Os casos de violência no futebol “prejudicam” a viabilidade económica da indústria em torno da modalidade, disse hoje à agência Lusa a docente universitária Maria José Carvalho, desde o afastamento de patrocinadores ao público.

Na opinião da docente da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), em que integra a Comissão de Ética, “é evidente” que os casos fragilizam a economia do setor, tanto no público como nos patrocinadores, que gostam “de estar associados a algo que acrescente valor ao seu negócio” e não a algo “que o vá destituir de grandeza”.

“Há exemplos de patrocinadores que têm resolvido os contratos com equipas ou atletas por determinadas práticas que são contrárias aos seus valores, como por exemplo no doping, em várias modalidades”, explicou.

Ao nível do público, casos como os insultos racistas que sofreu domingo Marega (FC Porto) na visita ao Vitória de Guimarães, o ataque à academia do Sporting em Alcochete ou o rebentamento de petardos, por exemplo, podem afastar os adeptos dos estádios.

“Obviamente que, quando há problemas deste género, muitas pessoas dizem que não vão ao estádio, que não levam as crianças. Durante muitos anos não fui ao futebol por ter estado no jogo do ‘verylight’”, acrescentou, referindo-se à morte de um adepto do Sporting na final da Taça de Portugal de 1996, pelo rebentamento de um destes engenhos pirotécnicos.

Também José Neves, da Universidade Nova de Lisboa, vê este tipo de casos como "um obstáculo, para patrocínios e mais diretamente na bilheteira", tanto para "públicos novos" a quem seria vendido "um espetáculo relativamente pacífico" e encontra, por exemplo, o "rebentamento de petardos", algo a que um adepto frequente "já está habituado".

"O principal problema, do ponto de vista da viabilidade mercantil do futebol em Portugal é, primeiro, a posição relativamente subalterna da economia do país no contexto europeu, e depois a grande desigualdade interna", diagnosticou o investigador, que vê "três grandes clubes" destacados do resto mas mesmo entre eles com várias diferenças de poderio económico.

A falta de vontade de "estabelecer um pacto de liga" e fortalecer a competitividade interna também constitui um problema económico para o setor, com José Neves e Maria José Carvalho a concordarem que a falta de distribuição centralizada de receitas televisivas aumenta "a desigualdade da competição", ao contrário da lógica da Liga inglesa, destacou o docente universitário da Nova.

José Neves recorda que a criação da 'Premier League', nos primeiros anos da década de 1990, veio alterar o consumo do futebol nos estádios para continuar a fazer frente ao problema da violência, aí mais centrada no 'hooliganismo', com uma mudança do tipo de públicos, deixando de ser "um desporto de massas" para afastar os escalões socioeconómicos mais baixos dos estádios, que passaram, também, a ter lugares sentados em vez de os adeptos estarem de pé.

Ainda assim, as soluções adotadas no contexto britânico não poderão ser transpostas para Portugal, defende José Neves, por se tratar de introduzir "uma lógica de desigualdade" mas também pela base de apoio popular e lógica de "associativismo" associada ao futebol português, que depende de um "consumo muito mais alargado".

O avançado do FC Porto Moussa Marega recusou-se a permanecer em jogo e abandonou o campo, ao minuto 71, após ter sido alvo de insultos racistas por parte dos adeptos do clube vimaranense, numa altura em que os ‘dragões’ venciam por 2-1 - anotou o segundo golo -, resultado com que terminou o encontro da 21.ª jornada da liga, no domingo.

O Ministério Público instaurou um inquérito na sequência deste incidente, que já mereceu a condenação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa, entre outros.

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