Nasceu no Gana, mas foi em Itália que se mostrou ao mundo do futebol. Said Ahmed Said cumpriu grande parte da sua formação no Inter antes de se estrear nos grandes palcos da Serie A pelo Génova.
Em Portugal, jogou no Olhanense (2015/16) e no Rio Ave (2018/19 e 2020/21), mas não conseguiu comprovar a sua natureza futebolística: a arte de rematar à baliza e fazer golos. Ainda assim, guarda boas memórias de uma família que o acolheu. Na Croácia, tornou-se ídolo do Hajduk Split, onde finalmente conseguiu demonstrar a sua veia goleadora. O SAPO Desporto foi agora procurar saber o que é feito de Said, que parte para a temporada 2023/24 à procura de um novo desafio profissional. O Japão é uma paixão antiga, mas um regresso ao futebol português não está fora de hipótese.
"Em Itália, aprendes muito porque os treinadores lá não são bem treinadores, educam-te"
Said não precisou de muito tempo para chegar ao futebol europeu. Aos quatro anos saiu do Gana, onde "todos os miúdos jogam futebol" para Itália e foi aí que começou a aventura no desporto rei: "Quando tinha oito anos, joguei um torneio e tinha lá um scout do Inter que gostava de mim e falou com o meu treinador. Na altura, tinha muitos clubes atrás de mim, como o AC Milan, Atalanta, mas o primeiro foi o Inter", contou-nos.
Foi assim em Itália que Said se formou enquanto futebolista e pessoa. Em terras transalpinas, a formação de um atleta é muito mais complexa do que aquilo que possamos imaginar: "Tens de estar muito disciplinado taticamente na forma como te portas e tecnicamente também é muito dificil. Aprendes muito porque os treinadores lá não são bem treinadores, educam-te", sublinhou.
De um miúdo nasceu um graúdo que chegou às portas da Serie A pelo Génova, em 2012/13, onde marcou um golo em cinco jogos: "Era um motivo de orgulho e consegui. Há um grande rigor defensivo, todos te conhecem e é muito difícil marcar golos. Graças a Deus eu consegui", frisou.
"Eu adorava viver em Portugal porque gosto muito do país"
Mas a verdade é que Said percebeu que não é só em Itália que é difícil marcar golos. A chegada à II Liga Portuguesa foi a prova disso mesmo: "O futebol português é muito mais aberto que o italiano. Quando joguei no Olhanense [2015/16], o campeonato também estava muito dificil e, comparativamente a Itália, também não era fácil marcar golos", comentou a propósito de uma época em que fez oito golos em 38 jogos.
Em Portugal, também esteve em Vila do Conde, noutra extremidade em termos geográficos, mas em que houve um denominador comum: "Quando joguei no Olhanense e Rio Ave, senti que estava mesmo em família. Foi só em Portugal que eu senti isso. Não sei se era do clube, secalhar se jogasse no FC Porto poderia não ser assim... Em Itália é mais profissional e trabalho. No Olhanense e Rio Ave ainda tenho muitos amigos", explicou, antes de destacar dois nomes: "Ainda falo com o Carlos Mané, do Rio Ave, que era um grande amigo meu. Também falo muito com o Rúben Semedo", acrescentou.
"Quando estive no Rio Ave, o melhor era o Galeno. Desde o início, já dava para ver que era diferente, porque tinha tudo"
Said esteve ligado aos Vilacondenses entre 2018/19 e 2020/21 onde partilhou balneário com nomes que hoje estão na ribalta do futebol português. Eram eles Galeno (FC Porto), Nuno Santos e Matheus Reis (Sporting): Para mim, o melhor era o Galeno. Desde o início, já dava para ver que era diferente, porque tinha tudo: era rápido, muito forte, tinha um remate muito bom e golos. Quando cheguei, o Nuno Santos estava lesionado, mas dava para ver que era um grande jogador. O Matheus Reis também era muito bom, mas na altura que eu cheguei não jogava muito. Mantenho contacto com ele e é uma pessoa top". confessou.
