O FC Porto estava obrigado a ganhar, sabia-o, mas não ganhou. Sem qualquer margem de erro, ao dragão só um cenário interessava, mas parece ter-se esquecido disso quando entrou em campo. Na segunda parte, os azuis e brancos lá acordaram, estiveram melhores, mas deixaram-se adormecer, novamente, no últimos minutos. Pode queixar-se apenas de si mesmo, depois de um hino ao desperdício a que os homens da frente não ficam imunes de responsabilidades.
Depois de uma conquista épica na Liga do Campeões durante a semana, os dragões derrapam com estrondo em Barcelos e podem ter hipotecado, em definitivo, a luta pelo título. A somar a tudo isto, na próxima jornada, não esquecer, o FC Porto recebe o Benfica, agora 9 pontos de distância.
'Sr. Champions' no banco, Iván Jaime titular na Liga quase três meses depois
O FC Porto chegava a Barcelos com a confiança reforçada, e de que maneira, depois de um importante e estimulante triunfo europeu diante do Arsenal. É certo que o golo de Galeno frente aos 'gunners' chegou só nos descontos, mas a exibição robusta sustentada numa tremenda lição tática oferecerem aos dragões um balão de oxigénio para compensar a falta de ar em alguns jogos dentro de portas. Vencer era obrigatório. À frente estava, e ainda estão, agora mais, Benfica e Sporting. Atrás, que agora se poderá aproximar, o SC Braga, quarto colocado, que apenas joga na segunda-feira, no terreno do Boavista, no fecho da ronda.
Pela frente, a equipa azul e branca encontrava um tranquilo Gil Vicente, na 11.ª posição da I Liga. Os gilistas, que vinham de três derrotas consecutivas - Benfica, Vitória FC e Vizela - prepararam a receção ao FC Porto entusiasmados pelo regresso aos triunfos na última partida, na Amoreira, diante do Estoril (3-1).
Nos dragões, a grande surpresa no onze inicial foi a ausência de Galeno, o Sr. Champions, que deu lugar a Iván Jaime. O espanhol não era titular na Liga desde a 13.ª jornada, frente ao Casa Pia. Mas também foi surpresa a troca de Nico González por Eustáquio, no meio-campo. Wendell, que saiu com queixas no duelo europeu, manteve a titularidade.
Zaidu, Marcano e Taremi foram baixas. No Gil, Vítor Campelos não pôde contar com os lesionados Depú, Kiko Pereira e Zé Carlos. O técnico gilista fez uma mudança face ao triunfo na visita ao Estoril: saiu Maxime Dominguez (começou no banco) e entrou Martim Neto, que regressou após castigo (tinha visto o quinto cartão amarelo na receção ao Vizela).
Apatia pós-Champions depois de um começo aos solavancos
A festa começou em silêncio, com um minuto de homenagem a Artur Jorge, antigo selecionador nacional e treinador responsável pela conquista da Taça dos Campeões Europeus, em 1987, à frente do FC Porto. "A chama de Viena estará sempre acesa. Até sempre, Artur Jorge", lia-se na tarja da claque Coletivo 95.
De seguida, praticamente assim que começou a partida, um problema técnico obrigou os jogadores de ambas as equipas a trocarem a bola para não arrefecerem, enquanto a equipa de arbitragem procurava resolver o imbróglio técnico, aparentemente por causa de uma falha na comunicação. Passados cinco minutos, problema resolvido, bola ao solo, e lá arrancou a partida (verdadeiramente).
Até aos 15 minutos, nenhuma ocasião de golo. O FC Porto tinha mais posse, mas sem criar quaisquer ocasiões de perigo. Por esta altura, a chuva que caiu durante todo o dia dava tréguas e o relvado apresentava-se na sua plenitude.
A primeira vez que o Gil Vicente se aproximou da baliza dos dragões foi na sequência de um canto, já perto dos 20 minutos. Rúben Fernandes apareceu ao segundo poste nas alturas, mas Pepe deu conta do recado, apesar de ter ficado visivelmente combalido após um choque de cabeças. Seguia-se mais um longo período de paragem para assistir o experiente central portista, que passou o resto do jogo a jogar com uma touca. Quanto ao lance, a bola saiu ao lado, mas ficava o primeiro aviso de perigo para os da casa.
O jogo seguia morno, até sonolento, e só aos 25 minutos o FC Porto conseguiu rematar à baliza de Andrew, por intermédio de Evanilson, após assistência de Francisco Conceição. O remate, na zona central da área, saiu fraco e desenquadrado com a baliza. Chegávamos à meia-hora sem qualquer remate à baliza de ambas as formações.
O primeiro enquadrado surgiu só aos 36 minutos e com muito perigo, o único real até então. Grande arrancada de Wendell pela esquerda, que tentava encontrar Evanilson na área. Valeu a atenção de Andrew, que num enorme reflexo evitou o golo dos portistas.
