A centralização dos direitos televisivos da I Liga de futebol, que os clubes querem antecipar para 2023/24, deve acontecer “quanto mais cedo melhor”, mas “já vai muito tarde”, explicou o especialista em marketing desportivo Daniel Sá.
Em declarações à agência Lusa, o docente universitário e diretor executivo do Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM) vê esta intenção dos clubes, anunciada na terça-feira na Cimeira de Presidentes, como sendo “excelentes notícias”, até porque Portugal é “a última das grandes ligas europeias a dar este passo”.
“Há aqui uma matriz legal complexa, mas que pode obviamente ser antecipada se houver acordo. Se isso for possível, e quanto mais cedo melhor, toda a gente vai ganhar”, acrescenta.
Para o especialista, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) fica a ganhar porque pode “seguramente conseguir mais receitas ao vender o pacote completo”, negociando “um valor mais alto” e projetando o campeonato em termos internacionais.
Uma outra vantagem, esta para os clubes, prende-se com um ‘bolo’ maior que garante que “todos vão receber mais receitas no futuro do que recebiam até agora”, o que quer dizer “melhores plantéis, mais qualidade, melhores treinadores e mais profissionais nas diferentes estruturas” no seio da organização.
“A última grande vantagem que eu vejo, um pequeno grande pormenor, é a diminuição do fosso entre o clube que mais recebe com o que recebe menos. A diferença neste momento é de 1 para 15, o que recebe mais consegue 15 vezes mais do que o que recebe menos, quando em Inglaterra, com 20 anos consolidados do processo, a diferença é de um para três”, analisa.
Por fim, também os adeptos ficam a ganhar, dada a maior “incerteza” nos resultados, porque “até os que ganham se cansam um bocadinho”, e a Liga talvez possa evoluir de ter apenas “tipicamente três vencedores”, já que “os orçamentos são mais aproximados”, como na Liga inglesa.
Ainda assim, Daniel Sá considera que “não é possível à data de hoje estimar exatamente quanto vai gerar o primeiro contrato coletivo, e quanto dará a cada clube”, mas se as negociações tiverem os mesmos resultados das ligas que já o fizeram, o caminho é positivo.
“Os números são indiscutíveis: todos eles cresceram brutalmente, pelo bolo total e pelo bolo individual”, resume.
Provavelmente, aponta ainda, Portugal poderá aproximar-se das chamadas ‘big 5’ europeias, ou seja, as ligas inglesa, espanhola, italiana, alemã e francesa, mas “os últimos 20 anos acentuaram muito uma diferença” entre esses países.
“Isso não invalida que a Liga encontre um posicionamento próprio no espaço mundial do futebol. Não tem os melhores, mas é o país que é campeão da Europa, com um conjunto de estrelas, e acaba por ser uma incubadora das próximas grandes estrelas do futebol”, um ponto a explorar na sua comercialização, completa.
De resto, o diretor do IPAM saudou a LPFP e o presidente, Pedro Proença, por “finalmente haver luz ao fundo do túnel”, após um “trabalho de muita gente” para insistir na ideia e ultrapassar o habitual “conservadorismo do futebol português nestas coisas”.
A Cimeira de presidentes dos clubes das competições profissionais acordou, na terça-feira, a centralização dos direitos televisivos “no mais curto espaço de tempo possível”, apontando a época de 2023/24, face a um prazo máximo de conclusão, definido por lei, colocado em 2028.
Entretanto, a LPFP já tinha criado uma empresa, a Liga Centralização, para a operacionalização do processo e negociação com operadoras.
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