O antigo líder da claque Juventude Leonina, Fernando Mendes, foi hoje ouvido na condição de arguido no julgamento da invasão à academia do clube, em Alcochete, que decorre no tribunal de Monsanto, em Lisboa.

Perante a juíza, Fernando Mendes começou por falar sobre os incidentes no aeroporto da Madeira. "Acuña fez um manguito e esse gesto indignou-me. Fui ao aeroporto do Funchal para reportar esse ato a Jorge Jesus. Acuña, ao aperceber-se que eu estava a falar dele, com o Jorge Jesus, chegou-se e chamou-me filho da p... Eu estava alcoolicamente satisfeito, disse-lhe: 'Filho da p... és tu'", contou, acrescentando que combinou com Jorge Jesus conversarem na academia: "Falamos em nossa casa".

Questionado sobre os telefonemas para o ex-presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, o antigo líder da Juventude Leonina afirmou ter ligado para explicar o que ocorrera com Acuña.

“Na primeira chamada era para dizer o que tinha ido fazer ao aeroporto da Madeira. Estava também ligeiramente alcoolizado, mas isso não justifica tudo. Fui lá, estava exaltado e quis justificar o porquê ao presidente do meu clube. No segundo telefonema, já estava no meu hotel, não sei o que disse. Com todo o respeito pelo Bruno de Carvalho, era uma ‘conversa de bêbedos’. Nem sei se o ofendi e, se o fiz, até lhe peço aqui desculpa”, afirmou.

Fernando Mendes explicou de seguida que apanhou boleia de Tiago Silva para o levar à Academia de Alcochete no dia da invasão.

"Passamos pelo Campus de Justiça para dar boleia ao Bruno Monteiro que também tinha pedido boleia ao Tiago para ir à Academia. Quando chegámos a Alcochete fomos diretos ao estacionamento do Lidl, onde estavam dois ou três carros, um monovolume. Conhecia o Joaquim Costa e o Getúlio. Não me apercebi de nada", garante Mendes.

De seguida, o antigo chefe da Juve Leo recordou o que aconteceu já dentro da academia, quando encontrou o treinador do Sporting. "Vejo o Jorge Jesus a dizer: 'oh Fernando, oh Fernando, ajuda-me!' Jorge Jesus colocou a cabeça dele no meu ombro e disse-me: 'Salva-me!' Estava em estado de choque, levou com aquilo tudo, é normal em qualquer ser humano. Tinha uma lesão na cara. Eu disse: ‘Não sei de nada disto, vim aqui para falar consigo’. Ele estava extremamente nervoso", revela.

Mendes explicou ainda que o dono do BMW azul, Nuno Torres, foi com Bruno Jacinto buscar o carro ao parque de estacionamento do Lidl. "Eu saio com o Joaquim Costa no carro do Nuno Torres, mas regresso a Lisboa na carrinha sozinho com o Joaquim Costa".

Já à porta da academia, "o Getúlio pergunta-me 'Fernando, há algum problema?' E eu respondo: 'Não, não há problema!' Eu vi-os todos a correr e pensei: 'Vão a correr para quê? Vão ter de parar para se identificarem à entrada...' O Tiago estava perto, mas fui cumprimentando pessoas e perdi o paradeiro do Tiago. Entrei de cara destapada. Quem não deve, não teme", concluiu.

"Eu se soubesse o que aconteceu nem à Madeira tinha ido. Porque isto é inaceitável, isto não pode acontecer. Que seja a primeira, a última e a única", referiu, acrescentando que foi "à Academia exclusivamente para terminar a minha conversa com o Jorge Jesus e para reiterar o apoio à equipa. Não tinha nada a ver com o discurso do Acuña".

O processo da invasão à Academia tem 44 arguidos, acusados de coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Bruno de Carvalho, Nuno Mendes ‘Mustafá’, atual líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.

*Atualizado às 17h06