Um golo do ‘capitão’ Herrera, aos 90 minutos do ‘clássico’ da Luz, a lembrar Kelvin, foi o momento chave da edição 2017/18 da I Liga portuguesa de futebol, conquistada, cinco anos depois, pelo FC Porto.
Numa prova marcada pela introdução do VAR, envolto em polémicas mil, o conjunto de Sérgio Conceição, que personificou o regresso de um FC Porto de garra, vontade e fome de vitórias, fez das limitações financeiras uma fortaleza, ao ganhar apoiado naqueles que voltaram, após empréstimos, por não haver meios para outros.
Marega (Vitória de Guimarães), Aboubakar (Besiktas), Ricardo (Nice) ou Sérgio Oliveira (Nantes) vieram para ser determinantes, contribuindo decisivamente para impedir que o Benfica igualasse o inédito ‘penta’ portista (1994/95 a 98/99).
Os ‘dragões’ lideraram quase todas a prova, mas, a seis rondas do fim, cederam o primeiro posto aos ‘encarnados’, depois de dois inesperados desaires fora consecutivos, com Paços de Ferreira e Belenenses.
A formação portista perdeu o comando da competição, mas nunca deixou de depender de si própria para chegar ao cetro e, no momento da verdade, na Luz, em desvantagem na tabela, conseguiu a vitória que lhe permitiu abrir, em definitivo, o caminho do título.
Um golo aos 90 minutos será sempre um momento de felicidade, como foi aquele de Kelvin, então aos 90+2, na receção ao Benfica que selara o último cetro portista, em 2012/13, mas o FC Porto fez por isso e nomeadamente o ‘capitão’ mereceu o momento.
Herrera ficará, para sempre, com o ‘herói’ do título 28 do FC Porto, mas muitos outros foram determinantes, como Casillas, que Conceição não teve problemas em sentar algumas jornadas, e todo o quarteto defensivo, composto maioritariamente por Ricardo, Felipe, Marcano e Alex Telles.
No meio campo, Danilo foi decisivo até se lesionar com gravidades, mas não deixou o meio campo órfão, pois o mexicano tomou o seu lugar, ao lado Sérgio Oliveira, que aproveitou muito bem a oportunidade.
O argelino Brahimi, o mais desequilibrador do plantel, também foi um elemento chave, numa época em que foi muito regular, enquanto Marega foi ‘intratável’ na frente, com Aboubakar muito bem na primeira volta e Soares a aparecer na segunda.
Também pelos 12 pontos somados em 16 possíveis nos jogos entre os quatro primeiros, o FC Porto justificou o título, até pela forma bem mais tranquila como foi escrevendo as suas vitórias, nunca necessitando de um ‘milagre’ a terminar, para terminar com 88 pontos, igualando o recorde do Benfica de 2015/16.
Os ‘dragões’ regressaram aos títulos e negaram, assim, o ‘penta’ ao Benfica, que depois de um início de época muito complicado, a acusar o ‘adeus’ de Ederson, Nelson Semedo, Lindelöf e Mitroglou, conseguiu recuperar e ‘sonhar’.
A troca do ‘4-4-2’ pelo ‘4-3-3’, primeiro com Krovinovic e depois com Zivkovic, foi a chave para o crescimento do Benfica, sempre apoiado nos golos do brasileiro Jonas, que chegou a meio da prova com 20 e ao final da ronda 28 com 33. Fechou com 34.
Os ‘encarnados’, que ainda tinha que receber o FC Porto, ficaram na frente a seis rondas do fim, mas falharam na receção aos ‘dragões’, algo que há muito se transformou numa tradição: para o campeonato, na Luz, só dois triunfos nos últimos 12 anos.
Num embate em que o ‘nulo’ mantinha o Benfica na liderança, a ‘crueldade’ de um golo aos 90 minutos ditou lei, mas, mais do que isso, Rui Vitória pode queixar-se de não ter tido Jonas, que se lesionou precisamente na altura decisiva do campeonato.
O brasileiro foi, indiscutivelmente, a grande figura da equipa, na qual também de destacaram André Almeida e Rúben Dias, que minimizaram as perdas de Nelson Semedo e Lindelöf, e Fejsa, um seguro a meio campo. Varela e Seferovic, que se ‘apagou’ após grande arranque, não fizeram esquecer Ederson e Mitroglou.
