio, ao anunciar que o problema havia desaparecido.
Foi através de uma publicação nas redes sociais, no passado dia 8 de março, que Nuno Pinto revelou que o linfoma na região inguinal que lhe tinha sido diagnosticado no início de dezembro de 2018 "desapareceu".
"É com enorme emoção, alegria que após cinco provas de fogo, a mais esperada notícia chegou. A batalha começou a ser derrotada. O Pet (exame de contraste) que fiz esta semana revelou que o linfoma desapareceu. No entanto, tenho que cumprir com a continuação dos tratamentos já agendados pelo IPO até ao fim (13 de Junho). Contudo, cumprirei este protocolo ainda com mais contentamento. Resta-me agradecer a minha esposa, a força, o querer em me acompanhar constantemente e nunca me deixar cair. Brevemente voltarei a fazer o que mais gosto", escreveu o jogador no Facebook
“Também foi outro momento que não me apanhou desprevenido porque a doutora Maria do Céu já me tinha dito 15 dias antes que queria fazer o Pet porque acreditava que eu já não tinha nada. Não me apanhou desprevenido, mas uma coisa é a médica acreditar que eu já não tenho nada, a outra coisa é receber os resultados do exame e eu não ter nada. Fiquei super feliz, assim como a minha mulher e as pessoas a quem contei”, salientou o atleta ao SAPO Desporto.
A 10 de março, num jogo entre o Vitória de Setúbal e o Tondela, o Bonfim levantou-se para aplaudir Nuno Pinto, que se encontrava na tribuna. A homenagem teve lugar no minuto que coincide com o número da camisola do jogador sadino.
Apesar de não se considerar um herói por ter ultrapassado este que considerou ser o jogo da sua vida, Nuno Pinto acredita que pode ser uma inspiração para os mais novos.
“Eu não me considero um herói porque acho que os heróis são aquelas pessoas que estão mesmo mal. De 15 em 15 dias vou ao IPO e vejo pessoas que estão num estado muito pior do que eu. E mesmo essas pessoas não são heróis. Estão a lutar pela vida, tal como eu lutei pela minha”, ressaltou.
“Herói acho que não, mas inspiração talvez. Eu posso ser uma inspiração não pela minha pessoa, mas derivado ao facto de o futebol ser um meio muito mediático e eu poder ter a palavra de alertar os jovens e as restantes pessoas. Posso ser uma inspiração para isso, mas para mais nada porque herói nem de perto nem de longe. Não sou nem vou ser um herói, mas posso ser um alerta, uma inspiração”, atirou.
"Podemos controlar quase tudo menos a saúde"
A mesma ideia foi sublinhada pelo próprio quando foi homenageado pelo jornal ' O Gaiense' no final do mês de março, onde agradeceu "todas as manifestações de apoio" recebidas "dentro e fora do país, de clubes e a título individual" no período mais difícil da doença.
"Podemos controlar quase tudo menos a saúde. Infelizmente aconteceu um problema comigo, mas graças a Deus correu sempre tudo bem. Quero alertar as pessoas para terem sempre alguns cuidados, fazerem análises, porque felizmente comigo aconteceu no início, é sempre mais fácil de tratar, mas casos avançados são mais complicados”, disse o jogador sadino à margem da 16.ª gala do jornal ‘O Gaiense’.
O regresso aos treinos está a ser feito de forma condicionada e com vista à preparação da próxima temporada. O corpo começa a reagir já com saudades das rotinas do futebol.
“Primeiro acho que o corpo está a reagir com saudade, e segundo está feliz porque voltou às rotinas ainda de que forma condicionada. É diferente. O corpo voltou a sentir-se bem. Voltou a fazer aquilo que gosta e que sabe que é jogar futebol”, disse, recordando também o que fez para se manter ativo enquanto não lhe foi autorizado o regresso aos treinos.
