Matheus Pereira chegou a Portugal muito novo e foi na Trafaria, para "lá do rio Tejo", que deu os primeiros passos no mundo do futebol, tendo acabado no Sporting, o "lugar mais improvável possível", pouco depois.

"Passei dois anos no Sporting só a treinar. Não podia jogar nas competições, por seu um imigrante ilegal. É uma condição desconfortável, essa, de medo e insegurança. Por outro lado, eu era um imigrante ilegal que só queria divertir-se num clube que estava a acreditar em mim. Principalmente, porque eu rebentava nos treinos, jogava muito, confirmando que o olho do olheiro era bom mesmo", relembrou.

Matheus Pereira lembrou ainda o período conturbado que vivia em casa, uma vez que, "um tempo depois de assinar com o Sporting", os pais separaram-se e teve de se mudar outra vez, acabando por ir "morar no centro de treinos", onde "quase deitou tudo a perder".

"Uma rebeldia que eu não sabia de onde vinha, uma necessidade de desafiar, desobedecer, uma inquietude que me consumia. A viver no centro de treinos, mais uma vez, sem ninguém a olhar por mim ou a falar-me sobre as coisas importantes, fui brincar na beira do abismo", prosseguiu.

Durante esse período conturbado, Matheus Pereira entrou no mundo das drogas: "Juntei-me à rodinha da 'maconha' e passava muito, muito tempo chapado. Também bebia um monte e gastava o dinheiro que sobrava em baladas. Depois, sentia-me um trapo, um miserável. Culpava-me de um jeito insuportável ao imaginar a tristeza dos meus pais se soubessem".

"Lá em Alcochete, onde tinha alguns 'amigos', a sexta-feira era o nosso dia de 'enfiar o pé na jaca'. Ao final da tarde, juntavamo-nos num canto, e eu era o encarregado de enrolar o baseado. Aquilo fazia-me sentir o cara, forte, sabedor de todas as respostas. Houve uma sexta-feira em que enrolei o baseado, passei e, quando ele voltou parar mim, olhei a cena toda ao redor e deu-me um negócio", relembrou.

Matheus Pereira relembrou ainda um episódio antes de um dérbi com o Benfica:"Acho que foi o Espírito Santo a sussurrar ao meu ouvido... 'Não. Hoje, eu não quero droga', falei para os rapazes, que gozaram comigo. 'Amanhã, há jogo contra o Benfica, e eu quero jogar bem'. Eles riram. No dia seguinte, acabei o jogo e fui sorteado para ir ao antidoping... Imagina! Se fosse em qualquer outra partida da temporada, ia dar me***", apontou.

O extremo, agora com 27 anos, recordou ainda o momento em que "o Sporting perdeu a paciência", tendo decidido emprestá-lo ao Desportivo de Chaves, onde acabou por conseguir endireitar-se e seguir o rumo do futebol, mas ainda com percalços a toldar o seu caminho, uma vez que, recordou também o período em que tentou suicídar-se duas vezes ao serviço do Al Waida, dos Emirados Árabes Unidos.