
Jorge Nuno Pinto da Costa, ex-presidente do FC Porto, morreu no sábado aos 87 anos, vítima de doença prolongada, confirmou hoje à Lusa fonte próxima da família.
O dirigente mais titulado e antigo do futebol mundial entre 1982 e 2024, teve uma carreira marcada não só pelos títulos conquistados mas também pelas muitas 'guerras' que travou nos bastidores. Amante de poesia e música clássica, Pinto da Costa era também conhecido pelo seu humor refinado e por algumas tiradas que marcaram também o seu legado.
"Lisboa não pode continuar a colonizar o resto do país. O desejo deles é que o FC Porto desça de divisão", aquando da primeira tomada de posse como presidente em 1982.
"O que é importante é que atiram pedras, não deixam receber a Taça, mas estamos na capital do Império e estou feliz com este espetáculo, que lindo que isto é... Faz parte deste espetáculo, estamos no ano da cultura. A ministra [da Educação, Manuela Ferreira Leite] também deve estar, mas não vem cá abaixo, porque não é tola, senão não era ministra", após a conquista da oitava Taça de Portugal do FC Porto frente ao Sporting após prolongamento (2-1), na finalíssima de 1993/94, no Estádio Nacional.
"Peço-vos a maior serenidade, porque acabo de ser avisado de que vem a caminho do pavilhão do FC Porto a GNR, com o pretexto de que estará aqui uma bomba. Se estiver aqui uma bomba, eu espero que ela expluda", frase proferida quando soube que uma repartição de finanças do Porto tinha emitido um auto de penhora de uma retrete no balneário dos árbitros do antigo Estádio das Antas, em março de 1994.
"Toda a gente sabe que isso de Lisboa a arder não é desejo de ninguém. Há, em Lisboa, muitas coisas bonitas, a delegação do FC Porto, os Jerónimos, mas persistem mentalidades que ainda pensam que Portugal é a capital e o resto é paisagem. Essa mentalidade é que, no sentido figurado, gostaríamos de ver arder", 1995
"Santana Lopes é um político que está em hibernação e se calhar prepara-se para voltar, não posso ir a nenhum frente a frente com ele porque não sou político. Foi secretário de Estado e ficou famoso por duas coisas: a pala de Alvalade e os violinos de Chopin. De futebol não posso falar porque não sabe nada, entrou para criar suspeição. É um ovni que vai passar", frase dita na SIC em 1996.
"Os ataques de Vale e Azevedo preocupam-me tanto como a caspa", sobre as críticas de Vale e Azevedo que foi presidente do Benfica
"O João Pinto chutou à trave para evitar o canto", data desconhecida
"Não há impossíveis no futebol e a prova disso foi o Benfica ter levado 7-0 do Celta de Vigo", sobre a derrota do Benfica frente aos espanhóis em 1999.
"Já me tinham feito o funeral, já me tinham arranjado um lugarzinho, mas 20 anos depois ainda continuo a contribuir com a minha parte para ganhar", após o título de campeã de futebol 2002/03.
"O Deco é invendável, inegociável e imprestável", sobre as notícias que davam conta da saída de Deco em 2003.
"Na verdade, estava a caminho das urgências, quando passei pela morgue e vi que lá estava grande parte do Benfica. Aí, melhorei e vim embora", reação a um rumor de que teria sido assistido nas urgências do Hospital da Luz, em Lisboa, por suspeita de ataque cardíaco.
"É totalmente falso que tenha dado o que quer seja a Augusto Duarte [ex-árbitro] e que ele tenha ido a minha casa para ser influenciado. Se estiver a mentir, que todos os males recaiam sobre a pessoa que eu mais amo no mundo, a minha filha [Joana Pinto da Costa]", declarações de 2009, propósito do 'caso do envelope', decorrente do processo Apito Dourado, que investigava alegados casos de corrupção no futebol português, tráfico de influências e coação sobre árbitros, do qual seria absolvido.
"Já festejei muitos títulos, mas nunca às escuras. Foi uma novidade festejar de luz apagada e com chuveiro, com a água a correr debaixo para cima. Nunca me tinha acontecido. É uma experiência nova. Pensei que já tinha visto tudo", sobre o título conquistado na Luz em 2011.
"Se alguém me condecorar a título póstumo, não quero que ninguém lá vá. Ai de quem for, que eu venho cá abaixo e dou um par de estalos. Uma estátua minha? Para quê? Para os cães irem lá mijar?", entrevista recente à SIC, antes das últimas eleições em que participou, em 2024.
"No meu funeral não quero ninguém de preto, em sinal de luto e tristeza. Quero toda a gente vestida de azul por três razões: é cor do céu, do manto de Nossa Senhora e do FC Porto", entrevista à SIC, antes das eleições de 2024.
Pinto da Costa tinha sido diagnosticado com um cancro na próstata em setembro de 2021 e agravou o seu estado de saúde nas últimas semanas, menos de um ano depois da derrota frente a André Villas-Boas, antigo treinador da equipa de futebol portista e atual 34.º presidente do clube, nas eleições mais participadas da história ‘azul e branca’, em 27 de abril.
Empossado pela primeira vez em 23 de abril de 1982, seis dias depois de ter sido eleito sem oposição como sucessor de Américo de Sá, o ex-dirigente exerceu funções durante 42 anos e 15 mandatos consecutivos, levando o FC Porto à conquista de 2.591 títulos em 21 modalidades - 69 dos quais no futebol sénior masculino, incluindo sete internacionais.
Comentários