A eurodeputada holandesa Samira Rafaela, uma das líderes do Intergrupo Anti-Racismo no Parlamento Europeu, manifestou-se hoje “chocada” com o incidente com o futebolista maliano Moussa Marega, em Guimarães, que menciona numa nova carta dirigida ao presidente da UEFA.
“O incidente Marega é um de muitos nos tempos recentes, mas ainda assim chocou-me. Não posso habituar-me a este género de racismo, e as autoridades portuguesas também não podem. O racismo é constitucionalmente proibido e os estádios de futebol não podem ser uma exceção à regra”, comentou a deputada do grupo Renovar a Europa (Liberais), numa declaração prestada à Lusa.
Samira Rafaela também se reporta aos incidentes em Guimarães numa nova carta dirigida ao presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, à qual a Lusa teve acesso, em que a deputada holandesa se manifesta insatisfeita com a resposta dada pelo dirigente a uma carta que lhe foi dirigida em novembro passado, subscrita por cerca de 140 eurodeputados, a reclamar mais ações para acabar com os episódios de racismo nos estádios de futebol europeus.
Na nova missiva dirigida a Ceferin, a colíder do Intergrupo parlamentar Anti-Racismo aponta que, apesar de todas as campanhas da UEFA contra o racismo, “atualmente, há uma zona livre para o racismo num ou mais estádios europeus todas as semanas”.
“No ponto em que nos encontramos atualmente, deve preocupar-nos se uma franja da sociedade, uma frase que [o presidente da UEFA] utilizou, não se torna sinónimo do ‘jogo bonito’ de que todos gostamos. O incidente deste domingo envolvendo Moussa Marega, do FC Porto, sugere mais uma vez que esse risco é real”, salienta a deputada holandesa.
Samira Rafaela conclui a carta com um convite ao presidente da UEFA para se deslocar ao Parlamento Europeu, para que, juntos, os eurodeputados e o organismo máximo do futebol europeu possam efetivamente dar “um passo em frente significativo” em vez de meras “trocas de correspondência”.
Na quarta-feira, também os deputados do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu anunciaram que vão solicitar uma reunião com o presidente da UEFA para discutir a questão do racismo no futebol, face aos recorrentes incidentes nos estádios, incluindo Portugal.
A carta a Aleksander Ceferin promovida pelos eurodeputados Marisa Matias e José Gusmão vai ser enviada na próxima sexta-feira, e até lá será aberta à subscrição dos demais deputados ao Parlamento Europeu.
Segundo o Bloco de Esquerda (BE), a reunião com Ceferin visa discutir “de que modo podem as instituições europeias, entre as quais o Parlamento Europeu, contribuir para a aplicação da IX Resolução da UEFA”, intitulada ‘Futebol Europeu unido contra o racismo’, e esta proposta de reunião “surge na sequência de vários incidentes de manifestações racistas em jogos de futebol em Portugal, incluindo o recente de que foi vítima o jogador Moussa Marega”, do FC Porto, no domingo em Guimarães.
Esta iniciativa surge depois dos incidentes verificados no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, durante o jogo entre Vitória e FC Porto, que o avançado maliano Moussa Marega abandonou após ser alvo de insultos racistas por parte dos adeptos da equipa local.
Vários jogadores de ambas as equipas tentaram demovê-lo, mas Marega, que já alinhou no Vitória e tinha marcado o segundo golo dos ‘azuis e brancos’, mostrou-se irredutível e abandonou mesmo o relvado aos 71 minutos (sendo substituído), depois de o jogo ter estado interrompido cerca de cinco minutos.
Fonte da Polícia de Segurança Pública (PSP) confirmou à Lusa a identificação de várias pessoas suspeitas de dirigirem cânticos e insultos racistas a Marega, sem adiantar o número de suspeitos, acrescentando que continua a efetuar diligências para identificar outros envolvidos.
O Ministério Público instaurou um inquérito na sequência deste incidente, que já mereceu a condenação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa, entre outros.
Este comportamento configura um crime previsto no Código Penal punido com prisão de seis meses a cinco anos e uma contraordenação sancionada com coima entre 1.000 e 10.000 euros.
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