Com a oficialização da previsível retoma do campeonato, José Neto pergunta se terão sido "criadas condições suficientemente capazes para dizer que a verdade da competição vai existir" e defende que as alterações "altamente significativas" nas regras representam uma submissão aos interesses económicos.
"Eu gosto e queria ver futebol, mas é preciso apurar algumas condições. Há uma ordem económica que se está a sobrepor a uma ordem competitiva e aos princípios que devem existir na vida em desporto: igualdade de critérios, liberdade e responsabilidade eclética", disse José Neto, em declarações à agência Lusa.
O raciocínio deste docente universitário de Paços de Ferreira, doutorado em Ciências do Desporto/Futebol e formador de treinadores, assenta no princípio de que não é possível impor nos treinos regras de distanciamento que, depois, não são aplicáveis na competição, o que até "pode gerar algum medo e desequilíbrios de ordem emocional e funcional [nos jogadores]".
"O mais lógico, na minha perspetiva, era parar, [as entidades] faziam a sua profilaxia de acordo com o momento, os atletas começavam a ir mais cedo para as suas férias, depois, com tempo, e o tempo é sempre bom conselheiro, regressavam. E, se não fosse possível fazer tudo até outubro, terminavam a época em dezembro", sublinhou.
Nesta perspetiva, José Neto diz que "havia até tempo para dar uma miniférias aos jogadores, se possível na altura do Natal, uma semana ou 10 dias, realizar uma mini pré-época em meados de janeiro e recomeçar, depois, forte", realizando o campeonato e a época no ano civil, de janeiro a dezembro, em vez de agosto a maio do ano seguinte, como agora acontece.
"Ouvi isto do Iker Casillas [antigo guarda-redes espanhol do FC Porto] e, realmente, nunca tinha pensado nisso. Organizava-se tudo, mas também temos tempo para estudar as coisas, e é evidente que tinha de haver uma linha de organização impedindo, por exemplo, a realização de novos contratos enquanto não terminar a época. E a época só termina quando houver condicionantes ótimas para terminar", defendeu.
José Neto reconhece que esta calendarização pede "decisões pensadas com rigor e sem dor" e "modificações estruturais de cima para baixo", envolvendo à cabeça UEFA e FIFA, mas receia que a sua aplicabilidade esbarre nos interesses económicos.
"Não sendo possível ajustar as condições ideais ou idênticas às que funcionavam antes de a prova ser interrompida, não me repugnava que fizessem como em França, dando por terminado o campeonato com as classificações obtidas até essa altura", concluiu.
O Governo definiu na quinta-feira, no plano de desconfinamento da pandemia de covid-19, que a I Liga de futebol e a final da Taça de Portugal vão poder ser disputados, permitindo também desportos individuais ao ar livre.
A retoma da I Liga de futebol, a partir de 30 e 31 de maio, está sujeita a aprovação da Direção-Geral da Saúde (DGS) de um plano sanitário, anunciou o primeiro-ministro, explicando que os jogos vão realizar-se sem a presença de público nos estádios.
O reinício do futebol profissional está limitado ao principal escalão, com a II Liga a não receber ‘luz verde' para poder retomar a competição.
Faltam disputar 90 jogos do principal escalão, que é liderado pelo FC Porto, com um ponto de vantagem sobre o campeão Benfica, assim como a final da Taça de Portugal, que vai opor Benfica a FC Porto.
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