Um Campeonato disputado
O Benfica foi a única equipa que fez perigar o título do FC Porto e, apesar de um final de época para esquecer, ainda acabou em segundo, com o ‘patrocínio’ do Sporting, que ficou cedo fora da luta e somou a 16.ª temporada seguida de ‘seca’.
Um desaire por 2-1 no Dragão, à 25.ª ronda, deixou o ‘onze’ de Jorge Jesus a oito pontos do líder FC Porto e a três do Benfica, e foi o espelho da impotência ‘leonina’ nos grandes jogos: entre os quatro primeiros, não ganhou e só somou quatro pontos, em 18.
O médio Bruno Fernandes, contratado à Sampdoria, foi a grande figura do conjunto ‘leonino’, no qual também brilhou intensamente o guarda-redes Rui Patrício. Bas Dost, com 27 golos, também cumpriu, enquanto Gelson foi-se ‘apagando’.
Face ao produzido, e numa época em que já ganhou a Taça da Liga e pode fechar com nove troféu, a Taça de Portugal, o Sporting não pode deixar de lamentar o facto de ter perdido na última jornada a possibilidade de chega aos ‘milhões’ da ‘Champions’.
Muito perto dos ‘grandes’ lisboetas, acabou o Sporting de Braga, de Abel Ferreira, que não conseguiu pontuar face a FC Porto e Benfica, mas não perdeu com o Sporting e acabou com muito mais golos do que os ‘leões’.
Os ‘arsenalistas’, que ganharam 10 dos derradeiros 13 jogos, recuperaram o ‘estatuto’ de quarto maior, perdido a época passada para o Vitória de Guimarães, e fizeram-no de forma ‘esmagadora’, acabando 24 pontos acima do quinto.
Mais do que olhar para baixo e contentar-se com esta conquista, o conjunto bracarense parece determinado em continuar a trepar, com o objetivo de poder lutar pelo título, que, nos últimos anos, só conseguiu em 2009/10, mas de forma isolado, sem sustentação.
O quinto posto, que só dará acesso à Liga Europa se o Sporting bater o Desportivo das Aves na final da Taça de Portugal, no domingo, foi conquistado pelo Rio Ave e o futebol positivo, de posse, imposto por Miguel Cardoso e prejudicado pela saída a meio de Rúben Ribeiro. Destaque para Francisco Geraldes e João Novais.
Na luta pela ‘ilusão’ europeia, esteve também o Marítimo, de Daniel Ramos, que pagou caro os nove jogos sem ganhar entre a 15.ª e a 23.ª jornadas, e acabou ultrapassado sobre a meta pelo Desportivo de Chaves, muito bem com Luís Castro.
Uma das maiores deceções, foi o Vitória de Guimarães, que, depois do quarto posto pode de 2016/17, resvalou para o nono, longe da Europa. Pedro Martins acabou por perder o lugar, para José Peseiro, num conjunto em que ‘brilharam’ Rafinha, já comprometido com o Sporting, e Hurtado.
Acima dos minhotos, ficou o Boavista, cedo com Jorge Simão no lugar de Miguel Leal, e com Yusupha a mostrar-se, e, abaixo, o Portimonense, que fechou no 10.º lugar, com Vítor Oliveira a mostrar que pode fazer mais do que subir equipas, com a preciosa ajuda de Fabrício e Nakajima.
Em 11.º, ficou o Tondela, que Pepa salvou longe do fim, após um histórico triunfo por 3-2 na Luz, face ao Benfica. Destacaram-se Tomané e Miguel Cardoso, à frente, e o ‘veterano’ Ricardo Costa, atrás.
O Belenenses, que melhorou com Silas em vez de Domingos, foi 12.º, com vários ‘highlights’, em especial o 2-0 ao FC Porto e o 1-1 com o Benfica.
Apesar de ter vivido uma época complicada, com três treinadores, o Desportivo das Aves, que acabou com José Mota, conseguiu a primeira manutenção da sua história e ainda pode acabar a época na Europa, vencendo a Taça de Portugal.
No último dia, a fechar, salvaram-se o Vitória de Setúbal, com José Couceiro a anunciar o adeus, após o 1-0 ao Tondela, o Moreirense, de Petit, mesmo derrotado na Luz, e o Feirense, de Nuno Manta Santos, ao empatar em casa com o Estoril Praia.
Pelo contrário, caíram o Paços de Ferreira, surpreendentemente, após 13 épocas consecutivas entre os ‘grandes’, e o Estoril Praia.
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