O Benfica sagrou-se campeão nacional, ao golear o Santa Clara por 4-1, na 34.ª e derradeira jornada da I Liga. Mas este foi um título que já estava quase perdido.
À 15.ª jornada da Primeira Liga 2018/2019, poucos eram os benfiquistas que ainda sonhavam com o título. A derrota em Portimão, com dois autogolos dos defesas centrais Rúben Dias e Jardel atirava os 'encarnados' para o quarto lugar da prova, com 32 pontos, a sete do líder FC Porto. Estávamos no segundo dia do ao de 2019 e a época do Benfica parecia perdida: a Liga dos Campeões já era (3.º lugar no Grupo B), a tão desejada reconquista parecia uma miragem.
Luís Filipe Vieira aguentou Rui Vitória enquanto pode. Aguentou para lá do esperado. Depois da goleada sofrida em Munique com o Bayern e consequente eliminação na Liga dos Campeões, o presidente do Benfica, após reunião com a estrutura, tinha decidido despedir o técnico mas, uma 'luz' fê-lo voltar a trás na decisão e manter a confiança no técnico ribatejano, muito contestado pelos adeptos. Mas após Portimão, Vieira tinha de tomar uma decisão. E não podia voltar a ter segundas luzes.
Quando Rui Vitória deixou o Benfica, a equipa estava no quarto lugar da I Liga com 32 pontos em 15 jogos, frutos de dez vitórias, dois empates e três derrotas, 31 golos marcados e 15 sofridos. Era a pior pontuação do clube nos últimos 10 anos, um valor pouco acima do de Quique Flores, em 2008/09, quando o Benfica do técnico espanhol somava 30 pontos.
O empate caseiro na 3.ª jornada frente ao Sporting até nem era assim tão mau (frente a um rival) mas o 2-2 frente ao Desportivo de Chaves deixava a nu algumas fragilidades do futebol dos 'encarnados'. Já havia sinais de desgaste da gestão de Rui Vitória, atenuadas na ronda seguinte com a vitória caseira frene ao FC Porto. Mas as duas derrotas seguidas, com Belenenses por 2-0 fora e 3-1 na Luz com o Moreirense, deixaram o técnico numa posição muito desconfortável.
Seguiram-se cinco vitórias seguidas, a mais importante das quais em casa com o SC Braga por 6-2 na 14.ª jornada, num jogo onde o Benfica parecia 'encarrilhar' finalmente nas boas exibições e vitórias convincentes.
Na ronda seguinte, o futuro de Rui Vitória ficaria selado, após derrota em Portimão, naquela que seria a quinta chicotada psicológica na época 2018/2019.
O técnico de 48 anos enriqueceu a sala de troféus do Benfica com os títulos nacionais de 2016 e 2017, que completaram a sequência do ‘tetra’, iniciada por Jorge Jesus, campeão nos dois anos anteriores, ao qual sucedeu no comando dos ‘encarnados’. Conquistou também uma Taça de Portugal (2017), uma Taça da Liga (2016) e duas Supertaças (2017 e 2018), mas não resistiu ao falhanço do ambicionado ‘penta’, à perspetiva de uma nova época em ‘branco’ no campeonato – a atual - e ao estrondoso fiasco europeu nas duas últimas temporadas.
Mas Rui Vitória fez também do Benfica a pior equipa portuguesa de sempre na Liga dos Campeões, ao terminar a fase de grupos de 2016/17 sem qualquer ponto, e fica ligado a duas das piores derrotas europeias de sempre, a últimas das quais em Munique, por 5-1.
Esta seria a terceira vez que Luís Filipe Vieira mudava de treinador a meio da época no Benfica. A última sucedeu em 2007/2008, quando Fernando Santos, atual selecionador luso, foi substituído pelo espanhol José Antonio Camacho e este por Fernando Chalana, que comandou a equipa até final da época.
Antes, tanto Chalana como Camacho já tinham sido apostas de Vieira no decorrer de uma temporada. Em 2002/2003, Jesualdo Ferreira saiu após a eliminação caseira da Taça de Portugal aos ‘pés' do secundário Gondomar e o antigo extremo orientou o conjunto da Luz até à chegada do treinador espanhol.
De resto, em nenhuma das referidas épocas as ‘águias' tinham conseguido vencer o campeonato nacional, algo que, aliás, vinha a ser uma regra na Luz. Nas 14 temporadas em que mudaram de técnico com o campeonato em andamento, só numa delas o Benfica tinha arrecadado o troféu. Bruno Lage quebrou essa tradição e passou a ser o segundo a vencer o campeonato depois de pegar na equipa com a época em andamento.
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