Luís Gonçalves foi um dos 63342 espetadores que marcaram presença nas bancadas do Estádio da Luz no último domingo para ver o Benfica 4-1 FC Porto, da 11.ª jornada da Primeira Liga de futebol.

O ex-treinador do Inter Clube de Luanda, e também antigo selecionador de Moçambique, passou o clássico em revista para o SAPO Desporto, numa semana em que muito se falou da atitude da equipa treinada por Vítor Bruno.

FC Porto: um problema de.. ADN?

"Não sou de opinião que tenha faltado ADN Porto, sinceramente. Até acho que o resultado foi um pouco desajustado. O Benfica venceu com todo o mérito, fez uma ótima segunda parte, pressionou como um todo. O FC Porto cometeu alguns erros defensivos, sofreu golos... O que, na minha opinião explica o resultado, foi que o meio-campo do Benfica superiorizou-se ao meio-campo do FC Porto", começou por analisar, em conversa telefónica com o SAPO Desporto.

Na sua leitura, o técnico de 52 anos destacou "os erros individuais que custaram algumas situações" de perigo junto da baliza portista, como foi o caso do "terceiro golo do Benfica" que "nasce uma perda de bola [do FC Porto] que dá uma transição rápida, com Aursnes a isolar o Di Maria".

Não concordo quando dizem que faltou ADN Porto, as pessoas tem tendência a extremar opiniões

Para Luís Gonçalves, a "derrota pesa um pouquinho e causa indignação na nação portista mais por causa dos números", numa equipa que, recorda "no início entusiasmou, com jogos muito bem conseguidos, com um futebol de muita qualidade, com muita qualidade na juventude" dos seus jogadores.

"Se formos analisar os resultados com mais frieza, o FC Porto só perdeu com os seus adversários diretos, os rivais [na luta pelos títulos]", lembrou.

A formação azul e branca começou por vencer a Supertaça de Portugal diante do Sporting. Na Liga soma 27 pontos em 11 jogos, seis menos que o Sporting e dois a mais que o Benfica que tem menos um jogo. Na Liga Europa, são quatro pontos em quatro jornadas, onde se destacam as derrotas com Bodo/Glimt e Lázio pela margem mínima e o empate a três bolas com o Manchester United em casa.

Num ano de grande transformação no Dragão, com mudanças na estrutura técnica, diretiva e em todos os departamentos, é natural que o próprio clube ainda esteja à procura do seu rumo.

Sérgio Conceição saiu, entrou Vítor Bruno, treinador que "tem a sua filosofia, a sua ideia de jogo", e que ainda está à procura das melhores soluções. A defesa é praticamente nova, num quarteto formado por três jogadores que não estavam no clube na época passada. O meio-campo também sofreu transformações.

Luís Gonçalves vê um Dragão "ainda à procura de estabilidade",  numa equipa com "jogadores de muita qualidade, como por exemplo o Samu, uma excelente contratação, o que demonstra uma grande visão do scouting portista". Há também Fábio Vieira, "ainda a procura da sua melhor forma" e um Nico González a fazer de bombeiro.

"O Nico já jogou num meio-campo a dois e a três, já jogou com Eustáquio, com Varela, com Vasco Sousa, já jogou no vértice mais recuado do meio-campo, já jogou um pouco mais a frente",  lembrou-nos o técnico.

A equipa ainda está à procura de estabilidade

Dragão à procura de estabilidade

Na derrota 1-2 diante da Lázio, foi quando Fábio Vieira passou do corredor lateral para o meio, a jogar a '1o', que os azuis e brancos cresceram. É dessa zona que o médio descobre Galeno na direita com um grande passe antes do brasileiro assistir Eustaquio para o 1-1, na altura. Mas na Luz, Vítor Bruno voltou a colocar o criativo na direita, embora estivesse a jogar muito por dentro. Afinal, qual a melhor posição para o jogador emprestado pelo Arsenal aos Dragões?

"Em relação ao Fábio Vieira, honestamente acho que pode jogar na ala. É um médio, jogador do último passe, que desbloqueia situações, faz jogo interior e jogo exterior. Mas depende sempre do jogo, da estratégia, do momento. Frente ao Benfica fez duas posições, começou por fora mas depois jogou mais por dentro", conta-nos Luís Gonçalves, antes de concluir.

Jogos recentes FC Porto

"Talvez o meio-campo ainda não esteja estabilizado, talvez Vítor Bruno ainda esteja à procura da melhor solução, mas também há jogadores que, se calhar, ainda não estão na sua melhor forma. Já falámos do Fábio Vieira. Não concordo quando dizem que faltou ADN Porto, as pessoas tem tendência a extremar opiniões porque há outras coisas à volta que têm influência. Vi um jogo muito bem disputado, o Benfica obviamente superior, mas o FC Porto conseguiu chegar várias vezes à baliza do Benfica. Houve um momento a seguir ao 2-1 que o FC Porto não conseguiu reagir tanto e o Benfica aproveitou, embalado também pela questão emocional... a jogar em casa perante o seu público, estádio cheio, queria dar uma resposta após o jogo menos conseguido em Munique, e tudo isto joga", finalizou.

Aos 52 anos, Luís Gonçalves conta com um percurso longo, de vários anos no futebol de formação, em clubes como Sporting, FC Porto, Estoril, Belenenses. Nos dragões por exemplo, treinou craques como Vitinha, João Mário, Fábio Vieira, Afonso Sousa, nos iniciados.

Será que aos 15 anos, é possível olhar para um jogador e determinar se chegará ou não à elite?

"Nessa idade já fazemos uma projeção do que aquilo que será o desenvolvimento do futebolista. Com o nosso conhecimento de treinador, nessa idade dos sub-15, se tudo correr bem, dentro do normal, dizemos, 'este miúdo vai ser jogador'. Sabendo que na idade dos 13, 14, 15 anos, são idades de muitas mudanças" disse Luís Gonçalves, recordando que há outros factores a ter em conta.

"Também tem a ver se o jovem jogador se mantém focado naquilo que é importante, se está bem rodeado, se os conselhos que ouve de familiares e representantes são bons. Na altura já via Vitinha com muito potencial, Afonso Sousa que agora está a jogar na Polónia, era um bom jogador, o Fábio Vieira com a sua irreverência e qualidade, o João Mário, embora mais reservado, sempre foi um jogador de qualidade, com muito sentimento de missão. Com o tempo, com a evolução, também o nosso sistema de avaliação vai sendo melhor", terminou.

Terminado o trabalho no Inter Clube de Luanda, o seu último clube, Luís Gonçalves está à espera que lhe chega a proposta certa, quer seja da Primeira ou da Segunda Liga. O técnico de 52 anos gostaria de trabalhar em Portugal, mas não descarta voltar ao estrangeiro.