“A doença obrigou-me a parar e a doutora Maria do Céu disse-me para parar, pelo menos enquanto ela não tivesse a certeza de que as coisas estavam melhores. Nos tempos livres, eu levava os meus filhos ao colégio, estava com a minha esposa em casa. Quando saiu a notícia de que estava limpo reiniciei alguma actividade física que é o que tenho feito agora. De vez em quando, quando me sinto bem, vou ao clube e treino bicicleta ou com o restante plantel, mas de forma condicionada”, ressalvou.
Sobre este regresso à “vida normal” de jogador de futebol, Ana Bispo Ramires, especialista em Psicologia do Desporto e Performance, sublinha que este retorno deverá ser acompanhado por um psicólogo, algo que, na sua opinião, se deverá repetir ao longo do processo de tratamento.
“Diria que, idealmente, seria importante que o atleta e família fossem acompanhados por um especialista na área da Psicologia durante este percurso. Independentemente de ser uma doença ou lesão, a qualidade do regresso resultará necessariamente da qualidade com que se viveu este tipo de processo, até porque as situações críticas de vida transformam-se muitas vezes em oportunidades de “crescimento” e evolução (pessoal e profissional)”, aponta a profissional que faz parte da Direção de Medicina Desportiva do Comité Olímpico de Portugal.
“Julgo que o que importa realçar é que esta área (lesão, doença e outros incidentes críticos de vida) é uma clara área de intervenção para Psicólogos com a devida especialização e a atuação deste tipo de suporte é de extrema importância - seja para a “qualidade” com que se atravessa este processo ou pela “qualidade” do retorno”, sintetiza.
A manutenção do Vitória de Setúbal na I Liga e o futuro depois do futebol
Apesar de não poder entrar em campo, Nuno Pinto desloca-se, sempre que possível, ao Estádio do Bonfim para assistir aos jogos do Vitória de Setúbal e apoiar os colegas. O defesa-esquerdo dos sadinos sublinhou que acredita na manutenção do emblema setubalense na I Liga e apontou como importantes as vitórias consecutivas contra Feirense e Marítimo.
"Acredito na manutenção do Vitória na I Liga"
“Nunca tive dúvidas de que a manutenção seria possível. Apesar dos resultados não aparecerem, nós não ganhávamos, mas também não perdíamos. Todos os jogos, principalmente em casa, eu faço questão de ir ao balneário, cumprimento a malta, digo que é mais um jogo. Peço que se divirtam, mas também que sejam sérios. Eu acho que vamos conseguir e a prova disso são estes últimos jogos (vitórias contra Feirense e Marítimo). São seis pontos muito importantes. Falta um bocadinho, mais um esforço de todos. Sei que não é fácil, vai ser contra muitas coisas, muitas adversidades. A mudança de treinador – Sandro Mendes rendeu Lito Vidigal no início de fevereiro - para mim foi para melhor. Acho que vamos conseguir”, vaticinou, sublinhando que deverá regressar aos relvados na próxima temporada com a camisola do Vitória de Setúbal.
“Sim, eu espero que sim. Eu tenho contrato de mais um ano. As pessoas deram-me carta branca, por isso acho que vai ser no Vitória”.
Questionado sobre se o clube ponderou rescindir-lhe o contrato quando lhe foi diagnosticado o linfoma, Nuno Pinto reiterou que a direção liderada por Vítor Hugo Valente sempre se mostrou disponível para o apoiar.
“A direção sempre me apoiou, sempre disse para estar à vontade. O presidente Vítor Hugo Valente disse-me que não me ia falhar, que sabia que eu tinha família e sempre me disseram que estavam lá para o que eu precisasse. A direção sempre me disse que queria que eu recuperasse e que quando eu recuperasse eu regressaria outra vez”, atirou.
Sobre o futuro, Nuno Pinto sublinhou que gostaria de ser treinador de futebol, mas que para já está focado na carreira de futebolista.
“Eu estou a tirar o curso de treinador que já tinha iniciado antes de se saber que tinha o linfoma. Mas gostava de estar ligado ao futebol. Revejo-me em ser treinador de futebol de uma equipa principal, mas não quer dizer que seja isso que vá fazer. Às vezes idealizamos uma coisa e sai tudo ao contrário. O melhor é não idealizar nada e ver o que vai surgindo”, projetou.
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