O avançado ganês diz ter sido feliz no Rio Ave, apesar de nunca se ter conseguido afirmar na equipa principal. Nas memórias, fica a estreia a marcar no Bonfim frente ao Vitória FC já na reta final de 2018/19: "Acho que esse golo foi muito importante para mim pq quando se chega a uma equipa em Janeiro não é fácil. O grupo já está feito e tens de demonstrar logo. Na Croácia já não jogava há dois meses e marcar esse golo foi muito importante e bonito", destacou.
Ainda assim, não chegou para agarrar um lugar na temporada seguinte: "Depois chegou outro treinador, o Carvalhal, e tinha outros planos. É uma pena porque queria triunfar no Rio Ave, mas por algumas razões não consegui", lamentou.
"Mudar certos comportamentos de adeptos? quando a pessoa é ignorante é dificil de mudar o pensamento"
Said, que já falava português antes de chegar a Portugal - muito por influência do seu ídolo, Adriano, o Imperador - falou-nos ainda do ambiente tóxico de rivalidade no futebol português, algo que considera ser transversal nos outros campeonatos:
"Acho que em todas as Ligas é assim. Na Croácia, o Dinamo Zagreb contra o Hajduk Split era uma rivalidade muito dificil. Em Itália, entre a Roma e Lazio é assim. Às vezes há adeptos ignorantes que fazem coisas que não tem nada que ver com o futebol e acho que isso é muito dificil de mudar, porque quando a pessoa é ignorante é dificil de mudar o pensamento", atirou, antes de especificar os tempos em que viveu na Croácia e representou o Hajduk Split (2016/17 até 2018/19):
"É uma rivalidade muito grande e os adeptos fazem muita coisa que não devem fazer. Quando jogavamos contra o Dínamo era uma grande pressão, mas quando tu jogas não pensas nisso. Antes dos jogos frente ao Dínamo não podíamos andar na rua. Já recebi muitos comentários e mensagens privadas quando não joguei bem, isso é normal", revelou.
Ainda assim, foi na Croácia que Said se sentiu mais realizado e se tornou um ídolo com 29 golos pelo Hajduk Split: "Era uma equipa muito boa e passei quase três anos ali. Foi o melhor clube que eu joguei em termos individuais", afirmou, admitindo que ainda hoje recebe carinho dos adeptos, desde posts nas redes sociais e mensagens no aniversário.
"Se tivesse de regressar ao futebol português seria muito feliz"
Na temporada passada, o avançado de 30 anos esteve na segunda divisão da Grécia, onde fez as pazes com os golos, depois de uma passagem inglória em Portugal. No Panserraikos, recuperou a confiança que tinha tido na Croácia e agora espera que este seja o mote para ter continuidade num novo desafio... talvez no Japão: "Gostava de experimentar uma nova cultura de vida e de como são as coisas lá. Gosto muito de viajar. Agora digo Japão, mas pode ser outro lado", referiu.
Ainda assim, um regresso a Portugal não está fora de equação: "Não fecho nenhuma porta. Se tiver de regressar ao futebol português seria muito feliz, porque só tenho recordações positivas de cá", sublinhou.
Mas não é só de clubes que se faz um jogador de futebol. Said foi internacional pelas camadas jovens em Itália, mas se tivesse de escolher entre Gana ou os Transalpinos na Seleção principal não tinha dúvidas: "Gana, porque a minha cultura é mais ganesa, na minha família somos ganeses. Jogar pela Itália seria muito difícil", concluiu.
Aproximava-se o tempo de compensação e Said sabia que faltava marcar o golo da vitória. Por isso mesmo, aceitou o desafio de ceder à alta pressão do SAPO Desporto e rececionar os nossos Passes Curtos na hora de se virar para a baliza. Será que conseguiu? Eis o resultado:
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