“Queria que se pagassem impostos, mas não tinha nem força nem meios”, afirmou Vítor Borges, questionado pela procuradora Elisa Cardoso, do Tribunal de São João Novo, no Porto.
A magistrada perguntou-lhe depois porquê, mas o arguido não deu uma resposta clara, o mesmo sucedendo, aliás, com outras questões que lhe foram colocadas tanto pelo tribunal como pelo advogado de João Loureiro, Lourenço Pinto.
Elisa Cardoso insistiu perguntando-lhe se “era ameaçado” ou “constrangido” e se havia “temor reverencial” perante pão Loureiro, mas Vítor Borges, visivelmente embaraçado, ficou-se por respostas inconclusivas, como por exemplo: “Nunca tive coragem…”.
Borges, Loureiro e ainda Carlos Pissarra estão ser julgados naquele tribunal no âmbito de um processo em que são acusados de fraude e abuso de confiança fiscal quando foram administradores da SAD axadrezada entre 2001 e 2004.
O Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto acusa-os de terem lesado o fisco em 3,4 milhões de euros, porque não terem entregue dinheiros relativos a IRC, IRS e imposto de selo durante aquele período.
João Loureiro prestou declarações na primeira e na segunda sessão do julgamento, há 15 dias, seguiu-se Carlos Pissarra e por fim Vítor Borges, que começou a ser ouvido na sessão anterior, há uma semana.
Os três administradores coincidem na tese de que os referidos impostos não foram pagos porque o dinheiro escasseava e, assim, era preferível pagar os salários aos jogadores, uma vez que estes eram o principal ativo que a SAD tinha e não podiam correr o risco de o perder.
O plantel boavisteiro valia então “14 milhões de euros” e o mais importante era “manter a equipa a jogar”, explicou Vítor Borges, adiantando que a “situação chegou a ser complicada” porque os jogadores “chegaram a ter cinco meses de salários em atraso”.
Porém, Vítor Borges preferiu ficar, não se demitiu e só saiu da administrada da SAD do Boavista, onde permaneceu “oito anos”, porque esta não tinha outra maneira de ver aprovado o PEC que entretanto requereu para poder regularizar a sua situação fiscal - e ainda assim manteve-se na SAD, com funções iguais.
Questionado sobre se tinha “o controlo efectivo dos fundos disponíveis” e se João Loureiro consultava sobre “uma grande contratação”, Borges respondeu que “não”, acrescentando que “só algumas semanas depois tinha conhecimento” desse tipo de despesas e “pelo jornais”.
“Nunca tive hipótese de dar opinião”, argumentou, acrescentando mais à frente: “A decisão era de uma pessoa”, leia-se João Loureiro, que praticava, como ficou claro já, uma gestão “presidencial”.
A custo, Vítor Borges diria mais adiante que João Loureiro “tinha um ascendente autoritário bastante superior” sobre os outros membros da administração.
Na sequência das declarações prestadas pelo arguido anterior, João Loureiro pediu para intervir, tendo afirmado, nomeadamente:
“Jamais ninguém me alertou que devíamos pagar impostos ou isto ou aquilo e ouvia sempre a opinião das pessoas, dependendo da área, incluindo Vítor Borges”.
“Mas a minha palavra era decisiva”, concordou também.
A juíza marcou para o dia 9, à mesma hora, a “continuação e ultimação do julgamento”, sendo que ainda falta ouvir 16 testemunhas.
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