Não era certamente o presente que Pepe mais desejava para o seu 41.º aniversário. O desaire em Barcelos deixa mossa nas aspirações portistas na luta pelo campeonato e o semblante carregado do experiente central no final do jogo não esconde a desilusão de uma época titubeante.
Pepe faz 41 anos - ninguém o dirá - e frente ao Gil Vicente, apesar do empate, ficou uma vez mais evidente que a paixão pelo futebol, e já agora pelo FC Porto, insiste e persiste. Na sequência de um choque de cabeças com Rúben Fernandes, no primeiro quarto de hora da partida, o capitão portista foi obrigado a jogar de touca o resto do encontro por causa do sangue que caía abundantemente. No final do jogo, até em jeito de recado, Sérgio Conceição dava Pepe como exemplo, algo que faz regularmente pelos mais diferentes motivos.
"Deixar a alma em campo? O Pepe levou 12 ou 15 pontos na cabeça e foi lá para dentro", disse o técnico portista antes de lembrar que não se pode jogar de pantufas, mas sim de pitons de alumínio. Haverá melhor representação da fibra de que é feito o quarentão?
Há dias, depois do triunfo sobre o Arsenal - jogo em que se tornou o mais velho de sempre a disputar uma fase a eliminar na Liga dos Campeões (com 40 anos, 11 meses e 26 dias), Rio Ferdinand, antigo central que tem apenas mais 5 anos que Pepe, perguntava-lhe: "Como é que ainda fazes isso?". E é, de facto, a pergunta que todos fazemos. A questão é unânime, goste-se mais ou menos, seja entre adeptos do FC Porto, do Benfica ou do Sporting. Ninguém fica indiferente à disponibilidade física de Pepe, que tem respondido à idade com o valioso uso da sua experiência, apenas a espaços melindrado com uma ou outra lesão, que ultimamente tem dado tréguas.
A poucos meses do Euro 2024, o terceiro jogador mais internacional por Portugal espreita um lugar na convocatória para aquele que será, provavelmente, o último Europeu de Pepe. Pela seleção já disputou quatro Mundiais e quatro Europeus, tendo contrinbuido decisivamente para as conquistas do Euro 2016 e da Liga das Nações de 2019.
Pelo FC Porto o ano não corre de feição, mas ainda há títulos para ganhar. Voltar a chegar ao Jamor é um dos objetivos da época para o capitão, que terá na 2.ª mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões a possibilidade de reforçar o estatuto de um FC Porto cada vez mais respeitado na Europa.
Os números de Pepe são, de facto, admiráveis. E é o próprio clube portista a relembrá-los, numa nota no seu site em que assinala o aniversário do seu capitão. "Em 23 épocas desportivas, somou 745 jogos de clubes, marcou 43 golos e ganhou três Ligas dos Campeões, três Taças Intercontinental/Mundial de Clubes, uma Supertaça Europeia, quatro Ligas portuguesas, quatro Taças de Portugal, três Supertaças de Portugal, uma Taça da Liga de Portugal, três Ligas espanholas, duas Taças do Rei e duas Supertaças de Espanha". Títulos para todos os gostos e feitios.
Nascido a 26 de fevereiro de 1983 em Maceió, no Brasil, Képler Laveran de Lima Ferreira, mais conhecido por Pepe, chegou a Portugal aos 18 anos proveniente do Corinthians Alagoano. A 12 de abril de 2002 estreou-se pelo Marítimo, já com 19 anos, diante do Boavista. Em 2004 já estava no FC Porto, depois do Sporting ter falhado a sua contratação. Três anos depois seguia para o Real Madrid por 30 milhões, um balúrdio à data. Passou também pelo Besiktas até regressar ao ponto de partida, a 8 de janeiro de 2019, quase 12 anos depois.
De lá para cá, e com duas renovações pelo meio - terão sido as últimas? - Pepe venceu dois campeonatos, duas Supertaças, três Taças de Portugal e uma Taça da Liga.
Antes, na primeira passagem pelos dragões, sagrou-se campeão nacional duas vezes (2005/2006 e 2006/2007), conquistou uma Taça de Portugal (2006), três Supertaças (2004, 2006, 2007) e uma Taça do Mundo, em 2005.
Nem o próprio imaginaria o que lhe esperava, quando em 2002 chegou à Madeira com cinco euros no bolso, história que o próprio já contou em diversas ocasiões. Agora, no bolso, carrega mais dinheiro (seguramente), e sobretudo a certeza de que, a jogar assim, no tal bolso (necessariamente mais folgado) haverá ainda espaço para novas conquistas- pessoais e coletivas-, pelo FC Porto e, quem sabe, por Portugal.
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