A ex-eurodeputada Ana Gomes e o diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), Luís Neves, vão ser hoje ouvidos em tribunal como testemunhas arroladas pela defesa de Rui Pinto em mais uma sessão do julgamento do processo ‘Football Leaks’.
Entre as dezenas de pessoas chamadas a depor pelos advogados do criador do ‘Football Leaks’, no Tribunal Central Criminal de Lisboa, a antiga eurodeputada e ex-candidata presidencial é, porventura, um dos rostos mais mediáticos e aquele que mais ativamente se envolveu no apoio ao principal arguido do processo, não só pelas suas revelações sobre o mundo do futebol, mas também por ter estado na origem das informações que originaram depois o caso ‘Luanda Leaks’.
Além de muitas intervenções públicas em defesa de Rui Pinto, Ana Gomes chegou a visitá-lo na prisão, em abril de 2019, onde lhe entregou inclusivamente o prémio europeu para denunciantes. Entre os elogios às capacidades informáticas do jovem e ao seu empenho nas denúncias de hipotéticos casos de corrupção, a ex-eurodeputada foi sempre muito crítica das autoridades portuguesas por não procurarem mais cedo a colaboração com Rui Pinto.
Entretanto, no ano passado foi assumida uma colaboração entre o criador da plataforma eletrónica e a PJ, algo que já ocorreu sob a liderança de Luís Neves enquanto diretor nacional da instituição. O responsável máximo da Judiciária admitiu em maio de 2020 que Rui Pinto alterou o seu comportamento e que ajudou a desencriptar os discos rígidos apreendidos.
A questão da colaboração com as autoridades será, por isso, uma das maiores curiosidades em relação ao testemunho de Luís Neves. Depois de abrir a possibilidade a um cenário de delação premiada, o diretor da PJ chegou a criticar o sistema processual penal português, na medida em que este “pode levar a que a única pessoa que colabora com a justiça possa vir a ser a única que é condenada”, e lamentou “o cinismo e a hipocrisia” existentes.
A sessão tem início a partir das 09h30 no Campus da Justiça, em Lisboa, com os depoimentos de Ana Gomes e Luís Neves agendados para de manhã. Já para a tarde estão previstas as audições do advogado suíço Philippe Renz, que fez uma denúncia ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) sobre situações de dupla representação de empresários de futebol, e do denunciante Antoine Deltour, que esteve na origem do caso ‘Luxembourg Leaks’.
Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.
Comentários