O jogo animava e do outro lado respondia o Gil. Pela esquerda, Touré fletiu para dentro e rematou em arco. A bola saiu por cima, mas a equipa da casa deixava a resposta (possível) à primeira ocasião da equipa de Sérgio Conceição. A formação da casa animava-se, pegava mais no jogo, e acercava-se da área de Diogo Costa, embora os dragões mantivessem sempre a boa organização defensiva.
Do banco azul e branco, a cinco minutos do fim da primeira parte, Sérgio Conceição fazia saltar para aquecimento quatro jogadores, um deles Galeno, o que motivou um enorme aplauso da bancada.
Aos 42 minutos, gritou-se golo em Barcelos. Canto batido, golo de Eustáquio, mas Fábio Veríssimo assinalou falta de Wendell sobre o guardião gilista.
Até ao final do primeiro tempo, dois lances a registar, ambos com origem em excelentes iniciativas de Francisco Conceição - o mais inconformado da equipa portista até então. Primeiro a driblar a defesa dos galos na direita, a entregar a Evanilson, que tentava colocar em Iván Jaime. Valeu Alex Pinto, a evitar o cabeceamento do espanhol. Logo de seguida, depois de uma enorme aceleração do lado esquerdo do ataque, o extremo portista descobriu Eustáquio no meio da área. Valeu o corte 'in extremis' do central Gabriel Pereira, a chegar primeiro que o médio luso-canadiano.
Os primeiros 45 minutos chegavam ao fim praticamente sem história e com Sérgio Conceição a dirigir-se para o túnel visivelmente desagradado.
Quem não marca, sofre. Não é assim?
Após o intervalo, surpresa no onze portista com Alan Varela a sair para dar lugar a Grujic. O jogo recomeçou com um FC Porto aparentemente mais enérgico e logo no primeiro minuto Eustáquio cabeceava com algum perigo após cruzamento de Francisco Conceição (quase sempre ele). Ainda assim, Andrew encaixou com facilidade.
Nem cinco minutos depois, Iván Jaime acordava finalmente depois de uma primeira parte estranhamente apagado. Remate de meia distância para uma boa defesa do guarda-redes brasileiro. A equipa portista animava-se e voltava a criar perigo na sequência do canto, num lance algo atabalhoado após uma jogada bem trabalhada.
Era um FC Porto completamente diferente, sufocante, com uma pressão altíssima e a nova versão do dragão traria frutos através de uma grande penalidade. Mão de Gbane na grande área do Gil Vicente e Fábio Veríssimo não teve quaisquer dúvidas, ao assinalar prontamente para a marca dos onze metros. Evanilson encarregou-se de bater a grande penalidade e não falhou, mas só na recarga. 20.º golo esta época para o brasileiro, 10.º na Liga.
O FC Porto galvanizava-se, e de que forma, com uma sequência de oportunidades em poucos minutos. Do outro lado, completamente contra a corrente do jogo, o Gil dava sinal de vida com um perigoso remate de Pedro Tiba. O médio gilista testava a sua meia distância e rematava em jeito, com Diogo Costa a controlar.
Quase sem tempo para respirar, Francisco Conceição, novamente, rematava em jeito com a bola a passar muito perto do poste esquerdo da baliza de Andrew. O jogo mantinha a entoada veloz e José Torres esteve perto do empate. Boa desmarcação, sempre na perseguição de Otávio e Wendell, mas o remate acabou por sair por cima.
Aos 68 minutos, Sérgio Conceição chamava Galeno para o lugar de Iván Jaime.
O FC Porto continuava por cima, mas o resultado era curto. Longe de estar confortável, o emblema portista via o Gil chegar-se, não raras vezes, à baliza de Diogo Costa.
Aos 75 minutos, o FC Porto esteve próximo do segundo golo. Gabriel Pereira evitou a estreia de Otávio a marcar pelos azuis e brancos, ao desviar por cima da trave um remate perigosíssimo do central dos dragões.
Até ao final, o jogo esteve ligado à ficha. Evanilson falhou o segundo na cara de Andrew e seria o Gil Vicente a sorrir na reta final graças a Thomas Lopes. O lateral direito surgiu ao segundo poste e marcou de cabeça após um cruzamento largo de Buta. Diogo Costa ficou na expetativa perante a proximidade de Wendell no lance, mas o defesa esquerdo brasileiro não se faz ao lance e o Gil Vicente chegou mesmo ao empate.
Balde de água fria para os azuis e brancos, que voltam a escorregar no campeonato, antes da receção ao Benfica no Dragão, no próximo fim-de-semana. Os portistas estão agora a 9 pontos dos encarnados e a 7 do Sporting, que tem menos um jogo.
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