Joaquim Evangelista acredita que as novas tecnologias vieram ajudar o futebol, mas que os clubes não têm deixado que isso aconteça. Em entrevista exclusiva ao SAPO Desporto, o presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) refere que os clubes têm usado o vídeoárbitro para se atacarem entre si.

"O vídeo-árbitro, e a sua introdução, é um passo importante para acautelar a verdade desportiva. Contribui, definitivamente, para diminuir a margem de erro, logo o a sua implementação deve, na minha perspetiva, ser apoiada por todos os agentes desportivos. Este período de testes serve para identificar falhas e aprimorar a implementação, efetiva, do sistema", começa por dizer.

"As polémicas que até agora surgiram foram mais para alimentar o ataque entre os clubes do que para fazer qualquer tipo de reparo aos aspetos em que o sistema implementado deve melhorar. Como tudo o que é novo, a utilização do VAR gera diferentes opiniões e até desconfiança, especialmente para os jogadores que vivem cada lance dentro das quatro linhas, sendo os verdadeiros destinatários destas decisões. Ainda assim, penso que a maioria dos futebolistas vê maiores benefícios na implementação do sistema do que desvantagens", referiu o dirigente, que apoia o pré-aviso de greve dos árbitros.

"A posição tomada pela APAF compreende-se enquanto resposta ao atual clima de intimidação e suspeição que existe no futebol português. Estando a classe sob ataque permanente de dirigentes e respetivos subordinados, alguma coisa tinha de ser feita para a defender e, acrescento, alguma coisa continua a ter de ser feita por quem tem responsabilidade no fenómeno desportivo".

"É preciso arrepiar caminho. Cada dirigente deve assumir as funções inerentes ao cargo que ocupa e debater os problemas do futebol português nos locais próprios, com quem realmente decide e contribui para as soluções. Usar interlocutores para semear a desconfiança não é solução", disse.

Joaquim Evangelista revela mesmo que está solidário com a posição dos juízes de futebol.

Todas as medidas políticas têm danos colateriais. Da mesma maneira que esta ação se reflete no fenómeno desportivo, também as nossas ações se refletem no setor da arbitragem e demais agentes desportivos. As ações desta natureza, desde que justificadas, merecem o nosso apoio. Estamos solidários com os árbitros e com o setor da arbitragem".

Jogadores desempregados devem procurar oportunidades à sua volta

Sobre o desemprego no futebol, o líder do sindicato revela que existem mais jogadores no desemprego do que foi revelado recentemente pelo IEFP, onde 177 jogadores estariam sem qualquer vínculo laboral.

"As minhas declarações a propósito do levantamento do IEFP traduzem a realidade e o funcionamento do sistema desportivo. Os números do desemprego são maiores porque muitos jogadores sem contrato preferem aguardar por colocação, confiando que o intermediário encontrará uma solução desportiva, ou simplesmente que, no mercado nacional e estrangeiro, acabará por surgir uma oportunidade. Quase sempre, a inscrição no centro de emprego representa a assunção por parte do atleta de que não conseguirá encontrar uma solução desportiva. No caso do futebol amador, os atletas indicam, habitualmente, a profissão que têm fora do relvado", afiançou, afirmando que o Sindicato de Jogadores procura encontrar alternativas para os atletas.

"Uma das áreas de intervenção do Sindicato é, justamente, o emprego. Esta área converge, na visão integral que temos da atividade, com a educação e formação dos jogadores. O Sindicato celebrou protocolo com a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP), permitindo aos jogadores a conclusão do ensino secundário, sendo que atualmente mais de 75 jogadores estão a frequentar o Programa “Qualifica”. Temos, igualmente, protocolos com instituições de ensino superior e politécnico que pretendem adequar a oferta formativa às necessidades do jogador.".

"Além disso, realizamos anualmente o Estágio para jogadores desempregados, que é justamente um espaço multidisciplinar (emprego e formação). Proporcionamos condições desportivas aos jogadores, de modo a que mantenham a forma e estejam devidamente preparados quando surgir uma nova oportunidade e, ainda, cursos de formação à medida, abordando temáticas importantes no contexto da atividade desportiva mas também na preparação para a transição de carreira. Na 15.ª Edição, realizada em 2017, dos 54 participantes, 32 encontraram um novo clube", refere.

Joaquim Evangelista acredita que os jogadores devem ter um papel activo, pegando nas palavras de Miguel Garcia, antigo jogador do Sporting, que referiu existirem muitos jogadores que não se inscrevem no centro de emprego porque estarem sem qualquer vínculo laboral é temporário.

"As declarações do Miguel Garcia vão de encontro à realidade que anteriormente referi. A propósito, o caso do Miguel é um exemplo de proatividade, depois de ter passado pelo estágio em 2009 relançou a carreira e voltou a estar em grandes palcos internacionais. Ficar em casa e esperar que o telefone toque não é solução."

Por fim, o presidente do SJPF afirma que o organismo apoia jogadores portugueses no estrangeiro mas que também apoia jogadores estrangeiros que atuam em Portugal.

"O Sindicato está integrado numa estrutura maior, a FIFPro – Sindicato Mundial dos Jogadores, cuja Direção da Divisão Europa integro. Estamos em condições de apoiar os nossos jogadores em qualquer parte do mundo, acompanhados pelos nossos homólogos estrangeiros e numa lógica de reciprocidade, isto é, também apoiamos os jogadores estrangeiros em Portugal, quando tal nos é solicitado. Além da assessoria jurídica, estamos em condições de informar o jogador da situação do clube, liga e país para onde pretende ir jogar, o que pode ajudar na tomada de decisão. Conhecemos os países e os clubes que integram o “black book” europeu por más práticas e incumprimento contratual. Estamos, permanentemente, em contacto com jogadores portugueses no estrangeiro. Ainda recentemente prestámos apoio jurídico a um jogador português na Coreia do Sul", revelou.

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