“Talvez tivesse um futebol muito vertical nos primeiros tempos, mas, nos últimos anos, a vertente tática está muito evoluída e presente nas questões estratégicas da equipa. Isso vê-se nos jogos de exigência maior, nos quais conseguiu, por exemplo, desbloquear o ‘3-4-3’ do Rúben Amorim [técnico do Sporting] com grande competência ou adaptar-se à variabilidade tática típica da Liga dos Campeões”, explanou à agência Lusa o ex-médio.
O antigo avançado internacional português Sérgio Conceição conquistou o terceiro título de campeão nacional na quinta época no comando do FC Porto, clube pelo qual já tinha vencido também uma Taça de Portugal e duas Supertaças, num total de 270 encontros.
“É uma época fantástica do FC Porto e muito agradável para os seus adeptos, com um futebol bom e dominante em praticamente todos os jogos. Pode ter ficado qualquer coisa por fazer a mais nas provas europeias, mas foi visível nas conferências de imprensa a forma como ele passava a mensagem de que não dava para mais. O título está bem entregue e toda a estrutura, incluindo treinador e jogadores, está de parabéns”, notou.
A constante mutação entre as estruturas de ’4-4-2’, ‘4-3-3’ e ‘4-2-3-1’ leva Rui Duarte a considerar que viu os ‘dragões’ ao longo desta época “muito mais preocupados em implementarem coisas de acordo com a tendência de evolução do jogo e das equipas”.
“O Sérgio Conceição já tem cinco anos à frente da equipa e obviamente esta cresce. Há sempre que acrescentar coisas novas, uma vez que também corria o risco de entrar num momento de passividade, que depois pode ser má. Acho que ele tem sido inteligente a trazer coisas que acrescentem valor a nível físico, tático e estratégico à equipa”, frisou.
O ex-médio, de 43 anos, recorda essa predisposição de Sérgio Conceição mal lançou o seu percurso de treinador principal no Olhanense, então na I Liga, em janeiro de 2012, com a “meta clara” de “estabilizar e criar impacto nos resultados para chegar lá acima”.
“A preparação da semana era toda direcionada para aquilo que se vai encontrar no jogo. Havia muita qualidade no treino. Tudo era feito ao pormenor e com uma identidade muito forte em cada exercício. Para mim, foi uma lufada de ar fresco. Chegávamos ao jogo e estávamos completamente identificados”, detalhou o então ‘capitão’ do clube de Olhão.
Sérgio Conceição, na altura com 37 anos, rendeu o luso-moçambicano Daúto Faquirá e estreou-se pelos algarvios com uma derrota ante o Marítimo (1-2), na 14.ª jornada da I Liga, ‘selada’ com golos do tunisino Selim Benachour e do brasileiro Danilo Dias, contra um de Rui Duarte, de penálti, que distinguiu “um impacto positivo” na transição técnica.
“O treinador queria sempre mais e também nos estimulava a querer mais como grupo e a nível individual. A exigência que passava a cada jogo e semana era incrível. Não havia limites. Só para dar um exemplo: se pensávamos que a exigência iria baixar por termos ganhado um jogo, sucedia precisamente o contrário. A exigência ainda era maior”, ilustrou.
O Olhanense era 10.º classificado, com 14 pontos, três acima da zona de descida, mas viria a acabar a temporada em oitavo, com 39, enquanto o treinador conimbricense, que fora adjunto nos belgas do Standard de Liège (2010/11), cimentava relações no banco.
Da atual equipa técnica do FC Porto, os adjuntos Vítor Bruno e Siramana Dembelé e o treinador de guarda-redes Diamantino Figueiredo acompanharam Sérgio Conceição nas estadias seguintes na Académica (2013-2014), Sporting de Braga (2014/15), Vitória de Guimarães (2015/16), nos franceses do Nantes (2016/17) e FC Porto (desde 2017/18).
“Desde o início, são pessoas da sua confiança. No início, Vítor Bruno nem era o número dois. Entrou como preparador físico e tinha à-vontade no treino e um grande conhecimento do jogo. Cresceu e hoje é o braço-direito do Sérgio Conceição. Todos gostavam dele, uma vez que era muito interventivo, assertivo e competente”, rebobinou.
Se o francês Siramana Dembelé, com quem partilhou balneário como jogador em Liège (2005/06 e 2006/07), “é uma pessoa muito atenta a pormenores e questões estatísticas”, Diamantino Figueiredo “tem conhecimento e competência elevada” no treino de baliza.
“Tenho a minha identidade e não tenciono copiar ninguém, mas o Sérgio Conceição é obviamente uma referência. Está aos olhos de toda a gente a sua competência. Orgulho-me de ter sido treinado por ele. Trouxe-me coisas distintas, que naturalmente passaram para o meu lado de treinador”, reconheceu Rui Duarte, que deixou de jogar em 2014/15.
Sérgio Conceição, de 47 anos, pode tornar-se o único treinador da história do FC Porto a repetir a ‘dobradinha’, se vencer a Taça de Portugal ante o Tondela, mas o antigo médio, que deixou em novembro de 2021 o leme do Trofense, da II Liga, projeta voos maiores.
“Liga dos Campeões? Creio que é uma ambição sincera, verdadeira e exequível na sua cabeça. Se for no FC Porto, tudo é possível com esta exigência e foco, mas a vida dos treinadores não se faz toda no mesmo clube. Embora tenha uma ligação muito forte ao clube, sabendo que cumpriu a sua missão, acredito que queira partir para outro desafio e esteja a pensar em novas possibilidades para ambicionar outro tipo de títulos”, afiançou.
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